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Leia na Fonte: SAPO/Exame Informática
[27/05/19]
«A 5G pode retirar algum espaço ao Wi-Fi em ambiente público» - por Hugo
Séneca
Luís Santo, responsável pelo Programa de 5G da Nos, dá a conhecer expectativas e
desafios da operadora do Grupo Sonae para a quinta geração de redes móveis (5G).
Dias antes da entrevista, Manuel Ramalho Eanes, administrador da Nos, já havia
feito saber que a operadora não está preocupada com as interdições que têm vindo
a ser aplicadas à Huawei pelas autoridades americanas, Luis Santo lembra que não
serão só as questões políticas ou regulamentares que vão ditar as tendências da
nova geração de redes móveis: «Estamos a assistir a uma transição que vai levar
cada um de nós a consumir um conteúdo diferente, que não é necessariamente um
conteúdo mainstream… mas este fator leva a uma lógica do unicast, ou seja, em
que uma pessoa vê uma transmissão de vídeo que é diferente da lógica em que
muitas pessoas veem o mesmo conteúdo de vídeo».
Quais as expectativas da Nos em relação ao 5G? O que é que a Nos tem vindo a
fazer para se preparar para o 5G?
O 5G surge, naturalmente, como a tecnologia evolutiva das redes móveis que
existem em todo o mundo. Portugal tem, obviamente, uma perspetiva de contínua
evolução. Temos um histórico de inovação nas redes móveis que faz com que
sejamos pioneiros nestas tecnologias. O 5G traz um conjunto de propostas de
valor tanto para o indivíduo em comum como para as empresas e para indústria. E
é nestas últimas que existe maior expectativa nesta fase inicial do 5G…
Porquê?
Devido essencialmente a três grandes melhorias face às redes móveis atuais: uma
maior largura de banda, que promete potenciar o vídeo de muito alta definição, o
4K ou o 8K; depois temos um conjunto de melhorias que têm a ver com a latência e
a interatividade, que permite que pessoas, telefones, ou apenas coisas
estabeleçam contacto (através da rede 5G), com latências de cinco milissegundos
– e isto vai ser uma característica extremamente importante quando se trata de
controlar remotamente robôs, drones ou outras máquinas; e há um terceiro pilar
de diferenciação que diz respeito à capacidade de servir uma elevada quantidade
de sensores. A IoT (Internet das Coisas) está claramente em ascensão; temos hoje
tecnologias que servem a IoT, mas a expectativa é que a 5G consiga trazer maior
densidade de sensores, num mundo em que, efetivamente, tudo estará interligado.
Numa primeira fase, a 5G poderá permitir velocidades acima de um 1 Gbps, mas
mais à frente poderá chegar a velocidades superiores, com quatro ou dez Gbps.
Numa primeira fase, as latências serão muito baixas; deverão rondar os cinco
milissegundos, e numa fase mais madura poderá chegar aos dois milissegundo ou
mesmo um milissegundo numa fase mais avançada da tecnologia. E por fim, temos
uma expectativa de conseguir uma densidade 100 vezes superior àquela que
conseguimos com as tecnologias de Narrowband IoT.
Mas serão só as empresas que vão valorizar essas características técnicas da 5G?
Posso dar exemplos em que estas três características se farão sentir.
Obviamente, que estas características são relevantes para a indústria de forma
mais genérica. Quando falamos da condução de remota (de veículos) a latência é
uma característica muito importante. Se tivermos ajudas à condução remota, como
demonstrámos agora (na Smart Cities Summit que decorreu a semana passada),
podemos imaginar um cenário de incêndio, em que os bombeiros controlam um robô
para se evitar que vidas humanas fiquem expostas (às chamas). Outro cenário:
hoje, os oleodutos e gasodutos ainda são limpos por humanos, apesar de serem
ambientes onde a robotização faz todo o sentido. A 5G pode ser o meio de
comunicação e controlo dessas máquinas. Mas voltando ao vídeo: Hoje, consumimos
vídeo como nunca. Nos telemóveis, o vídeo está nos primeiros lugares das
preferências. A 5G permitie-nos dar um salto relevante: os terminais móveis são
cada vez mais os nossos modems de acesso à Net… a 5G poderá ser um
providenciador dos vídeos 8K. Além disso, temos os videojogos e a latência muito
baixa tem uma aplicação não só industrial como lúdica ou mesmo educacional.
E como é que a Nos se está posicionar face à chegada da 5G?
Temos um laboratório onde estamos a fazer a prevalidação de software, das
plataformas e das antenas. A 5G é muito mais que antenas de rádio; também contém
plataformas que são essenciais para que a 5G funcione. E temos ainda os
terminais, que geralmente são os últimos da cadeia e que estão a ser
desenvolvidos. Temos um laboratório com cenários completos que permitem testar
todas as plataformas necessárias para que a 5G funcione. Mais do que a
tecnologia, estamos a tentar dinamizar junto dos nossos parceiros os exemplos de
utilização, como demonstrámos na Smart Cities Summit. A tecnologia não é
suficiente para gerar valor; é necessário criar um ecossistema e ter pessoas que
pensam nos problemas. A tecnologia serve para gerar valor, resolver problemas,
melhorar a qualidade de vida… estamos a dar os primeiros passos no que toca a
tirar a tecnologia do laboratório e a implementá-la em cenários reais.
Será que as redes 5G poderão vir a substituir as redes usadas na IoT, o Wi-Fi ou
até as redes de TV Dgital Terrestre?
Estamos a comparar coisas muito diferentes. As redes móveis são suportadas por
redes fixas (que ligam as diferentes antenas que captam as ligações dos
utilizadores). É precisa muita fibra ótica para que uma rede de rádio funcione.
Portanto, há aqui a lógica de que a rede móvel tem de complementar a rede fixa.
Obviamente, que há sempre um sobrecusto para as redes móveis devido à
complexidade. Nesse sentido, as redes fixas continuarão sempre a existir… e as
redes móveis vão continuar a precisar redes fixas “por baixo” que façam o
transporte (dos dados). O Wi-Fi continuará a existir. Até porque tem um nível de
universalidade que é difícil de combater com uma tecnologia nova, como o 5G. No
nosso ecossistema doméstico temos hoje impressoras, televisores e outros
dispositivos que não têm e, muito provavelmente, não terão portas para se
conectarem à 5G, devido a questões relacionadas com o custo e o benefício. Nesse
sentido, vemos o Wi-Fi a manter o seu espaço… a 5G poderá retirar algum espaço
ao Wi-Fi no ambiente público, mas nos ambientes doméstico e empresarial o Wi-Fi
vai continuar bastante presente. Nos cenários de IoT, não os vejo como
concorrentes, mas como complementares daquilo que hão de ser as comunicações
entre máquinas da 5G… com sensores, videovigilância, e outros dispositivos que
exigem maior largura de banda que aquela que é disponibilizada por redes de
Narrowband…
… E nas transmissões de TV, há ou não potencial para as redes de 5G substituírem
outras redes que já existem?
A questão passa tanto pela concorrência entre transmissões de TV e redes móveis,
mas sim pela forma como nós, como indivíduos, consumimos conteúdos e vemos TV.
Estamos a assistir a uma transição que vai levar cada um de nós a consumir um
conteúdo diferente, que não é necessariamente um conteúdo mainstream… mas este
fator leva a uma lógica do unicast, ou seja, em que uma pessoa vê uma
transmissão de vídeo que é diferente da lógica em que muitas pessoas veem o
mesmo conteúdo de vídeo. Diria que a transição não passa tanto pelo tema de
regulação, mas sim pela forma como consumimos os conteúdos e pela forma como
cada vez mais individualizamos o conteúdo que consumimos.