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Série de artigos sobre VoIP (4) |
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José de Ribamar Smolka Ramos |
Série
de artigos sobre
VoIP
Quarto artigo - Parte 02
Série VoIP (4) – Dimensionamento VoIP (WAN)
J. R. Smolka
(Continuação)
Parêntese 1: o básico da teoria do tráfego telefônico
Todo elemento na rede telefônica pode ser entendido como um servidor de tentativas de conexão, feitas por M[9] fontes de tráfego. O tráfego total gerado pelas M fontes é chamado tráfego oferecido (offered traffic ou offered load), e é representado pela letra A. Como o elemento tem uma capacidade finita de atendimento de chamadas, através de N circuitos de saída, o tráfego cursado (carried traffic ou carried load), representado pela letra y, tem uma certa probabilidade de ser menor que A. A diferença entre o tráfego oferecido e o tráfego cursado é o tráfego bloqueado (blocked traffic ou blocked load), representado pela letra R. O fator de bloqueio (blocking factor) B é a proporção do tráfego bloqueado em relação ao tráfego oferecido, também conhecido como grau de serviço (grade of service – GoS).
Considerando que cA, cy e cR representam, respectivamente, o número de chamadas oferecidas, cursadas e rejeitadas, e que tm representa a duração média das chamadas, temos que:
A unidade intensidade de tráfego é o Erlang (abreviatura: Erl). Para o cálculo da intensidade de tráfego devem-se usar as mesmas unidades de tempo para cA (ou cy ou cR) e tm. Exemplo: As estatísticas de tráfego de um PABX mostram ocorrência de 200 chamadas por hora, com duração média de 120 segundos, Qual a intensidade do tráfego cursado?
(todos os tempos padronizados em segundos)
Ou
(todos os tempos padronizados em horas)
O mesmo conceito também pode ser aplicado ao tráfego de pacotes em um link de dados. Exemplo: um link E1 está cursando um tráfego de 2000 pps (pacotes por segundo), com tamanho médio do pacote de 60 bytes. Qual a intensidade do tráfego cursado?
Neste caso, cA = 2000 pps. Para determinar tm, primeiro vamos determinar o tamanho médio do pacote em bits: 60 · 8 = 480 bits. Então o tempo médio de retenção do link durante a transmissão de um pacote (equivalente à duração média da chamada) é:
Para efeito de dimensionamento, estamos interessados no tráfego oferecido no momento de pico, chamado tráfego na HMM (hora de maior movimento) ou BHT (busy[11] hour traffic). Para determinar A na HMM podemos usar as seguintes técnicas:
a) Usar o valor que alguém mais já tenha calculado. É o método mais simples (hehehe...) desde que você confie em quem calculou.
b) Utilizar as estatísticas do tráfego cursado no passado. Este método baseia-se no princípio que o tráfego futuro será uma repetição (ou uma extrapolação linear) do tráfego passado[12]. Como as estatísticas indicam y, temos que calcular A como uma função de y e B (ver fórmulas acima).
c) Na falta de dados objetivos, fazer estimativas. As seguintes regras gerais podem ajudar:
- O valor geralmente assumido para B é de 1%;
- Para um dia útil comum, cy na HMM representa entre 15% e 20% do cy diário;
- Para ambiente empresarial, tm na HMM pode ser estimado entre 120 e 210 segundos.
Precisamos agora de modelos estatísticos sobre o comportamento do tráfego. Existem vários, que se diferenciam pelas suposições que são feitas a respeito das seguintes características:
a) Distribuição de frequência do tempo entre chamadas ofertadas consecutivas (inter-arrival time). Depende do padrão de chegada (arrival pattern) das chamadas ofertadas:
- Tráfego plano (smooth) – cA exibe variação pequena entre intervalos consecutivos de observação. A distribuição de freqüência do tempo entre chamadas é hipo-exponencial;
- Tráfego em rajada (peaked ou bursty) – cA exibe grande variação entre intervalos consecutivos de observação. A distribuição de freqüência do tempo entre chamadas é hiper-exponencial;
- Tráfego aleatório (random) – cA exibe variação aleatória entre intervalos consecutivos de observação. A distribuição de freqüência do tempo entre chamadas é exponencial;
b) Tratamento das chamadas bloqueadas – uma chamada bloqueada pode ser definitivamente perdida (cleared), sofrer retentativa (retried), ou ficar retida (delayed) até existir recurso disponível;
c) Número das fontes de tráfego – pode ser finita ou infinita;
d) Distribuição de frequência da duração das chamadas ofertadas, também chamado de tempo de retenção (hold time) – a maioria dos modelos de análise assumem que o tempo de retenção tem uma distribuição de freqüência exponencial.
Estamos interessados particularmente em dois modelos estatísticos para nossos problemas de dimensionamento (existem outros). Ambos assumem que o arrival pattern do tráfego ofertado é aleatório, número infinito de fontes de tráfego e hold time das chamadas ofertadas com distribuição exponencial. A diferença está no tratamento dado às chamadas bloqueadas.
- Erlang B – chamadas bloqueadas cleared
Neste modelo a relação entre número de circuitos N, o fator de bloqueio B e intensidade de tráfego ofertado A é dada pela seguinte fórmula:
- Erlang C – chamadas bloqueadas delayed
Neste modelo, se A < N, obtemos a probabilidade de ocorrência de delay P(>0) em função da intensidade de tráfego ofertada A e do número de circuitos N, pela seguinte fórmula:
Mas (para nossa sorte!) no contexto em que iremos aplicar este modelo (N = 1), esta fórmula pode ser simplificada para:
O tempo de espera médio tw das chamadas que sofrem delay é:
A probabilidade de ocorrência de delay maior que um tempo t qualquer P(>t) é dado pela fórmula:
Onde e é a base dos logaritmos naturais. O tempo médio de espera t w para todas as chamadas ofertadas é dado por:
t w = t w . P (>0)
Usar estas
fórmulas diretamente é um tanto trabalhoso, por isso existem duas formas
práticas de uso destes modelos: tabelas de referência e calculadoras, na forma
de programas específicos ou de funções pré-definidas para uso em planilhas
eletrônicas.
Existem diversos sites na Internet[13]
que disponibilizam calculadoras para estes modelos de tráfego (entre outros).