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Parceria em redes móveis já desperta interesse |
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Autora: Jana de Paula |
Jana
de Paula é jornalista (ECO/UFRJ) e escreve sobre tecnologia desde
1983. Inaugurou a página de informática do Jornal do Commercio/RJ, trabalhou
na extinta revista Info do Jornal do Brasil, fez comentários para o primeiro
programa de rádio sobre informática da cidade, na extinta Rádio Alvorada, foi
editora da RNT no Rio de Janeiro e colaborou com as principais publicações da
área, como WorldTelecom, B2B Magazine, Consumidor Moderno e AliceRamos.com.
Atualmente é "owner" e diretora de conteúdo do
Thesis - Tecnologia e Negócios
Email: jana@e-thesis.inf.br
Parceria em redes móveis já desperta
interesse
Publicado inicialmente na RNT – Ano 23 – Nº 271 - Março
de 2002 Republicado em 18/09/06
Sucesso na Europa e Estados Unidos, os operadores de redes móveis virtuais, ou
MVNO (Mobile Virtual Network Operators) absorvem boa parte da demanda de
serviços via celular.
O compartilhamento de freqüências entre uma operadora que queira oferecer
serviços móveis, mas não tenha alocação de banda, e outra que detém o direito
de usar comercialmente parte do espectro de radiofreqüência – conceito básico
do MVNO -, ainda não faz parte dos planos da Anatel. Como lembra Jarbas
Valente, superintendente de serviços privados da agência, hoje os serviços
móveis estão vinculados à outorga de freqüência, e o atual modelo de telecom
não comporta uma operadora que use a rede de acesso da outra.
Nos moldes atuais, a Anatel outorga, por tempo determinado e sem
exclusividade, faixas de radiofreqüência para cada um dos serviços móveis,
como as de 850 MHz para p Serviço Móvel Celular (SMS), de 1,8 GHz para o
Serviço Móvel Especializado (SME) e de 1,9 a 2,1 GHz, para a terceira geração
de celular (3G). Ou seja, só quem compra banda pode vender serviço. “Quem usar
banda de terceiros prestará serviços de maneira clandestina, sem respaldo
regulatório. Esta prática é considerada crime”, adverte Valente.
Mas o superintendente confirma que a agência já recebeu pedidos para
funcionamento de MVNO. Não está descartada, também, a hipótese de a Anatel vir
a considerar o assunto de outra forma. “Se isso vier a ocorrer, será realizada
uma consulta pública, tomando-se as mesmas providências adotadas em relação a
outros serviços”, pondera Valente. Não se pode, portanto, especular sobre
prazos. Aliás a agência sequer concluiu a regulamentação do SMP.
A intenção de montar redes virtuais no país, entretanto, existe, e os
candidatos já ensaiam negociação com operadoras móveis, além de fazer estudos
de nichos de mercado mais rentáveis, por enquanto mantidos em sigilo. A
formação de uma operadora virtual exige investimentos entre US$ 10 milhões e
US$ 20 milhões e alguns investidores começam a interessar-se pelo negócio.
Negócio Lucrativo
De acordo com o Pyramid Research, é irreversível o surgimento de acordos de
MVNO na América Latina a partir de 2002. Para o instituto norte-americano, a
parcela não utilizada das redes móveis em operação no Brasil já justificaria
seu compartilhamento por terceiros. O Pyramide estima que, no ano passado, as
redes celulares das bandas A e B acusaram capacidade ociosa equivalente a 9,6
milhões de assinantes. Ou seja, as operadoras deixaram de arrecadas US$ 28,09
por assinante/mês, ou US$ 270 milhões no total.
Os fabricantes de infra-estrutura e aparelhos também se mostram interessados
no novo negócio. A Ericsson, por exemplo, prevê que em 2005 haja cinco grandes
MVNO’s no mercado mundial, que trarão aumento de receita de US$ 35 bilhões
para os fornecedores. Esta estimativa não inclui as operadoras virtuais
focadas em serviços regionais e locais que começam a espalhar-se pelas cidades
européias e norte-americanas.
No Brasil, o quadro é diferente. Além da falta do suporte legal, os players
virtuais precisam vencer a resistência das operadoras móveis, para as quais
dividir o mercado pode não ser tão vantajoso, mesmo que consigam reduzir a
ociosidade da rede. Há, ainda, operadoras cujas redes estão congestionadas,
sobretudo nos sites mais antigos, e precisam fazer investimentos em
infra-estrutura para suportar a própria carteira de assinantes.
Quem defende as MVNOs, porém, lembra que para projetos de plataformas GSM e
3G, que já têm custo de instalação e dependem de parceiros para o
desenvolvimento de serviços de dados e multimídia, o hóspede virtual pode ser
indispensável. No Brasil há, ainda, o caso específico das espelhinhos, que vão
entrar no mercado sem nenhuma demanda reprimida e para as quais a associação
com uma MVNO pode significar o acesso a nichos rentáveis.
“Mesmo as operadoras que alegam estar congestionadas sabem que, a médio prazo,
terão de criar uma ociosidade estratégica em suas redes. Isto se tornará
rentável se elas conseguirem algum retorno, o que pode ocorrer a partir de
modelos de negócios que contemplem um bom aproveitamento da rede”, pondera
Eduardo Carvalho, presidente da Planum Tecnologia Empresarial, que presta
consultoria para as telcos.
O que deve de fato sensibilizar as operadoras a hospedar uma MVNO na sua rede
de acesso, porém, é a possibilidade de se tornarem parceiras no negócio.
Geralmente, a hospedeira virtual oferece entre 25% e 50% da sociedade, o que
garante participação segura de quem cede banda, tranqüilizando quanto ao maior
risco que traz uma MVNO – a possibilidade de ela adquirir sua própria faixa de
radiofreqüência e tornar-se, de fato, uma competidora.
Segmentação é a chave
O conhecimento que uma operadora virtual tem para prover serviços à
comunidades e segmentos específicos de usuários – por idade, afinidade,
pequenos negócios etc. – é o que leva muitas operadoras a aceitar a sociedade
com a MVNO. Essa busca de segmentação é evidente hoje, pois quem precisa de um
celular apenas para falar já está atendido. O importante, agora, é identificar
nichos que tragam novas receitas, compensando a queda de receita nas ligações
de voz. Mas a plena segmentação do mercado brasileiro depende da portabilidade
do número do assinante, ainda não regulamentada, mas incluída pela Anatel nos
estudos de migração do SMC para o SMP.
Esta parceria pode ser vantajosa para as grandes operadoras, mesmo que, de
início, estas se assustem com o fato de o universo segmentado incluir seus
melhores clientes. Em vez de se lançar no atendimento de determinado nicho,
ela pode simplesmente prover os meios para sua parceira menor fazê-lo,
dividindo investimentos e reduzindo o risco do negócio. “Não se pode cuidar do
supermercado e da butique ao mesmo tempo”, enfatiza Carvalho.
Fazendo o que pode
Enquanto o uso de capacidade das operadoras por terceiros não é liberado,
algumas empresas buscam alternativas. É o caso da Sprint Wireless, que aluga
capacidade para prover serviços de acesso a programas de gestão de empresas,
do tipo SAP ou Siebel, por usuários de equipamentos portáteis, como palmtops e
laptops. Subsidiária de uma companhia americana que fechou com a Virgin Mobile
joint-venture para formação de uma MVNO nos Estados Unidos (ver boxe), a
Sprint cria base para, no futuro, arriscar-se no mercado virtual do país. “No
momento, rodamos vários testes para este tipo de pacote”, conta Marcelo Condé
presidente da empresa.
Os contratos da Sprint com BCP, Telemig, telefônica, ATL e Telet, entre
outras, e as conversas positivas mantidas com Oi e TIM convencem o executivo
de que as operadoras estariam “predispostas” a esse tipo de negócio. “Fora do
Brasil, nossa solução tem dado certo, pois os serviços podem ser vendidos
tanto pela Sprint como pela operadora que fornece a capacidade, agregando
valor ao serviço” acrescenta Condé.
Esta modalidade resolveria a falta de experiência das operadoras na
transmissão de dados corporativos por acesso móvel e traria para a parceira
virtual os meios de atender o mercado das grandes e médias corporações
brasileiras. Os atuais nichos de atuação da Sprint apontam os segmentos que
primeiro devem adotar o modelo no país: finanças (bancos, seguradoras, cartões
de crédito etc.), bens de consumo (alimentício e farmacêutico), telecom,
logística e utilities.
BOX Sinônimo de bilhões As MVNOs são um verdadeiro sucesso nos mercados europeu e norte-americano. Surgidas entre 1996 e 1997, estas operadoras virtuais, hoje, recheiam de informações os sites dos grandes institutos de pesquisa, enquanto consultores e trainers se esmeram em traduzir em miúdos esta sigla que sugere um objeto voador não identificado. E ela significa negócios bilionários. A Virgin Mobile, joint-venture (50%-50%) entre o grupo Virgin e One2One, da Deutsche Telekom, que opera no Reino Unido, conquistou em apenas seis meses de operação mais de 90 mil clientes. Em um ano, chegou a 500 mil e hoje tem 1,5 milhão de assinantes, número nada desprezível em se tratando de operadora focada em nichos. O chaiman do grupo Virgin, Richard Branson, pede às outras operadoras, móveis mas não virtuais, que não se assustem com o sucesso deste modelo de negócios. E avisa: “No que diz respeito ao GSM/GPRS e ao futuro padrão global UMTS, não há como sobreviver sem MVNO”. A Virgin fechou com a Sprint Wireless nova joint-venture, também meio a meio, para oferecer serviços de comunicação do tipo pay-as-you-go no mercado americano, sob a marca Virgin Mobile, usando a rede nacional wireless da Sprint, assim como os all-PCs e outros aparelhos da nova sócia. A primeira MVNO americana em âmbito nacional escolheu o nicho formado por consumidores entre 15 e 19 anos, que, segundo o instituto Strategics Group, deve crescer 184% até 2007, e entre 20 a 29, com crescimento estimado em 93%. O Pyramid Research calcula que até o fim do ano de 2002 haverá 50 MVNOs na Europa. Alemanha, pela sua excelente infra-estrutura, e Reino Unido são considerados os mercados mais atrativos. Entre os países europeus de menor porte, a Finlândia mostra-se mais atraente que a Suécia e a Noruega. Mesmo reconhecendo que a Virgin Mobile continua ganhando terreno com seu provedor, a One2One está satisfeita com o longo prazo das relações estabelecidas, informa o instituto |
BOX Efeitos sobre as operadoras de celulares Positivos: • Uso de Capacidade ociosa das redes de acesso • Melhor aproveitamento do espectro de radiofreqüência • Alternativa para lançamento de serviços de nichos nas redes 3G em parceria ou sociedade • Aumento de market share (a capacidade vendida é computada como aumento do índice de penetração) • Instrumento de marketing • Partilhar lucros sem dividir riscos de lançamento de novos serviços • Atingir usuários sobre os quais não detém conhecimento. Negativos: • Incerteza no volume de tráfego • Possibilidade de a MVNO tornar-se provedor de meios • Possibilidade de a MVNo adquirir banda transformando-se em concorrente real • Portabilidade numérica • Instrumento de Marketing • Divisão com o parceiro virtual da receita dos melhores segmentos do mercado |