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O Meganegócio Embratel (Parte 1) |
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Autora: Jana de Paula (*) |
Publicação inicial em abril de 2004 Republicado em 29/04/06
O Meganegócio Embratel (Parte 1)
Jana de Paula
A diferença em dólares nos preços propostos para compra da Embratel pelos dois
grupos que disputam o negócio – a mexicana Telmex e o consórcio Calais
(Telefônica, Telemar e Brasil Telecom) – tem sido apontada como ponto nevrálgico
nas negociações que visam a transferência da carrier, hoje em mãos da
norte-americana MCI, para o grupo que vencer a disputa.
Antes que a Corte de Justiça de Nova Iorque bata o martelo, o que está previsto para o dia 27 próximo, muita especulação será feita em torno desta mega-negociação. Mas pouca gente sabe que há mais informações de bastidor do que supõe a nossa vã filosofia.
Uma fonte fidedigna e independente dos dois grupos – e que, por motivos óbvios,
não quer se identificar -, contou ao Portal Alice Ramos.com que a venda da
Embratel à Telmex tem a simpatia de aliados cujo peso pode fazer a diferença na
decisão final da MCI. Entre eles, estaria o próprio Governo Federal, que poderia
fortalecer a participação do BNDES no mercado de broadcasting, sem desembolsar
um tostão.
A equação é simples, a Globo Cabo (da qual o banco detém 25% de participação,
através dos empréstimos feitos à empresa) preservaria o acordo que mantém com a
Embratel para transmissão da programação e, ainda, ganharia fôlego para
recuperar e ampliar mercado, deixando para trás os problemas de administração
que possa ter tido. A contrapartida para a Telmex, acrescenta a fonte, é que,
com a compra da Embratel, ela abre caminho para vir a participar no conglomerado
Globo e adquire maior desenvoltura para atuar em broadcasting no país, segmento
que interessa à holding mexicana.
Sempre segundo o consultor da área de telecom que forneceu as informações, a Net
Cabo ainda não pagou à Embratel a fatura pelo uso do backbone de fibra óptica da
carrier, que interliga as transmissões onde a Net Cabo não tem capilaridade (ou
seja, fora das capitais). É claro que este direito de passagem tem
reciprocidade: a Embratel tem espaço garantido de publicidade nos horários
nobres da programação da emissora.
O respaldo desta possível negociação extra-oficial é a própria força dos grupos
envolvidos. A Telmex, uma das líderes de telecomunicações na América Latina,
investiu US$ 27 milhões nos últimos 12 anos para assegurar crescimento e
modernização de sua infra-estrutura. O resultado é sua atual plataforma
tecnológica, 100% digital, que opera uma rede de fibra óptica de 80 mil
quilômetros e cujas operações se encontram no México, Argentina, Colômbia,
Chile, Peru, Estados Unidos e Brasil (através da Claro).
Na segunda ponta do tripé, o conglomerado Globo. Primeiro, a TV Globo, com sua
indiscutível competência em sobreviver e superar a concorrência. Em seguida, a
Globo Cabo, que segundo a fonte que nos forneceu as informações, começa a dar
sinais significativos de recuperação, em relação ao ano passado, e apresenta
índices positivos de retenção de assinantes e rentabilidade, com estimativas de
crescimento de 5% ao ano, já a partir de 2004. A própria consultoria Booz Allen
& Hamilton recomendou que, mantido o número atual de assinantes (ou seja,
reduzindo drasticamente o churn) e crescendo a uma taxa de 5% ao ano, a Globo
Cabo estaria apta a pagar todas as suas dívidas em 2009.
E, finalmente, fechando o triângulo, a Embratel, cuja carteira de clientes
corporativos é de dar inveja e que possui um dos prefixos de longa distância, o
21, de maior retenção do país, cujo poder só é comparável ao 31 da Telemar. Seu
backbone de dados corporativos é o filé-mignon que as outras três grandes
operadoras cobiçam. Neste hipotético networking, as três envolvidas têm muito a
dar e a receber. E a fonte que nos passou as informações vai mais longe. Sugere
que o ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira, teria dado o aval informal ao
possível acordo. E que esta teria sido uma das razões de seu afastamento do
cargo.
Em meio à enxurrada de boatos e acusações, veladas ou não, que tem se visto (e
lido) no processo de venda da Embratel, este quadro assemelha-se plausível. É
esperar para ver.
Jana
de Paula é jornalista (ECO/UFRJ) e escreve sobre tecnologia desde
1983. Inaugurou a página de informática do Jornal do Commercio/RJ, trabalhou
na extinta revista Info do Jornal do Brasil, fez comentários para o primeiro
programa de rádio sobre informática da cidade, na extinta Rádio Alvorada, foi
editora da RNT no Rio de Janeiro e colaborou com as principais publicações da
área, como WordldTelecom, B2B Magazine, Consumidor Moderno e AliceRamos.com.
Atualmente é a diretora de conteúdo do Thesis (www.instituto-thesis.com.br).
Email:
jana.depaula@instituto-thesis.com.br.