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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[11/11/19]
Sucesso na TV digital indica que será superada interferência da 5G, diz
Martelletto, da EAD - por Abnor Gondim
Em outubro, a entidade criada pelas operadoras após o leilão da faixa de 700 MHz
concluiu o remanejamento dos canais e garantiu a convivência da 4G com a TV
digital. Uma entidade semelhante deve ser criada no leilão da nova tecnologia,
prevê o executivo.
O Brasil vai superar o impasse da interferência nas antenas parabólicas para
implantar a quinta tecnologia de telefonia móvel e transferência de dados, a 5G.
É o que prevê Antonio Carlos Martelletto, presidente da EAD, entidade mais
conhecida pela marca Seja Digital, que gere a digitalização de canais e
retransmissores de TV e responsável por instalar desde 2016 uma nova tecnologia
de telecomunicações no país.
Em outubro, a EAD concluiu o remanejamento de 1.034 canais de TV na faixa de 700
MHz, liberando o espectro para as operadoras ativarem suas redes LTE em novas
cidades. Outros 3.410 municípios, onde vivem 90% da população, já contam com a
tecnologia. Segundo o executivo, restou R$ 1 bilhão dos R$ 3,6 bilhões previstos
para a limpeza do espectro. O destino do dinheiro ainda está em debate – pode
ser usado em cabos ópticos subfluviais na Amazônia, em conectividade no Nordeste
e para a digitalização de canais mantidos por prefeituras. A decisão ficará a
cargo do Gired (Grupo Gestor da Digitalização, coordenado pela Anatel).
Ao Tele.Síntese, Martelletto apontou que, com o sucesso na digitalização da TV e
a expansão da 4G em três anos, o Brasil demonstrou que tem competência para
vencer o desafio da 5G, adotando “remédios” apropriados. “Em outros países,
tiveram casos, e aqui se tomou uma série de cuidados, com as emissoras de TV, as
operadoras, a Anatel e o MCTIC, para que isso fosse evitado. Efetivamente, não
tivemos um caso de interferência da 4G na TV”, afirmou.
A EAD foi criada com recursos de quatro grandes operadoras do setor (Vivo,
Claro, Tim e Algar). Ele prevê que a criação de entidade semelhante será exigida
no edital do leilão da 5G.
Tele.Síntese: O que temos de novidades nesse processo de digitalização da TV?
Antonio Carlos Martelletto, presidente da Seja Digital:
Naquele edital previa-se a criação da entidade, a EAD, com três principais
pontos. O primeiro deles era desligar a televisão analógica para dar uma nova
destinação àquela faixa dos 700 MHz. Esse desligamento da TV analógica terminou
em dezembro de 2018. Fizeram uma correção necessária para liberar a faixa, mas
não era suficiente. Já existiam alguns canais digitais que estavam dentro da
faixa de 700 MHz. Então, desligando os canais analógicos, esses canais digitais
continuavam lá. Então, havia uma outra obrigação da EAD, que era remanejar todos
os canais para liberar a faixa de 700 MHz. Esse remanejamento terminou em
outubro. A faixa de 700 MHz está totalmente livre em todo o Brasil. Agora, se as
operadoras quiserem usar essa faixa, em qualquer região do país, elas conseguem.
Elas já estão utilizando em muitas faixas. Então, hoje, 90% da população já tem
o 4G de 700 MHz. Havia esses 10% que não estava liberado e foi concluído agora.
E o que vão fazer com o saldo remanescente de R$ 1 bilhão?
Martelletto:
Esse saldo ainda está em discussão no Gired. Eles ainda estão discutindo
eventuais projetos em que esses recursos podem ser utilizados. Existe um projeto
proposto pela radiodifusão para digitalizar os canais mantidos por prefeituras
em municípios pequenos, incluindo a compra dos conversores.
R$ 1 bilhão não é muito dinheiro só para digitalizar os canais de algumas
prefeituras?
Martelletto:
Não é só este projeto. Tem, por exemplo, um projeto de construir um backbone num
pedaço da região Norte. Também tem isso da expansão da banda larga no Nordeste.
Tem vários projetos sendo estudados lá. Esses projetos têm que atender os
objetivos do edital. E qual era o objetivo do edital? Acelerar a digitalização
da televisão e ajudar na expansão da banda larga no Brasil. Esses novos projetos
vão ter que estar dentro do mesmo espírito.
Vocês entregam os serviços para obter o atestado de conclusão até quando?
Martelletto:
A gente imagina que no primeiro semestre do ano que vem isso está concluído.
As emissoras de TV não aportaram recursos na EAD?
Martelletto:
As emissoras de TV investiram na transmissão digital e são responsáveis por ela.
O que nós fizemos foi ajudar as famílias a receberem o sinal digital. Então,
para quem tinha televisão antiga, nós oferecemos um kit para transformar uma
televisão antiga em uma televisão digital. A parte das emissoras de televisão
era investir nas emissoras para que elas se tornassem digitais. E isso foi feito
em todo o Brasil, elas fizeram a parte delas. Agora, a parte de recepção é de
responsabilidade do usuário. Mas o governo entendeu — isso foi feito em outros
países também — que, como era uma definição mandatória, o Estado tinha que
ajudar a população mais carente a se digitalizar. É aqui que os recursos foram
utilizados. Figurativamente, o governo vendeu um conjunto de apartamentos que
estavam sendo utilizados e aí colocou uma empresa, a EAD, para desocupar esses
apartamentos.
Existem ainda outras obrigações previstas no edital que devem ser atendidas?
Martelletto:
Vamos falar dos três grupos principais de obrigações. Uma era o desligamento da
televisão analógica, que já foi concluída. A segunda atividade era liberar a
faixa de 700 MHz, que foi concluída agora em outubro. E um terceiro grupo é
garantir a convivência entre a 4G e a televisão digital para que um não cause
problema para o outro. Havia um grande receio de que a 4G tivesse interferência
nas televisões digitais, mas isso não se comprovou. A gente fez acompanhamento
em todo o Brasil, fez campanha junto à população para que, se ela tivesse
problema, entrasse em contato. Em outros países, tiveram casos, e aqui se tomou
uma série de cuidados, com as emissoras de TV, as operadoras, a Anatel e o MCTIC,
para que isso fosse evitado. Efetivamente, não tivemos um caso de interferência
da 4G na TV.
O ministro Marcos Pontes disse ao Tele.Síntese que, superando a interferência da
5G nas parabólicas, o leilão sai em 2020. A experiência de vocês com a 4G já é
um sinal positivo?
Martelletto:
Esse é um dos pontos-chaves para se avançar. É uma esperança. Obviamente, vai
ter que estudar bem quais são os remédios que vão ter que ser aplicados, é um
cenário diferente. O Brasil tem competência para fazer isso. Desde o ponto de
vista da governança, que envolveu todos os atores, até o marco regulatório feito
pela Anatel, tudo foi fundamental.
Existe a possibilidade de exportação dessa experiência para outros que adotam o
mesmo padrão?
Martelletto:
Isso tem sido levantado, em outros países, que têm vindo ao Brasil, para
entender melhor o processo. Foi um projeto que atingiu ⅔ dos municípios. Tem
tido, sim, governos visitando a Anatel para conversar e verificar como funciona
o projeto. E nós fizemos o mesmo, em 2015, quando surgiu o projeto. Fomos a
outros países para conhecer outros projetos. Mas cada país tem as suas
particularidades e peculiaridades. As realidades precisam ser adaptadas.
A chegada da 5G, com a previsão do leilão em 2020, deverá desestimular a
ativação da 4G em áreas não atendidas?
Martelletto:
O que falta agora são municípios muito pequenos, apesar de a gente acreditar que
tenha demanda em qualquer município, pois a internet é um anseio em qualquer
lugar em que você vá. Como o principal benefício da 4G é entregar mais banda,
acho que a 4G ainda tem espaço para oferecer cobertura em municípios menores. Um
serviço não elimina o outro. O crescimento da 5G pode ser que venha mais
acelerado ainda, mas acho que as coisas vão conviver ainda por muito tempo. Você
vê que no Brasil a evolução rápida que a gente teve, da 3G e mais ainda da 4G, e
o 2G ainda existe. Ele está agora mais voltado para nichos, para algo mais
específico, mas ainda existe. Essas coisas vão se sobrepondo. A demanda por
banda é muito grande. Ninguém vai mão de um pedaço do espectro que tem.
O que se gastou para a digitalização da TV e a expansão da 4G foi um
investimento necessário?
Martelletto:
Necessário. Tem vários benefícios. Quem era a população analógica? Basicamente,
era a população de baixa renda. Essa população hoje está digital. Muita gente
assistia a televisão quase como um rádio. Era um chuvisco com um ruído. Então,
isto fazia parte da política pública: melhorar o serviço de TV. Esse é um
processo complexo em vários países. Definir uma tecnologia, um padrão
brasileiro, definir que haveria uma transmissão digital e analógica, é um
processo longo que consegue dar uma melhor utilização do espectro, que é um
recurso escasso, de altíssimo valor. Agora, a televisão está com um espectro
menor, mas com mais canais porque a tecnologia digital permite. O usuário está
com um serviço muito melhor. Tenho depoimentos aqui aos quilos de pessoas:
‘Olha, antes eu não assistia televisão. Agora, eu tenho televisão. Eu consigo
ver a cara das pessoa’.
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