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Indústria corre para ganhar o mercado SMP |
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Autora: Neide Lamanna |
Fabricantes que defenderam o padrão GSM para a banda C e os que o combateram mudaram a disputa para outra arena. O que importa, agora, é vender sistemas para as empresas que começam a operar no ano que vem.
Desde a escolha da Anatel pela freqüência de 1,8 GHz para abrigar as bandas C, D e E do Serviço Móvel Pessoal (SMP) no Brasil, conhecido internacionalmente como PCS, a indústria, antes dividida na disputa entre 1,8 GHz e 1,9 GHz, passa a falar a mesma linguagem, correndo contra o tempo para capacitar-se na tecnologia digital GSM (Global System for Mobile Communication), a única possível nessas novas bandas.
Assim, quando as operadoras da banda C começarem a investir no projeto e instalação de suas redes GSM, os grandes provedores de infra-estrutura e terminais para a telefonia móvel estarão prontos para fornecer a maioria dos produtos, a partir de suas unidades industriais instaladas no Brasil. Enquanto não se realiza o leilão, previsto para janeiro de 2001, as empresas investem no treinamento de técnicos no exterior e preparam suas linhas de produção para atender à demanda prevista para esse novo serviço. Segundo estimativa do Paste, o SMP vai representar 20% dos 58 milhões de assinantes móveis até 2005.
Considerada a tecnologia mais usada no mundo, o GSM está presente em 153 países, com um total de 387 operadoras e 331,5 milhões de assinantes, de acordo com os dados da Associação de GSM divulgados em junho. A decisão da Anatel vai permitir a disputa desse mercado por empresas que, antes, não tinham tradição em prover equipamentos para a telefonia móvel no Brasil. É o caso da Siemens, que pretende investir, nos próximos três anos, US$ 700 milhões, dos quais US$ 500 milhões aplicados em desenvolvimento de projetos GSM, US$ 150 milhões no desenvolvimento de componentes locais e US$ 50 milhões em marketing. “A idéia é gerar mil novos empregos”, diz Hans-Joachim Kohlsdorf, diretor do Grupo Information and Communication Mobile (ICM) da empresa.
Com mais de 145 redes em 70 países, a Siemens ocupa o segundo lugar no mercado de comutação móvel mundial, com participação de 20%, e o primeiro em redes inteligentes ou soluções pré-pagas, que hoje no Brasil já respondem por 45% dos usuários. “De cada três chamadas GSM, uma é feita com equipamentos da empresa”, informa Kohlsdorf.
Entusiasmado com o potencial de negócios na América Latina, onde apenas 12% dos 500 milhões de pessoas utilizam serviços móveis, Rudi Lamprecht, presidente mundial do Grupo ICM, com base no índice de 45% da Europa, prevê que o mercado latino-americano chegará a US$ 40 bilhões até 2004. “Nesse continente, a Siemens quer tonar-se um dos três maiores fornecedores de soluções móveis e o principal provedor de GSM no Brasil, alcançando participação de 25% na área de infra-estrutura e 15% na de terminais”, estima Lamprecht. Para Hermann Wever, presidente da Siemens no Brasil, isso significaria faturamento de R$ 1 bilhão no exercício de 2001/2002.
Wever informa, ainda, que a empresa tem planos de produção nacional e vai utilizar sua unidade em Curitiba para desenvolver sistemas de infra-estrutura; os terminais deverão ser produzidos em sua fábrica de Manaus, que já faz aparelhos fixos. A Siemens vai fabricar no país sistemas e terminais móveis no padrão GSM, como as centrais de comutação e controle com tecnologia EWSD, estações radiobase AirXpress, estações controladoras (BCS) e redes inteligentes.
Para atuar nesse mercado, a empresa criou, em abril, nova unidade de negócios, subdividida em duas áreas: a ICM CA (Communications on Air), responsável pela infra-estrutura de GSM e redes inteligentes, e a ICM CD (Communications Device), que responde pelo desenvolvimento, vendas, fabricação e marketing de terminais. Esta área vendeu, em 1999, 12 milhões de aparelhos celulares e a previsão para este ano é de 20 milhões, com expectativa de dobrar esse número em 2001. Seus handsets são utilizados por mais de 30 milhões de pessoas no mundo e estarão disponíveis no Brasil em meados de 2001 – entre eles, um modelo de tecnologia GPRS (General Packet Radio Service), que permite conexão ininterrupta, facilitando o acesso à Internet, telemetria e outros serviços.
A empresa espera introduzir também no mercado nacional os aparelhos dual mode e tri band (freqüências TDMA 800 MHz e GSM 900 MHz/1.800 MHz). “Esses terminais já estão sendo desenvolvidos em San Diego, para a AT&T Wireless, maior operadora de TDMA, que contratou a Siemens, recentemente, para viabilizar o roaming internacional entre os usuários das duas tecnologias”, explica Yuri Sanches, diretor da ICM CA.
Segundo ele, a empresa pretende ainda tornar disponíveis futuramente os terminais GSM/CDMA. “A produção desses aparelhos no Brasil é apenas uma questão de volume”, avalia Sanches, lembrando que a central de comutação e controle da Siemens, produzida no país, já faz naturalmente essa conversão de sinal. O que muda é o software, que está sendo adaptado para a rede brasileira pela equipe de profissionais de Curitiba. Desde a decisão da Anatel, a Siemens tomou quatro medidas: estabeleceu um sistema de referência em
Curitiba, deu início aos trabalhos com a tecnologia GSM, começou a desenvolver software no país e passou a analisar o mercado brasileiro.
Fornecedores tradicionais entram na disputa
Com mais de 40% de participação mundial em sistemas GSM, presentes na Ásia, Europa, Estados Unidos e América Latina, a Ericsson promete investir US$ 70 milhões nos próximos três anos para viabilizar a introdução dos seus produtos GSM no Brasil. Segundo o presidente da subsidiária brasileira, Gerhard Weise, a empresa está trazendo para o país toda a tecnologia dos equipamentos de infra-estrutura, como estações radiobase, comutadores, controladores de rádio, e terminais, para que a produção esteja consolidada quando o serviço começar.
Esses investimentos destinam-se principalmente à preparação da fábrica de São José dos Campos (SP), à ampliação do centro de treinamento e ao desenvolvimento de software. A Ericsson tem pressa em sair na frente e quer iniciar produção ainda em 2000. Como o início das operações da banda C está previsto somente para o próximo ano, a iniciativa da empresa visa também atender às exportações, explica o gerente de marketing, Aldo Moino.
Mundialmente, a Ericsson produz 70 modelos de terminais GSM, mas, no Brasil, pretende produzir, inicialmente, apenas três: o T36 e o R520 (ambos nas freqüências de 900 MHz, 1.800 MHz e 1.900 MHz), terminais com protocolo WAP compatíveis com a tecnologia GPRS, e o A2618 (em 900 MHz e 800 MHz), mais econômico.
A produção tem como prioridade atender ao mercado nacional, depois à América Latina e à Europa, afirma Mário Consentino, diretor da área de wireless da Ericsson. Segundo ele, a meta é superar o market share mundial no mercado brasileiro. Para isso, a empresa aposta no diferencial tecnológico de sua plataforma GSM, “consolidada internacionalmente e que se destaca por alta performance e facilidade de manuseio e operação do sistema”, diz Consentino.
A Ericsson, que já possui PPB para infra-estrutura, possui quatro fábricas: na Suécia, Estados Unidos, Ásia e Brasil. Sua participação no mercado brasileiro é de 40% em equipamentos para operação de telefonia móvel e, na banda B, detém mais de 54%. A fábrica brasileira produz, em média, 4,5 milhões de terminais TDMA por ano. Presente em 94 operadoras de 43 países com redes GSM, a Nokia também fornece infra-estrutura e terminais nessa tecnologia e, segundo Yolande Pineda, gerente de marketing para a América Latina, detém a liderança mundial em aparelhos GSM, está presente em todas as redes e sua posição em infra-estrutura oscila entre o primeiro e o segundo lugar, dependendo do país.
Satisfeita com a decisão da Anatel, Yolande acredita que há, no país, potencial muito grande para a nova tecnologia, que deverá atrair todos os operadores internacionais. “O Brasil é um mercado muito representativo para a Nokia; no ano passado, ele foi o sétimo entre os dez mercados mais importantes.” O GSM, como negócio, tem participação no faturamento da empresa muito maior do que os produtos TDMA e CDMA. Por isso, a Nokia, que já possui fábrica de terminais no Brasil, estuda, no momento, a possibilidade de produzir infra-estrutura. A decisão depende da demanda do mercado. “Trata-se de uma tecnologia padronizada, que admite produtos de diferentes provedores na mesma rede, pois as interfaces entre os equipamentos estão definidas. Com isso, há um ganho de escala muito grande e maior economia para as operadoras”, informa Yolande.
Outra vantagem que a gerente da Nokia faz questão de destacar é o SIM (Subscriber Identity Module) Card, um cartão inteligente, embutido no aparelho, mas destacável, no qual a operadora grava todas as informações do assinante. Não há, portanto, fidelização ao fabricante do aparelho, pois não é mais o telefone que contém as informações, e sim o chip. Com o SIM Card, o usuário pode trocar de aparelho com muita facilidade, mantendo sempre o mesmo número, sem necessidade de novas habilitações.
O roaming é outra característica importante no GSM, pois permite acessar os serviços contratados mesmo em outros países. Para Yolande, isso é fundamental: os aparelhos não realizam somente ligações, mas acessam a Internet pelo Wap e contam com os recursos avançados da rede GPRS (General Packet Radio Service) para transmissão de dados em alta velocidade (144,4 kbps), o que permite transmitir imagem não animada. Yolande destaca que, mundialmente, a Nokia é a empresa que mais vendeu GPRS, tecnologia digital que representa um passo intermediário para a terceira geração do celular.
Outra empresa de grande atuação na telefonia móvel celular, a Nortel Networks especializou-se em produtos para infra-estrutura em todas as tecnologias. No padrão GSM, informa Fioravante Mangone Júnior, gerente de marketing para a área de wireless, a empresa está presente em todos os continentes, com mais de 60 redes em 32 países, as quais operam em diferentes faixas de freqüência (800 MHz, 1.800 MHz e 1.900 MHz). “Sua maior participação está nos Estados Unidos, em grandes operadoras como BellSouth, VoiceStream, PacBell Wireless/SBC, Nextel, PCS One, NPI Wireless, Pocket e Conestoga.
Além de líder nos Estados Unidos e Canadá, a empresa está muito bem posicionada no mercado europeu.” Mangone conta que a Nortel já realizou estudos para a implantação da linha de produtos GSM 1.800 MHz em sua fábrica de Campinas (SP), analisou as três regiões estabelecidas pela Anatel e está capacitada a oferecer consultoria aos principais interessados em obter licenças de SMP no Brasil.
Otimista quanto às expectativas de mercado, a Nortel possui ampla linha de produtos GSM, entre eles a família de centrais DMS, Piconode, sem similar, que comportam até 5 mil linhas; Micronode e Integrated Node, para demandas de 20 mil a 90 mil linhas; e DMS Supernode, para até 130 mil linhas. As aplicações de suas estações radiobase cobrem desde ambientes rurais até locais densamente povoados. Os modelos mais recentes são o e-cell, para aplicações indoor, preparado para evoluir para a tecnologia EDGE (Enhanced Data for GSM Evolutions), e o e-mobility, que agrega na mesma plataforma as tecnologias GSM, EDGE, IS-95, 3X-RTT e UMTS (Universal Mobile Telecommunications System).
Mangone explica que o GSM é uma tecnologia madura e apresenta custos competitivos em função dos ganhos de escala. “Essa maturidade permite oferecer uma variedade de serviços, que podem ser divididos em quatro categorias: básicos (voz, fax, short message etc.), suplementares (identificação de chamada, espera, conferência, transferência etc.), proprietários (desenvolvidos especificamente para uma operadora) e avançados (redes privativas virtuais, pré-pago, serviços de dados e GPRS, entre outros). Mundialmente, segundo Mangoni, a Nortel possui diversas redes GPRS instaladas ou em teste. Por esse motivo, ele acredita que o Brasil vai adotar essa tecnologia ou, no mínimo, permitir sua utilização num futuro próximo com a realização de upgrade. “A vantagem do GPRS está em permitir acesso aos dados em velocidades muito superiores às disponíveis nas tecnologias sem fio.”
Transmissão de dados, o grade filão
A Lucent, também especializada em infra-estrutura, atua em GSM desde 1992. Luiz Cláudio Rosa, diretor de tecnologia, informa que a empresa vem crescendo bastante nesse mercado e hoje possui redes em Portugal, Arábia Saudita e Alemanha, entre outros países. Atualmente, está implantando para a operadora alemã T-Mobil uma rede que prevê GPRS sobre a estrutura de GSM e para a qual já atualizou 8 mil estações radiobase. Hardware e software foram adaptados em três semanas, sem interrupção do serviço. Essa aceitação deve-se, segundo Luiz Cláudio, a um produto da Lucent que converte texto de e-mail em voz no terminal, permitindo selecionar e ouvir a informação em diversos timbres de voz.
Devido ao seu crescimento, a Lucent decidiu fabricar também no Brasil os produtos GSM, na mesma unidade de Campinas onde já produz equipamentos para infra-estrutura TDMA e CDMA. “Além de sermos a única empresa que tem suporte e redes móveis em operação nas duas tecnologias digitais que o Brasil usa (TDMA e CDMA), vamos capacitar-nos em GSM. Técnicos treinados na Europa e no Brasil passam as informações para nossa equipe de manufatura. Estamos trazendo os equipamentos adicionais para adaptar a fábrica e produzir GSM, mantendo a mesma arquitetura do nosso produto básico, adequado para as três tecnologias. Estimamos que a primeira estação radiobase GSM saia da fábrica em dezembro”, estima Luiz Cláudio, lembrando que o processo de PPB está em andamento e que a Lucent vai preparar-se também para fornecer GPRS no próximo ano. Ele defende o GPRS como um elemento de diferenciação para a operadora. Se não houver condições de prover dados em alta velocidade, suportados por uma rede de pacotes, será muito difícil oferecer diversas categorias de serviços. E no GSM isso só é possível com o GPRS. “Não estamos mais falando de comunicação móvel somente entre pessoas, mas também de dispositivos conectados à rede móvel, promovendo a comunicação entre eles”, argumenta. Para Luiz Cláudio, há empresas que ainda não perceberam que a real revolução não virá com a terceira geração do celular, mas quando for possível ter pacote nas redes.
No mundo, o GPRS vem sendo implantado com muita intensidade.
A Motorola, uma das três maiores fornecedoras de redes GSM, foi a primeira empresa a lançar uma solução completa na Grã-Bretanha, envolvendo infra-estrutura e terminais, segundo Maurício Gomes, diretor comercial de infra-estrutura. Ele considera a posição da Motorola em GSM bastante confortável, com sistemas em cerca de 75 operadoras em 53 países, totalizando mais de 100 contratos em todo o mundo.
Todos os equipamentos GSM a serem fornecidos no Brasil serão produzidos localmente, assegura Gomes. A fábrica em Jaguariúna (SP) está praticamente preparada, prevendo-se o inicio da produção de GSM em dezembro, dependendo do mercado. Segundo o diretor da Motorola, são necessários apenas mais US$ 2 milhões para adaptação ao GSM, compreendendo principalmente equipamentos de testes, que não requerem altos investimentos. A empresa informa que, até o momento, investiu cerca de US$ 210 milhões na construção da fábrica brasileira.
A produção de terminais deve começar no fim do primeiro trimestre do próximo ano, para alinhar-se com o início da demanda na banda C, informa Hilton Mendes, diretor de produção da área de PCS da Motorola.
A documentação para o PPB está em fase de conclusão, mas a empresa ainda não definiu os modelos que serão produzidos no Brasil; no momento, realiza pesquisa com os consumidores brasileiros.
Mundialmente, a Motorola produz 20 tipos de aparelho em sua linha, dos básicos aos mais sofisticados, com display de alta resolução sobre o qual se pode escrever. Sua linhas inclui terminais dual band e tri band (duas ou três freqüências).
A Motorola desenvolveu conceitos próprios em infra-estrutura de GSM, como as microcélulas e picocélulas (áreas ainda menores) para cobertura focalizada, e o sistema de PABX sem fio cujos terminais podem ser usados na rua como telefone celular.
Ausente do mercado mundial e sem tradição em GSM, a coreana LG Information & Communications também pretende disputar o mercado brasileiro, iniciando a produção de terminais em novembro, segundo Ricardo Amaral, gerente de vendas da empresa no Brasil.
A LG tem fábricas também no México e na Coréia, mas a unidade brasileira é forte candidata para abrigar a produção de GSM, pois poderia suprir gradativamente o mercado latino-americano. Especializada em terminais celulares CDMA, a empresa iniciou produção no Brasil em 1999, em Taubaté (SP), e faturou US$ 100 milhões no ano passado, alcançado participação de 15% no mercado brasileiro.
(Este artigo foi publicado originalmente na edição de outubro/2000 da RNT - Revista Nacional de Telecomunicações . A reprodução foi gentilmente autorizada pela RNT)
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