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Leia na Fonte: Band / Colunas
[29/04/13]
ProTeste e AET suspeitam de propaganda enganosa no 4G - por Mariana Mazza
O início da oferta da tecnologia 4G no Brasil tem concentrado as atenções do
setor nas últimas semanas. Como qualquer novidade, muita gente está interessada
neste novo serviço que promete velocidade de conexão de dados melhor nos
aparelhos celulares e, segundo o ministro das Comunicações, a possibilidade de
desafogar toda a rede de telefonia móvel, melhorando a qualidade das ligações
para os consumidores, inclusive os que permanecerão no 3G. Já ponderei em
colunas anteriores que há um certo exagero nestas promessas pelo fato de as
novas redes 4G serem ainda muito restritas, fruto de um prazo apertado definido
pelo governo para o lançamento oficial. Mas o assunto de hoje tem potencial para
perturbar ainda mais os consumidores ávidos por novidades.
Nesta segunda-feira, duas entidades civis bastante respeitadas no setor de
telecomunicações enviaram uma carta à Anatel com conteúdo preocupante. No
documento, o órgão de defesa do consumidor ProTeste e a Associação dos
Engenheiros de Telecomunicações (AET) levantam dúvidas sobre a real
funcionalidade dos aparelhos que estão sendo vendidos no Brasil com a tecnologia
4G quando a rede estiver completa. As dúvidas expostas pelas entidades têm
estreita relação com as frequências em que funcionam a nova tecnologia, aspecto
fundamental para o funcionamento pleno da tecnologia LTE (usada no chamado 4G) e
que quase sempre passam despercebidas pelo consumidor.
Para que todos possam compreender as questões levantadas pela ProTeste e pela
AET é importante esclarecer alguns aspectos técnicos do funcionamento do LTE.
Esta tecnologia é a evolução das redes UMTS, popularmente chamadas de GSM ou 3G.
Essas tecnologias usam faixas de radiofrequência, divididas em bandas, para
funcionar. Cada tecnologia usa um grupo de bandas para completar as chamadas ou
trafegar dados. No caso da transição do 3G para o 4G há várias bandas comuns,
para garantir a compatibilidade dos aparelhos com a rede. Em outras palavras, a
indústria cria aparelhos que usam múltiplas bandas, evitando assim que o
consumidor fique com o telefone mudo quando estiver em uma área em que a
tecnologia mais avançada não esteja disponível.
Isso ocorre também porque nem sempre os países usam a mesma banda de
radiofrequência para um serviço. Vamos para o caso concreto. No 4G, a migração
está sendo feita dentro das faixas definidas anteriormente para o 3G. Essas
bandas variam de 700 MHz até 2.600 MHz. Aqui no Brasil escolhemos a faixa de
2.500 MHz para rodar o LTE. E, segundo o governo, esta faixa deve fazer par com
a frequência de 700 MHz, que ainda será licitada. É normal (e necessário) que
frequências mais altas façam par com bandas mais baixas para garantir a
estabilidade das ligações. No 3G também temos isso com os pares 900 MHz/1.800
MHz e 850 MHz/1.900 MHz. E é no potencial par do LTE que as entidades civis
encontraram algo bastante estranho.
Dos seis aparelhos anunciados pelas operadoras para o 4G, apenas um deles
funcionaria na faixa de 700 MHz, que será emparelhada com a frequência de 2.500
MHz. Este único aparelho, fabricado pela Motorola, merece uma análise à parte
que farei mais adiante. O fato de os aparelhos não funcionarem na faixa de 700
MHz levanta várias dúvidas. A mais importante delas é se o consumidor terá que
trocar de aparelho no futuro próximo para ter uma experiência plena no LTE já
que o telefone não prevê o tal par escolhido pelo governo brasileiro.
É importante dizer que esse descompasso entre os equipamentos fornecidos pela
indústria e a política de uso de radiofrequências definida no Brasil não
significa necessariamente que o 4G não vai funcionar no Brasil. Mas esse atrito
entre as especificações técnicas e o plano governamental joga por terra algumas
promessas feitas nas últimas semanas. A mais óbvia é que o 4G não irá desafogar
a rede 3G. Para garantir a estabilidade das chamadas, as companhias terão que
fazer um emparelhamento com as faixas já usadas pela terceira geração, pois é
impossível manter o fluxo de uma chamada em movimento apenas na faixa de 2.500
MHz. A promessa de que o futuro uso do 700 MHz irá resolver todos os gargalos
que estamos vivendo na telefonia também não se sustenta ao olhar as
configurações dos aparelhos. Se não temos telefones sendo vendidos no Brasil que
funcionem na faixa de 700 MHz, como essa faixa pode ajudar no tráfego de
informações?