WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Espectro de 700 MHz --> Índice de artigos e notícias --> 2012
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Tele.Síntese
[10/11/12]
Para limpar faixa de 700 MHz, Anatel pode mudar canais públicos de TV -
Tele.Síntese Análise 354
Tele.Síntese Análise 354
Os estudos sobre a faixa de 700 MHz, coordenados pelo conselheiro da Anatel
Jarbas Valente, estão acelerados, embora o segmento da radiodifusão ainda não
tenha entregue ao governo a sua posição. Os radiodifusores estão preocupados que
os grandes centros enfrentem problemas de interferência com as transmissões das
cidades vizinhas, o que poderia demandar mais banda, além dos canais digitais já
destinados às emissoras. Os estudos técnicos em elaboração pelas entidades de
classe irão se aprofundar nessa questão. Mas a Anatel confia em contemplar todos
os interesses.
Para isso, deverá propor uma mudança nos canais públicos de TV. Uma portaria do
Ministério das Comunicações destinou os canais 60 a 69, localizados justamente
na parte de cima da cobiçada faixa de 700 MHz, para a TV pública. A intenção da
agência é deslocar os canais públicos para a faixa de VHF estendida, que
recepciona atualmente os canais de TV de 7 a 13, ocupados pelos sinais
analógicos e que no final da transição para a digitalização ficarão desocupados.
A proposta de deslocamento da TV pública em estudo no governo está sendo bem
recebida. Entre as vantagens da mudança, André Barbosa, diretor de
infraestrutura da EBC, destaca a maior cobertura permitida pelos canais em UHF e
a economia na implantação de antenas. Como seriam canais sequenciais, todas as
emissoras utilizariam o mesmo tipo de antena, o que permite uma economia
significativa na compra coletiva. No entanto, há uma série de questões a serem
estudadas. “Pode ser uma boa solução, mas são necessários mais testes de campo
para haver absoluta segurança sobre a eficácia dessa solução”, observa Barbosa.
Se os canais VHF têm vantagens, trazem também barreiras a serem superadas: no
caso da recepção dos sinais de TV pelo celular, o aparelho terá de ser equipado
com o chip para receber esses canais, o que não ocorre hoje.
O uso dos canais altos em VHF já foi objeto de teste pela Universidade
Mackenzie, em São Paulo, para transmissão de sinais de TV digital. A
universidade continua as pesquisas utilizando o canal 10 – é através dessa
frequência única que faz as transmissões entre o campus da Vila Buarque, no
centro de São Paulo, e o campus de Tamboré, no município de Baureri, na Grande
São Paulo.
A experiência do Mackenzie é pioneira no Brasil, mas não no mundo. A Coreia
utiliza os canais altos em VHF para transmissão de sinais da TV digital. E lá
foi resolvido o problema da portabilidade dos sinais para celulares. Os
aparelhos foram preparados para captar os sinais em VHF.
A proposta do conselheiro Valente, que tem respaldo do Ministério das
Comunicações, deve ser agora objeto de um segundo teste, a ser realizado no Rio
de Janeiro. Se a experiência for concretizada, a expectativa é de parceria do
Mackenzie e também da EBC.
Canal de retorno
A tese inicial de Valente, de também assegurar banda para o canal de retorno das
emissoras de TV, não foi bem assimilada no mercado, nem no governo. Embora os
radiodifusores advoguem querer o canal de retorno para prestar os serviços over
the top (OTT), como a interatividade, ninguém acredita que terão “bala na
agulha” para montar uma rede móvel, com um número elevado de estações radiobase
para garantir a cobertura.
Os radiodifusores querem o canal de retorno, mas desde que se sustente sobre as
redes de telecomunicações existentes. Reivindicam também a efetiva mobilidade
dos sinais de TV. Embora a mobilidade tenha sido um dos principais argumentos
para a adoção do padrão ISDB no Brasil, ela não existe na prática, uma vez que
poucos são os aparelhos de celular que permitem a transmissão dos sinais abertos
de TV.
Esse desinteresse dos fabricantes de aparelhos celulares é motivado por pressão
das operadoras de telefonia móvel. São elas que subsidiam a maior parte dos
terminais e, assim, não veem nenhuma vantagem em vender celular barato com sinal
aberto de TV para seu cliente, pois não vão ganhar nenhum centavo enquanto
estiver sendo transmitida a novela do momento. Esse tende a ser um foco de
conflito em expansão, pelo fato de os modelos de negócios de radiodifusores e
operadoras de telefonia móvel serem distintos.
Mas os radiodifusores têm um trunfo nessa negociação. São eles que ocupam a
cobiçada faixa de 700 MHz. Podem compor um segmento sem grande expressão
econômica, mas têm enorme poder político, que sabem usar como ninguém. Tudo vai
depender do resultado das negociações, que tendem chegar a bom termo se os
radiodifusores tiverem contrapartidas à altura de sua força política. A limpeza
da faixa não seria um obstáculo para destinar parte dela à oferta de banda larga
móvel. A intenção do governo de dar às telecomunicações espaço nesta faixa só
não foi anunciada antes do leilão da 2,5 GHz para não desvalorizar a venda dessa
frequência. No caso do futuro leilão da 700 MHz, os números serão muito
superiores aos pouco mais de R$ 2 bilhões arrecadados com a 2,5 GHz. A Anatel
estima que a frequência de 700 MHz valha mais de R$ 24 bilhões.