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Fonte: Instituto Avanzi
[16/12/13]
Governo espera arrecadar R$ 6 bi, com o leilão dos 700 mhz. Advinha quem pagará
essa conta? - por Dane Avanzi
Dane Avanzi é advogado, empresário do setor de engenharia de
telecomunicações, diretor superintendente do Instituto Avanzi e vice-presidente
da Aerbras – Associação das Empresas de Radiocomunicação do Brasil.
O espectro radioelétrico brasileiro é um dos mais caros do mundo. Esta é uma das
razões que explica porque a conta de telefonia móvel do brasileiro está entre as
maiores do mundo. A lógica de qualquer ramo de negócio é o lucro. Se as empresas
de telefonia móvel desembolsarão a quantia acima, obviamente esperam retorno
desse investimento, que será pago pelos brasileiros usuários do serviço de
telefonia móvel. Outro fator que encarece muito a conta do serviço de telefonia
móvel e de qualquer outro é a carga tributária, sendo a nossa uma das mais altas
do mundo.
Aliás, no que tange a carga tributária, o Brasil se excede e não é de hoje. A
história nos conta que a aplicação de impostos em demasia, desde os tempos do
império romano, há muito tem nos feito questionar a própria existência do
Estado. Afinal, para que serve o Estado? Segundo o jurista italiano Cesáre
Beccaria, o Estado foi criado pelos cidadãos que, de comum acordo, ao abdicarem
de uma parcela de sua liberdade individual, formaram um ente neutro, dotado de
poder coercitivo para legislar, executar e julgar um conjunto de regras voltadas
para o bem comum. Beccaria, viveu nos idos de século XVI, época das
cidades-estado, sendo o exercício das próprias razões (fazer justiça com as
próprias mãos) muito comum naquela época. Em sendo assim, o Estado surgiu para
tutelar a liberdade individual e o bem comum, sendo plenamente questionável sua
autoridade quando se afasta dessas premissas.
Nesse sentido, lição admirável professou ao mundo o filósofo Henry David Thoreau
(1817-62), que depois de passar uma noite na cadeia por não se sujeitar ao
pagamento de imposto o qual considerava injusto, escreveu um ensaio, hoje
considerado um clássico: “Desobediência Civil” (On the Duty of Civil
Desobedience” – 1849), na realidade uma crítica contra a voracidade
arrecadatória do governo da época. Ele nem imaginava o que estava por vir. O que
dizer da realidade brasileira que 40% da renda das pessoas é dragada pelo
Estado?!
Ressalte-se que Thoreau acreditava no melhor da tradição da vida americana que
enxerga o Estado sob a ótica da liberdade individual (razão de ser do Estado).
Decorre daí o vigor do ensaio que trata da necessária insubordinação civil face
aos excessos do Estado - pensamento que impressionou fortemente o Conde Leon
Tolstoi e também inspirou Mahatama Gandhi a compor sua “Satyagraha”, a reza
hindu da insubordinação pela não-violência.
Diante do juiz, Thoreau respondeu que além de seguir a Constituição Americana,
que tem como princípio limitar o poder do governo sobre o indivíduo e a
sociedade, (ideia irmanada da teoria da tripartição dos poderes do filósofo
iluminista Montesquieu) obedecia religiosamente os dez mandamentos da tábua de
Moisés e, não encontrando verdade maior na gana dos partidos e dos políticos em
se apropriarem dos bens alheios – ganhos com suor e trabalho, não estava
cometendo crime algum em não pagar impostos. Com isso, Thoreau firmou uma
espécie de senso comum que une até hoje a sociedade norte-americana e faz o
governo, temeroso da reação social, pensar duas vezes antes de criar novos
tributos ou majorar tributos existentes.
Compareceram ao funeral de Nélson Mandela, um dos maiores paladinos da liberdade
individual do século XX, cinco chefes de Estado brasileiros, dentre tantos de
todo o mundo. Será que inspirados pelo exemplo desse grande líder mudarão sua
forma de pensar e fazer política? Acho que não. Em parte porque nunca houve um
“Thoreau” no Brasil, com genialidade e inspiração para dizer ao Estado (na
pessoa do juiz), pacificamente, tudo aquilo que o povo americano pensava sobre o
que estava errado sobre os impostos. Assim o fez com destemor e firmeza. Por
conta disso, insubordinação civil é uma aula sobre cidadania, democracia e
teoria geral do Estado até os dias de hoje.