Antonio
José Figueiredo Enne
WirelessBrasil
Março 2019 Índice dos assuntos deste website
25/03/2019
Aplicações Isócronas
As aplicações isócronas dizem respeito à transmissão de sinais de voz e/ou de
vídeo codificados e digitalizados em quadros de dados.
Uma aplicação isócrona, como o próprio nome diz, requer que os quadros sejam
transmitidos com iguais (iso) tempos (crono). Em outras palavras,
que os quadros sejam entregues ao receptor sem variações de delay de quadros
(também referidos como jitter de quadros).
Como o receptor é um ser humano nesse caso, e a mente humana não é capaz de
bufferizar e corrigir os jitters de quadros, a recepção tem de reproduzir
fielmente o que foi transmitido, ou seja, tem que ser em tempo real.
Na comunicação entre computadores o tráfego pode ser anisócrono (oposto de
isócrono), pois os computadores são capazes de corrigir os jitters.
Observe que o grande vilão são os jitters, e não os delays.
Se os delays não forem acima de um limite, a comunicação ocorre normalmente,
embora com retardo.
Quando, na televisão, um repórter externo é acionado, ele demora um pouco para
falar. Mas depois que começa a falar, o isocronismo faz com que a comunicação
seja normal. Isso porque tudo é atrasado igual.
Quando se transmite voz ou vídeo ao natural, a amostragem e a codificação
ocorrem normalmente de modo constante, do que resultam taxas de transmissão
também constantes (em voz é normalmente igual a 64 Kbps). Daí a denominação de
aplicação isócrona CBR (constant bit rate).
Se houver compressão / descompressão de voz e vídeo, por exemplo, entram fatores
aleatórios, e as taxas de transmissão variam. Ocorre então a transmissão
isócrona VBR (variable bit rate), também referida como transmissão rt-VBR (real
time VBR).
A aplicação, contudo, continua a ser isócrona.
O tráfego de dados é tipicamente anisócrono VBR (ou nrt-VBR).
Recomendo que o leitor recorde a camada AAL ATM, que se destina a adaptar as
classes de aplicação (chamadas CoSs) à camada ATM. Dentre as funções da AAL,
encontram-se a segmentação dos quadros recebidos em pacotes e a remontagem
desses quadros no terminal ATM de destino.
Foram definidos quatro tipos de AAL: AAL1, AAA 2, AAL ¾ e AAL5.
A AAL1 destina–se às aplicações isócronas CBR.
A AAL 2, que não chegou a ser completamente implementada, destina-se ás
aplicações isócronas VBR (rt-VBR).
As AAL ¾ e AAL 5 são para dados, com aplicações anisócronas VBR (ou nrt-VBR), ou
seja, non-real time VBR.
Vamos falar agora na adequação de redes para aplicações isócronas.
As redes ideais para aplicações isócronas são as redes modo circuito, pois
apresentam baixo delay e praticamente nenhum jitter.
Os únicos delays nessas redes são o inevitável tempo de propagação e o tempo de
transmissão quando as informações são transmitidas em quadros (o tempo de
transmissão é função da velocidade de transmissão e do tamanho do quadro
transmitido).
Como no modo circuito não há filas, o delay é menor e o jitter praticamente não
existe.
Mas as redes modo circuito, embora tecnicamente ideais, não são sempre
economicamente viáveis. Surgiu então a ideia de se usar redes modo pacote (IP,
principalmente) para aplicações isócronas. O problema é que redes modo pacote
introduzem jitters.
A concepção para se solucionar isso é simples. Complicado, porém, é aplicar essa
concepção.
A base dessa concepção é o uso de um buffer antes do receptor, de forma tal que
esse buffer entregue o tráfego anisócrono recebido estruturado como tráfego
isócrono ao receptor.
Um problema é que essa estruturação tem que se basear no pior caso. Você pode
atrasar um quadro, mas não pode tratá-lo antes que ele chegue. Isso significa
que os quadros chegam ao receptor em tempos iguais, porém sendo esses valores de
tempo mais elevados.
Apesar disso, o uso de redes IP (principalmente a Internet) para aplicações de
voz e vídeo é hoje uma realidade. É só pensar no sucesso de VOIP.