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Leia na Fonte: Gizmodo Brasil
[24/02/21]
Por que o 5G está atrasado e como isso irá prejudicar o Brasil - por Caio
Carvalho
As janelas do seu quarto se abrem automaticamente com o nascer do sol, você
acorda, a Alexa diz as principais notícias do dia anterior. Simultaneamente, sua
torradeira começa a esquentar o pão, a cafeteira prepara o café e uma agenda
completa de tarefas pipoca na tela do seu celular até você pegar um Uber e
chegar no trabalho. Esse é o cenário prometido pela Internet das Coisas, e que
só é viável pelo 5G, em que absolutamente tudo o que você for fazer estará
conectado à web.
Seria ótimo, se não fosse trágico. Ao menos aqui no Brasil, onde a tecnologia
deve patinar por alguns anos até transformar, de fato, tantos conceitos
tecnológicos em algo palpável para o nosso cotidiano.
Muito tem se falado sobre o leilão do 5G no País, mas a verdade é que pouca
coisa saiu do papel. Sim, vale salientar que o leilão das frequências, agendado
até então para 2020, acabou sofrendo atrasos por conta da pandemia de Covid-19.
Agora, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), assim como a maioria das
operadoras e empresas de telecomunicações, dão como certa “alguma data em 2021”
para que o leilão aconteça.
Não há outro caminho para se seguir: o 5G é uma evolução natural e esperada.
Contudo, o que esse atraso na implementação da tecnologia pode custar ao Brasil?
Tem tudo a ver com a Anatel? Quais leis têm atrapalhado? E quais as
consequências de um possível banimento de companhias asiáticas?
Para responder essas e outras perguntas, eu conversei com José Otero,
vice-presidente da 5G Americas para América Latina e Caribe; Hélio Oyama,
diretor de gerenciamento de produtos da Qualcomm para América Latina; Atilio
Rulli, diretor sênior de relações governamentais e assuntos públicos da Huawei
Brasil; Fabro Steibel, diretor executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade
(ITS) do Rio de Janeiro; e Arthur Barrionuevo, professor de economia da Fundação
Getúlio Vargas (FGV).
Antes de tudo: entendendo o 5G
Como todas as demais tecnologias, o 5G é a evolução natural das gerações
anteriores (3G e 4G) de rede de internet móvel. Além de garantir até 20 vezes
mais velocidade de download e upload, a tecnologia se destaca por ter uma
cobertura mais ampla e conexões que não são instáveis e menor tempo de latência.
Dessa forma, vários dispositivos podem se conectar na mesma rede, que por sua
vez manterá a mesma estabilidade e velocidade para cada um desses aparelhos.
Tecnicamente, podemos dizer que atualmente existem duas “versões” do 5G: a real,
considerada como um “5G puro”; e o 5G que já está disponível em algumas regiões
do Brasil sob o codinome DSS (Dynamic Spectrum Sharing), ou Compartilhamento
Dinâmico de Espectro, na tradução livre. Pois é, já existe 5G por aqui, mesmo
que de um jeito bastante limitado.
O 5G DSS nada mais é do que a tecnologia de quinta geração, mas compartilhada na
mesma rede usada para o 4G. Daí vem o “dinâmico”, uma vez que as operadoras
podem utilizar uma única rede para suportar tecnologias diferentes. Qualquer
dispositivo, seja um tablet ou smartphone, que tenha compatibilidade com 5G já
pode acessar a rede. Aqui no Brasil, a lista vem aumentando pouco a pouco, e
inclui modelos como toda a linha iPhone 12, da Apple, e alguns celulares da
Motorola e Samsung.
O que torna o 5G diferente das gerações anteriores é que o alcance das ondas
milimétricas é mais curto, e são justamente essas ondas as responsáveis por
garantir maior velocidade, estabilidade e capacidade de conexão com milhares de
dispositivos.
A questão é que, por essas ondas milimétricas serem menores, qualquer objeto
físico no caminho — e isso vai desde um prédio até um carro ou uma pessoa — pode
bloquear facilmente o sinal. O 5G no Brasil usará faixas de frequência de 3,5
GHz (Gigahertz) a pelo menos 26 GHz. Por isso, a ideia é que antenas menores
sejam instaladas para atuar em conjunto com as antenas já existentes, ampliando
o alcance e penetração do sinal de 5G.
Isso nos leva para o primeiro ponto envolvendo o atraso do 5G no Brasil: as
leis.
Lei Geral das Antenas: melhorou, mas nem tanto assim
Muito além das notícias falsas e das questões políticas que envolvem o 5G no
Brasil está toda a parte burocrática de leis antigas que ainda estão em vigor
por aqui. Uma das queixas principais feitas pelos especialistas ouvidos diz
respeito a leis municipais que atrasam a instalação e uso de telecomunicações, e
isso muito antes do 5G.
Na prática, cada município tem autonomia para definir as próprias leis para uso
de equipamentos, instalação e distribuição de serviços ligados a
telecomunicações. Agora, imagine o trabalho que isso pode gerar quando lembramos
que o Brasil tem mais de 5.500 cidades. Se cada um deles tivesse uma diretriz
específica a ser seguida, é bem provável que ainda estivéssemos navegando na
internet 2G.
Em setembro de 2020, um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem
partido) diminuiu uma parte dessa burocracia ao autorizar a chamada Lei Geral
das Antenas. O documento oficializa o princípio do silêncio positivo, que
permite às operadoras instalarem suas infraestruturas de telecomunicações em até
60 dias caso os órgãos municipais não se manifestem sobre esse processo. Isso,
claro, baseado em contratos anteriores que já liberavam o uso e instalação de
novos equipamentos.
“Eu acho que um dos grandes desafios do 5G é a questão das frequências mais
altas. E quanto mais subimos essas faixas, mais estações de radiobases são
necessárias. Em linha com essa exigência, é muito importante que os órgãos
reguladores estejam conscientes do desafio [de implementar o 5G]. Cada município
tem sua particularidade legal, e uma mudança importante aconteceu graças à Lei
Geral das Antenas. Ainda não está totalmente resolvido, mas estamos no caminho
certo”, declara Hélio Oyama, diretor de gerenciamento de produtos da Qualcomm
para a América Latina, em entrevista ao Gizmodo Brasil.
Ainda deve levar um tempo até que essa lei se reflita na construção e adaptação
das redes que serão usadas para o 5G, mas certamente já é um avanço. Dados
divulgados em setembro pela Agência Nacional de Telecomunicações apontam que,
naquela época, havia uma fila de mais de cinco mil pedidos para instalação de
novas antenas. Com o decreto assinado em setembro, a tendência é que a
burocracia por trás da instalação de novas antenas fique menor, possibilitando
uma adesão muito mais rápida e ampla do 5G.
“O governo federal já sancionou a Lei Geral das Antenas. Mas como toda lei, ela
tem muitas facetas. Hoje, a condução legal é baseada em leis municipais, e
atualmente temos cinco mil legislações diferentes de antenas no Brasil. Nos
últimos 12 a 18 meses, acompanhamos diversas ações, e os gestores tomaram boas
iniciativas por mudanças nas gestões municipais. Em Campinas, por exemplo, o
prefeito derrubou um decreto que, como resultado, flexibiliza a instalação
durante a pandemia”, diz Atilio Rulli, diretor sênior de relações governamentais
e assuntos públicos da Huawei Brasil, em entrevista ao Gizmodo Brasil.
José Otero, vice-presidente da 5G Americas para América Latina e Caribe diz que,
hoje, o Brasil é o único país da América Latina com mais espectro alocado às
operadoras, mas que ainda faltam antenas para suportar o tráfego futuro das
redes 5G. “Quanto mais antenas, mais backhauls (o canal que circula o trafego de
dados da antena) ficam disponíveis. O melhor canal para isso é a fibra óptica,
mas ela não existe fora das grandes cidades”, afirma.
Leilão do 5G na Anatel: atraso em cima de atraso
Apesar de o 5G já estar disponível na forma do 5G DSS, as faixas voltadas para
uso exclusivo da nova tecnologia ainda dependem do tão comentado leilão de
frequências que será realizado pela Anatel. Inicialmente, ele aconteceria em
2020, mas por conta da pandemia de Covid-19 a venda das faixas teve que ser
adiada. O governo federal agora trabalha com uma data para 2021, embora não
tenha divulgado nenhuma janela muito específica.
“Certamente estamos atrasados, uma vez que alguns países lançaram o 5G lá atrás,
em 2019. No entanto, pelo o que temos visto, a Anatel já esta tomando as
providências e o leilão deve ocorrer o quanto antes. Pela sinalização [da
agência], vai acontecer”, diz Oyama.
“O que mais temos ouvido é que existe um esforço de todos os envolvidos, tanto
dos governos municipais quanto do Ministério das Comunicações, para manter o
leilão entre o fim de abril e começo de maio de 2021. Existe até uma pressão
para que isso não seja adiado. O que temos acompanhado é que o leilão em si está
bastante técnico e as definições de frequência estão muito aderentes. O pessoal
da Anatel e das Comunicações cita o leilão como algo emblemático mundialmente
por ser um dos maiores no que diz respeito à venda de espectros”, explica Rulli.
De fato, o leilão do 5G promete ser o maior de radiofrequências em toda a
história das telecomunicações no Brasil e o leilão com a maior oferta pública de
capacidade para 5G no mundo. Para começo de conversa, serão leiloadas quatro
bandas: 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Como dito anteriormente, as duas
principais devem ser as de 3,5 GHz e 26 GHz (esta última a de faixa milimétrica).
Em segundo lugar, o leilão das faixas será dividido em dois blocos de operação:
nacional e regional. E as operadoras que adquirirem as frequências ficarão
encarregadas de prestar serviços em áreas com grande quantidade de oferta e
também em locais considerados pouco atraentes. Pegando como exemplo a faixa dos
3,5 GHz, que será leiloada de forma nacional e regional: a empresa que levar o
direito de operar em um estado mais rico, como São Paulo, será obrigada a
implementar a tecnologia também em um estado carente de recursos. No geral, a
divisão de blocos será feita por região (Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Sul e
Sudeste), mas haverá casos, como o estado de São Paulo e algumas cidades do
interior paulista e de Minas Gerais, em que a oferta acontecerá de maneira
separada para cada uma dessas áreas.
Entrave com fabricantes asiáticas
Além da burocracia nas leis e atraso para o leilão das frequências, outra
questão que tem influenciado os planos de expansão do 5G no Brasil é a guerra
comercial envolvendo os Estados Unidos e empresas da China – algo que se
intensificou durante a administração do ex-presidente Donald Trump, que
incentivou os países a não fecharem negócios com tais companhias. A Huawei foi
uma das mais afetadas, e viu parte de suas economias ser duramente afetada em
alguns segmentos. A fabricante foi impedida de vender novos smartphones nos EUA
e precisou criar um sistema operacional próprio para contornar a ausência do
Android em aparelhos mais recentes. No Reino Unido, Austrália e Suécia, as
restrições afetaram a parte de infraestrutura: nesses países, a companhia foi
banida das redes 5G.
É justamente esse segundo caso o que temos visto no Brasil desde o ano passado.
O impasse com a Huawei, que tem sede em Shenzhen, na China, é de que a companhia
integra um complô encabeçado pelo governo chinês e que tem o objetivo de
espionar autoridades e usuários através das redes móveis de quinta geração.
Durante 2020, o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos, entre eles o deputado
Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), se declararam abertamente contra o uso das
tecnologias da Huawei sob o mesmo discurso ideológico: de que a infraestrutura
será usada para monitorar governos e usuários.
O problema é que impedir a Huawei de participar do leilão do 5G no Brasil
causaria um rombo bilionário para o governo e empresas de telefonia, já que mais
da metade de toda a rede de infraestrutura no Brasil, que é da Huawei,
precisaria ser trocada.
“A Huawei quer participar [do leilão]. Se o governo brasileiro boicotar a
empresa, vai causar uma confusão enorme, além de prejudicar as relações com a
China, que já estão fragilizadas”, diz Arthur Barrionuevo Filho, professor da
FGV EAESP, em entrevista ao Gizmodo Brasil. “Na época do Barack Obama, que usava
equipamentos da Huawei, já se falava dessa possibilidade, mas os aparelhos foram
auditados e nada foi encontrado. Então tudo não passa de mera especulação”,
completa.
Fabro Steibel, do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) do Rio de Janeiro,
explica em entrevista ao Gizmodo Brasil que, por se tratar de uma tecnologia
nova, é natural que o 5G gere diversos debates que envolvem segurança e
privacidade. O especialista defende que as telecomunicações precisam ser
tratadas como um assunto de defesa nacional.
“O 5G é seguro. Mas como é uma tecnologia nova, com o uso intenso podem aparecer
as falhas. É igual a um carro que dirige sozinho: não é que seja inseguro, mas
muita coisa pode dar errada. Por se tratar de uma novidade e existir dados
criptografados ali, existe mais margem para a insegurança. Nesse cenário, a
gente deve agir com cautela”, diz.
A Huawei é hoje a maior fornecedora de tecnologia de infraestrutura para
empresas de telefonia no Brasil. Dados do site Poder 360 apontam que os
equipamentos da companhia são compõem mais de metade dos dispositivos das
operadoras. Substituir todos esses equipamentos custaria bilhões de reais não
somente às empresas, mas também ao próprio governo.
Rulli afirma que a fabricante possui mais de 120 contratos de 5G com operadoras
em todo o mundo, e que o objetivo atual da companhia é continuar aumentando sua
base de clientes. “Há 11 anos começamos a desenvolver o 5G. Ao longo de 2018 e
2019, fizemos testes com todas as grandes operadoras brasileiras, além de testes
solicitados pela Anatel. Nossa infraestrutura de 4G é facilmente migrável para o
5G. Temos ampliado e feito diversas instalações junto a todas as operadoras. Em
paralelo, algumas delas já lançaram o 5G comercialmente, e a Huawei é uma das
fornecedoras dessa infraestrutura”, destaca.
A verdade é que o posicionamento do governo parece ter mudado do discurso
ideológico, principalmente agora com o fim do mandato de Donald Trump nos EUA.
Antes mesmo de isso acontecer, integrantes do próprio governo já haviam se
mostrado contrários ao banimento da Huawei no leilão. No início de dezembro, o
vice-presidente Hamilton Mourão defendeu a participação da empresa chinesa na
venda das frequências de 5G no País.
Na mesma época, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ex-presidente da Câmara, concordou com a
fala do vice-presidente da República ao compartilhar uma postagem em que Mourão
descrevia os custos para substituição dos equipamentos da Huawei no Brasil.
Mais recentemente, no final de janeiro, a governo atendeu aos pedidos da China e
não impedirá a participação de empresas do país asiático nas redes de internet
móvel da próxima geração.
Segundo um estudo da Oxford Economics encomendado pela própria Huawei em
dezembro de 2019, restringir uma companhia responsável pelo fornecimento de
tecnologia 5G poderia reduzir o PIB per capita em US$ 100 por pessoa até 2035 em
países como Japão, Alemanha e Estados Unidos, três dos oito países que
participaram do relatório. Além disso, excluir um fornecedor que já participa do
mercado pode aumentar em até 29% o custo de implantação ou substituição de
infraestrutura voltada para as redes de quinta geração.
Atraso para todos, na economia e sociedade
Independentemente de disputas políticas, atrasos no leilão, leis e outros
pormenores, o 5G é uma evolução natural ao 4G e, portanto, um caminho
inevitável. Mais do que melhorar a qualidade e velocidade das conexões móveis, a
tecnologia provocará um salto na economia global nas próximas décadas. Não
apenas do ponto de vista governamental e social, mas também por parte das
empresas que forem atuar e fornecer recursos para a implementação, adesão e
expansão das novas redes. Nesse cenário, se destacam três gigantes: Ericsson,
Huawei e Nokia, sendo que a chinesa leva uma certa vantagem contra suas rivais.
Do ponto de vista econômico, o impacto será grande. “As pessoas tendem a
superestimar o impacto da mudança tecnológica a curto prazo e subestimá-lo a
longo prazo. O 5G, tendo em vista o enorme aumento de velocidade e a baixa
latência de resposta, vai acabar com as superstições envolvendo esses dois
cenários. Imagine a potencialidade do processo produtivo em tempo real – é um
negócio enorme. Com o decorrer do tempo, o 5G trará uma mudança significativa de
hábito. É só olhar outras revoluções: quando veio o rádio e a TV, mudou muito o
comportamento das pessoas, hábitos de consumo, publicidade e lazer. Com o 5G,
vamos acompanhar essa mesma transformação”, diz o professor da FGV.
Em um estudo divulgado em agosto de 2020, a Ericsson estima que, até 2025, as
empresas vão investir R$ 9,2 bilhões nas redes de quinta geração no Brasil,
gerando cerca de 205 mil empregos diretos e o recolhimento de R$ 70 bilhões em
impostos e contribuições. O relatório vai além e prevê que, nos próximos dez
anos, o 5G responda por um aumento de 2,4% no PIB brasileiro.
A Qualcomm afirma que pretende investir 20% da receita bruta com o 5G. “Temos
mais de 140 mil patentes relacionadas à tecnologia de quinta geração. Também
temos um papel fundamental na padronização, pesquisa e desenvolvimento de
tecnologias voltadas para o 5G”, destaca Oyama.
Além de mudanças na economia, o 5G chega com a promessa de revolucionar todas as
esferas da sociedade. Entre os especialistas e executivos, há o consenso que,
para o consumidor final, o impacto mais perceptível será na velocidade, mas o
usuário poderá notar uma conectividade muito maior entre múltiplos dispositivos.
“As pessoas ainda não se deram conta do impacto que o 5G trará às nossas vidas.
Com o 4G, essencialmente, conectamos as pessoas. No 5G, vamos conectar tudo. E
quando digo tudo, é tudo mesmo: seres humanos, carros, relógios, fábricas. É a
Internet das Coisas em sua completa definição”, completa Oyama.
Steibel acredita que o mais provável é que haja uma segregação dos usuários – o
que já é esperado sempre que uma tecnologia nova é disponibilizada. “Em um país
com 30% de desconectados, onde o custo é muito sensível, o 5G vai excluir, e não
incluir, pelo menos neste início Somente depois, quando os preços ficarem mais
convidativos e as redes de quinta geração tiverem um alcance superior ao 4G, é
que as coisas podem começar a inverter”, afirma Steibel.
Outro fator que nos últimos meses vem contribuindo para deslegitimar o 5G são
campanhas com todo o tipo de desinformação: que a tecnologia causa câncer, que
ela mata pássaros e até que as recém-lançadas vacinas contra Covid-19 vão
implantar um chip 5G na sua mente. Aqui nós reiteramos o que os executivos e
especialistas já dizem: o 5G não é prejudicial à saúde, nem vai transformar
ninguém em jacaré.
“Já está mais do que provado cientificamente que o 5G não causa malefícios.
Existem muitas inverdades sendo ditas, mas isso infelizmente ainda faz parte do
nosso novo modelo de informações, que hoje é composto por muito canais. E agora
temos que ter o cuidado de saber filtrar essa quantidade de dados. Todas as
entidades que testaram e usam o 5G já se posicionaram e elas são unânimes: o 5G
não faz mal à saúde”, declara o executivo da Huawei.
“Essa onda de desinformação foi num período inicial. Sempre quando tem uma
mudança tecnologia, essa pauta sempre volta. Só que, no caso do 5G, inicialmente
tivemos essa discussão. Acredito que, agora, esse assunto em particular
praticamente desapareceu e não vai atrasar os planos de implementação da
tecnologia. Existem órgãos nacionais e internacionais que tratam da
regulamentação para que não haja nenhum impacto”, diz Hélio Oyama, da Qualcomm.
“Veja o exemplo da Organização Mundial da Saúde: no topo da sede da entidade, em
Genebra (Suíça), existem tantas antenas, muitas delas do 4G e agora do 5G, que
praticamente não cabe mais nenhuma. Você acha que se causasse um problema à
saúde haveria dezenas dessas antenas na região do prédio?”, questiona José
Otero, da 5G Americas.
O que já temos de 5G no Brasil
Como dissemos anteriormente, o 5G que existe hoje no Brasil é do tipo DSS, que
mais parece um aprimoramento do 4G já existente (as redes usadas são as mesmas).
Procuramos as principais operadoras para saber o que cada uma delas já preparou
e tem planejado de investimentos na tecnologia.
Claro
A Claro respondeu nossa solicitação, mas não enviou um posicionamento até a
publicação deste artigo. Caso isso aconteça, atualizaremos a reportagem.
TIM
Anunciamos em outubro a ativação do 5G DSS nas cidades de Bento Gonçalves (RS),
Itajubá (MG) e Três Lagoas (MS). Fomos pioneiros na ativação da rede de quinta
geração no País com a criação dos Living Labs 5G TIM, inaugurados em 2019 e
focados no estudo e desenvolvimento da tecnologia. Anunciamos em 16 de dezembro
a expansão do projeto 5G DSS para 12 cidades: clientes TIM em São Paulo,
Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Curitiba terão acesso à experiência
5G DSS, que evoluirá com a chegada do 5G após a realização do leilão de
frequências em 2021. Na segunda parte deste projeto, ainda no início de 2021, a
tecnologia 5G DSS estará disponível em Salvador, Fortaleza, Recife, Belém,
Campinas, Santos e Florianópolis.
Dentro do rollout de investimentos da operadora, planejamos investir cerca de R$
12,5 bilhões para ampliação e modernização de infraestrutura de rede
especialmente para 4G, 5G e fibra óptica. Aguardamos a divulgação das regras do
leilão de radiofrequência e das condições definidas pela Anatel para planejar o
rollout da rede e o alcance da cobertura 5G no país. Seguimos trabalhando na
evolução de um ecossistema favorável ao desenvolvimento da rede 5G no Brasil com
o engajamento da academia, empreendedores, indústria e desenvolvedores de
soluções.
O nível de investimento no Brasil é bem elevado em relação a outros países. É
preciso dar a importância necessária para os incentivos à infraestrutura que
viabilizam a competitividade. Acreditamos que é preciso pensar no
desenvolvimento tecnológico do Brasil. Trabalhamos com um pool de fornecedores,
além da Huawei, que atendem não só à demanda por serviços de comunicação mais
eficientes, mas que pensam, junto a nós, no futuro das redes móveis e de sua
evolução para 5G.
Vivo
A Vivo tem se alavancado na experiência internacional do Grupo Telefonica para,
quando possível, oferecer aos brasileiros o melhor da tecnologia 5G. Até lá,
seguiremos com nosso foco em levar as melhores tecnologias disponíveis de
conexão, como fibra e 4,5G, para mais lugares do País.
No Brasil, a real experiência de 5G virá com o leilão de 3,5 Ghz, com largura de
banda de pelo menos 100 MHz. Enquanto isso, ativamos em nossas redes a
capacidades 5G com as frequências existentes, baseadas na tecnologia DSS. A
partir desta tecnologia é possível compartilhar, de forma dinâmica, o espectro
3G e 4G não utilizado para prestar o serviço 5G. Contudo, como este espectro não
possui uma banda contínua e dedicada, a experiência do 5G ainda não poderá ser
sentida em sua totalidade. A empresa teve funcionalidade ativada em sua rede
para algumas regiões de 8 cidades brasileiras no final de julho: São Paulo,
Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Goiânia, Curitiba e Porto
Alegre.
Fomos a primeira operadora a fazer testes, trials e demos na tecnologia 5G.
Iniciamos em 2018 com as frequências de 3,5 GHz e 28 GHz (ondas milimétricas). O
primeiro teste foi realizado com aplicações de realidade virtual, em um jogo de
vôlei, na cidade do Rio de Janeiro, na frequência de 3,5 GHz. A outra aplicação
foi na cidade de São Paulo, na faixa de 28 GHz, com simulações de cirurgia
remota. Com o objetivo de avaliar o desempenho da tecnologia já dispõem de 100
sites em caráter experimental implantados em São Paulo e Rio de Janeiro. Além
disso estamos testando em parceria com outras operadoras, Anatel e
Sinditelebrasil soluções que permitam a convivência do 5G na frequência de
3,5GHz com a TVRO (TV Receive-Only).