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Leia na Fonte: Tele.Síntese
[10/11/12]
Retransmissoras secundárias embaralham estudos sobre destinação da 700 MHz -
Tele.Síntese Análise 360
Tele.Síntese Análise 360
Até o final deste mês, o grupo de trabalho da Anatel que estuda os usos da faixa
de frequência de 700 MHz, depois que forem devolvidos os canais utilizados para
a transmissão analógica de TV, deve encaminhar ao Ministério das Comunicações os
resultados preliminares de sua análise. Esses resultados servirão de base para o
ministério estudar todas as alternativas e definir o modelo de ocupação da
faixa, quando terminar a migração da TV analógica para a digital, prevista para
o final junho de 2016.
O problema maior a ser enfrentado, na avaliação de dirigentes da Anatel, não
será de natureza política, ou seja, arbitrar a disputa por espaço nessa faixa
entre os radiodifusores, seus atuais ocupantes, e as empresas de
telecomunicações, que querem mais espectro para a telefonia móvel de quarta
geração. “Essa disputa o governo arbitra e vai definir o que for o uso mais
eficiente do espectro, levando em conta as demandas de todos os segmentos. O
problema sério que temos pela frente é técnico”, diz a fonte.
Ao falar em problema técnico, a fonte está se referindo às retransmissoras que
usam a faixa em caráter secundário e sobre as quais não existem dados
disponíveis, uma vez que muitas operam ilegalmente. Constatar a existência
dessas retransmissoras – ninguém sabe quantas são, mas superam a casa do milhar
– foi uma surpresa para muitos integrantes do grupo de trabalho. O que fazer com
elas? A resposta vai caber ao Ministério das Comunicações, que terá, agora, de
dimensionar o problema e encontrar uma solução para a legalização das que
puderem ser legalizadas, ou para a cassação, pois os estudos realizados até
agora não tinham considerado a existências dessas retransmissoras.
Esse novo desafio acontece quando o MiniCom praticamente tinha conseguido
resolver o problema da alocação dos canais digitais para geradoras e
retransmissoras. Com medidas de desburocratização, o sistema foi desemperrado.
Até outubro de 2011, tinham sido concluídos os processos de 300 canais. Daquela
data até setembro deste ano, o número já passou de dois mil, envolvendo 400
geradoras e 1.600 retransmissoras primárias. “Até 2014, teremos concluído toda a
parte legal para os 3.500 canais restantes”, diz Genildo Lins, secretário de
Comunicação Eletrônica do MiniCom.
Agora, há o desafio das retransmissoras secundárias. Diante disso, dirigentes da
Anatel acham que a possibilidade de se antecipar o dividendo digital nas grandes
cidades para 2014, ou mesmo 2015, está totalmente afastada, porque há muitas
retransmissoras secundárias aí. “Essa questão vai ter de ser estudada e avaliada
com cautela pelo Ministério das Comunicações. E como não é trivial do ponto de
vista técnico, vai consumir tempo”, imaginam técnicos da Anatel.
Limpeza de canais
A pedra no caminho – as retransmissoras secundárias – pode até levar o governo a
abandonar a antecipação de datas, mas não muda os objetivos a serem atingidos.
Limpar o máximo de espectro possível, para a melhor ocupação dessa faixa
considerada nobre. Embora Lins diga que não existe nenhuma proposta de ocupação
futura da faixa de 700 MHz, porque os estudos ainda são iniciais, a área técnica
fez simulações para limpar do canal 52 ao 69, o que permitiria, em tese, liberar
106 MHz para a telefonia celular e a banda larga. Nas simulações, a limpeza
enfrentava problemas em duas ou três cidades.
Do ponto de vista da demanda futura das comunicações móveis e da banda larga, o
ideal, de acordo com avaliação de técnicos, seria que o governo destinasse pelo
menos 100 MHz dessa faixa para as comunicações móveis. O difícil é se chegar a
essa resultado, preservando integralmente o serviço de radiodifusão, que é um
compromisso do governo.
Tanto que ganha apoio a proposta, defendida pelo secretário Lins, de postergar
para 2020 a migração nas cidades com menos de 50 mil habitantes. Em sua
avaliação, talvez em regiões remotas como a Amazônia, com todas as suas
especificidades, não faça sentido ter uma data para se concluir a migração. Do
ponto de vista da Abert e da Abra, entidades que reúnem os radiodifusores, o
status quo deve ser mantido.
Em relação à destinação da faixa de 700 MHz, em ofício encaminhado ao ministro
Paulo Bernardo, em meados de setembro, defendem que os canais de 14 a 59, tal
como hoje, sejam destinados à radiodifusão comercial e educativa. As emissoras
públicas não estão incluídas aí e esse é outro problema a ser resolvido, pois,
por decreto, estão alocadas, na digitalização, do canal 60 ao 69. Para limpar
esses canais para novos usos, a possibilidade é colocar as emissoras públicas na
faixa de VHF.
Embora os radiodifusores admitam, no documento, que outros usos possam ser
atribuídos à faixa de 700 MHz, dizem que isso só pode acontecer depois que as
demandas da radiodifusão forem atendidas. Na verdade, as entidades não
reivindicam a alocação dos canais de 14 a 59 em todas as regiões do país. Dizem
que os 43 canais são necessários, de acordo com estudos realizados, em áreas
como a região Campinas-Sorocaba, no estado de São Paulo. Segundo Paulo Roberto
Balduino, consultor técnico da Abert, outras regiões com densidade populacional
semelhante devem apresentar o mesmo quadro. Só depois de novos estudos, diz
Balduino, será possível fixar um segundo universo de municípios, que poderão
demandar um número menor de canais, liberando os restantes para novos usos.
O estudo das entidades realizado no estado de São Paulo, como está relatado no
documento, não levou em conta as retransmissoras secundárias. Por falta de
informações. Na avaliação de dirigentes do governo, é mais do que natural que os
radiodifusores cerrem fileiras para não perder nenhum megahertz do espaço
alocado hoje à radiodifusão, na expectativa de que, no futuro, venham eles
próprios a oferecer novos serviços e precisar de mais espaço. No entanto, esses
dirigentes estão convencidos de que é possível liberar espectro para novos usos,
preservando o funcionamento eficiente da radiodifusão. “Tudo agora vai depender
de se saber, de fato, a dimensão dessas retransmissoras secundárias”, diz um
deles.