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Fonte: CIO
[30/09/11]
4G: A falsa polêmica entre 2,5 GHz e 700 MHz - por Ricardo Tavares*
*Diretor de Relações Governamentais & Industriais da Ericsson no Brasil
Uma polêmica se estabeleceu colocando supostamente em conflito as bandas de 2,5
GHz e 700 MHz para 4G no Brasil. Dizem que algumas operadoras não desejariam a
banda de 2,5 GHz porque gostariam de antecipar o leilão de 700 MHz. Vou procurar
neste artigo esclarecer por que esta é uma polêmica desnecessária. O que deveria
estar na base deste debate é, ao contrário, como prover uma implantação de 4G
atendendo ambos aos requisitos de cobertura e capacidade. Como se sabe, a banda
de 2,5 GHz é uma banda de capacidade enquanto a de 700 MHz é de cobertura.
A introdução de novas tecnologias de telecomunicações móveis é sempre feita,
idealmente, combinando bandas baixas (de cobertura, abaixo de 1 GHz) com altas
(de capacidade, acima de 1 GHz). Deste modo, a nova tecnologia pode rapidamente
ganhar cobertura ampla ao mesmo tempo em que as operadoras dispõem de uma banda
com capacidade para enfrentar áreas de pico de tráfego e alta demanda. Esta
combinação ideal entre bandas baixas e altas, porém, depende dos ativos de
espectro que cada operadora possui, variando muito portanto.
A quarta geração de telefonia celular (4G) está começando no mundo com uma banda
baixa (o dividendo digital, também conhecido como 700 MHz) e uma alta (2,5 GHz).
É uma combinação perfeita. No Brasil, a presidente Dilma Rousseff fixou, por
decreto, que até o final de abril teremos leilão de 2,5 GHz. Então, começaremos
a implantação de 4G, por aqui, pela banda alta, de capacidade. Isto se encaixa
bem no objetivo central do Governo de prover serviços de 4G na Copa do Mundo de
2014 e nas Olímpiadas de 2016. Serão 12 cidades cujas áreas centrais de
transporte, turísticas e esportivas poderão ser cobertas com 2,5 GHz, prevendo
um período de grande utilização durante estes eventos esportivos, mas deixando
um legado importante para esas populações urbanas. Outro aspecto importante do
2,5 GHz propiciar as mais largas bandas de espectro no mercado, com três faixas
pareadas de 2 X 20 MHz a serem leiloadas. Esta será a única oportunidade em
muitos anos para uma operadora adquirir esta quantidade de espectro contínuo.
Isto é importante porque a performance do 4G é maximizada a partir de 2 X 20
MHz.
Quanto ao 700 MHz, estamos constrangidos pelo plano de migração da TV analógica
para a digital, cuja finalização está prevista somente para 2016. Isto dá uma
margem de conforto para o Governo postergar esta discussão. No entanto, seria
importante iniciarmos esse processo de debate mais cedo, dada a fundamental
importância que o espectro de 700 MHz tem para a evolução da banda larga,
notadamente no que concerne a cobertura de áreas de mais baixa densidade
demográfica.
Declarações recentes de representantes de operadoras sobre a preferência pela
banda de 700 MHz são totalmente naturais, uma vez que só essa faixa permitirá
uma ampla cobertura 4G, por ser de cobertura ampla. Contudo, minha leitura é
que, no fundo, o que as operadoras querem dizer é que não fará sentido
estabelecer metas agressivas de cobertura nos planos de outorga do 2,5 GHz, pois
isto só será viável no espectro de 700 MHz. Não faz sentido que o Governo e a
ANATEL, queiram atingir com 2,5 GHz objetivos que só o 700 MHz pode entregar.
Neste sentido, exigências rigorosas de cobertura não devem ser colocadas sobre a
banda de 2,5 GHz, sob o risco de colocar em risco o próprio sucesso do leilão.
O 4G em 2,5 GHz começará cobrindo as principais áreas relacionadas aos jogos das
cidades da Copa. Progredirá em hot spots, em harmonia com o 3G, para aumentar a
capacidade e a velocidade. A decisão de fazer o leilão de 2,5 GHz até 30 de
abril de 2012 já está tomada. O que todos devemos trabalhar, e torcer, é para
que este leilão tenha grande sucesso. E, para tanto, é importante reconhecer o
que esta banda pode ou não pode fazer. E a sua execução tornará evidente que
precisaremos antecipar a migração para a TV Digital e o leilão de 700 MHz —
porque o Brasil tem pressa de expandir a banda larga. E não será possível cobrir
um país continente com 4G sem 700 MHz. Forçar a barra de cobertura em 2,5 GHz
seria contraprodutivo.