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Leia na Fonte: El País
[06/06/19]
União Europeia alerta para risco de novo terrorismo ligado à implantação do 5G
O Conselho de Ministros de Interior da União Europeia (UE), que se reúne nesta
sexta-feira em Luxemburgo, analisará as implicações para a segurança que a
iminente implantação da quinta geração de telefonia móvel (o chamado 5G)
provocará. E o panorama, juntamente com o esperado desenvolvimento da
inteligência artificial, é alarmante e preocupante segundo o relatório elaborado
para a reunião pelo coordenador da Luta Antiterrorista da UE, Gilles de Kerchove.
As novas redes, cuja implantação pode ficar nas mãos da empresa chinesa Huawei,
poderiam facilitar o surgimento de um terrorismo com novas feições e,
previsivelmente, muito mais letal. De Kerchove propõe a criação de um
ciberlaboratório liderado pela Europol, a agência de segurança da UE, e
especializado em analisar e combater as novas ameaças.
A urgência de agir parece evidente, segundo o documento que chegará à mesa dos
ministros. O texto adverte que a mudança tecnológica em curso pode alterar
completamente o atual quadro de segurança pública e poderia provocar “uma
mudança em direção à privatização da segurança ou poderiam surgir novas formas
de terrorismo”. E enfatiza que “a vulnerabilidade dos cidadãos, das economias e
dos Governos aumenta proporcionalmente à sua conectividade e interdependência e
poderia disparar com a chegada do 5G e dos aparelhos interconectados”.
Kerchove alerta os ministros de que a vulnerabilidade de dados já representa um
dos maiores riscos da economia relacionada à inteligência artificial. “E em
breve os computadores quânticos serão capazes de decifrar qualquer criptografia,
a biologia sintética permitirá recriar vírus fora dos laboratórios e do corpo
humano e os aparelhos interconectados poderão se tornar armas”, de acordo com o
documento que servirá de base para o debate do conselho de ministros da UE, que
contará com a presença do titular espanhol em exercício, Fernando
Grande-Marlaska.
O sinal de alarme chega em plena disputa entre a Europa e os Estados Unidos
sobre a possibilidade de a empresa chinesa Huawei, líder em 5G, liderar a
implantação das infraestruturas da nova tecnologia. Washington, que vetou a
Huawei por sua suposta relação com o Governo chinês, exige que os países da UE
impeçam que a empresa chinesa tenha acesso e controle de suas redes.
A Administração Trump afirma que o 5G poderia dar a Pequim uma poderosa arma de
dominação sobre a economia e a sociedade do Velho Continente. Países como a
Alemanha e o Reino Unido desdenharam das advertências de Trump e se recusam a
romper relações com a Huawei por medo de que a implantação das novas redes
atrase dois ou três anos.
O documento do coordenador da Luta Antiterrorista da UE não menciona a Huawei.
“Não se trata de apontar para uma empresa específica, que hoje pode ser chinesa
e amanhã russa”, justifica uma fonte diplomática. Mas a omissão do nome da
gigante asiática que lidera a tecnologia 5G não impede que sua sombra paire
sobre o repentino alarme da UE e os planos para combater as novas ameaças.
De Kerchove propõe que o futuro ciberlaboratório tenha a colaboração, sob a
liderança da Europol, da Agência Europeia de Fronteiras (Frontex), da Agência
Europeia para a Cooperação Judiciária Penal (Eurojust) e da Agência de
Cooperação Policial (CEPOL), o que dá uma ideia da envergadura e do alcance que
o novo organismo poderia atingir.
O modelo a seguir seria a agência norte-americana conhecida como DARPA (Defense
Advanced Research Projects Agency), fundada em 1958 (como ARPA) e que é
considerada uma das fontes da revolução tecnológica que levou ao nascimento da
Internet. Seu trabalho, de acordo com o relatório de De Kerchove, “resultou em
grandes conquistas industriais e tecnológicas tanto na esfera civil quanto na
militar”.
O presidente francês, Emmanuel Macron, já propôs em 2017 uma réplica europeia da
DARPA, que batizou de Agência Europeia de Pesquisa e Desenvolvimento de Novas
Tecnologias. Esse organismo começa a ganhar corpo com um relatório que detalha
as funções que deveria assumir.
Kerchove propõe aos ministros que a nova agência se encarregue de avaliar os
riscos e possibilidades das novas tecnologias, de criar um “lago de dados
compartilhados” com os quais testar instrumentos de inteligência artificial,
realizar simulações de ataques cibernéticos e facilitar o uso de dados em casos
de necessidade de forma compatível com as exigências de privacidade dos usuários
ou de segurança das empresas de Internet.
“É vital que a UE decida as tecnologias nas quais deseja desempenhar um papel de
liderança nos próximos cinco ou dez anos e que tome as medidas necessárias para
cumprir esse objetivo”, recomenda o documento do coordenador da Luta
Antiterrorista da UE. O texto também defende que “a UE precisa recuperar a
soberania sobre seus dados”. E lembra que hoje muitas empresas europeias,
especialmente aquelas especializadas em reconhecimento facial, testam seus
algoritmos na China porque no país asiático o acesso a dados é mais fácil.