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Fonte: Senado Federal
[17/11/13]
Custos do uso da faixa de 700 MHz serão pagas pelas empresas de telefonia, diz
Anatel - por Elina Rodrigues Pozzebom
Testes estão sendo realizados para verificar possíveis interferências e
problemas a ocorrer com o funcionamento da banda larga 4G e da televisão aberta
na faixa dos 700 MHz, e os custos da migração e da proteção serão cobertos pelas
empresas de telecomunicações que vencerem os leilões. Foi o que garantiu o
presidente em exercício da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Jarbas
Valente, em audiência pública da Comissão de Ciência e Tecnologia (CCT), nesta
terça-feira (19).
- Sobre os custos da mudança, hoje estamos aprimorando a forma de como
calculá-los. Com o replanejamento, vamos ter exatamente os custos de quem saiu
de onde e para onde. Além disso, [vamos saber] que custos vamos ter com
eventuais mitigações e também convivência, da própria móvel para ela mesmo não
ser interferida e também não interferir - explicou Valente, ao fim da audiência
pública.
O novo uso dessa frequência vai ocorrer com a transição da TV analógica para a
digital. Atualmente, no Brasil, a faixa de 700 MHz está ocupada pela televisão
aberta, nos canais mais altos, do 52 a 69 em UHF. Com a digitalização, esses
canais serão liberados para a prestação de serviços de telecomunicações -
telefonia celular, internet e telefonia fixa. Esse sistema é utilizado em larga
escala pelo mundo afora, principalmente no Japão, de quem o Brasil vem
observando as experiências.
Essa faixa de radiodifusão tem características de propagação mais favoráveis,
exigindo, por exemplo, menos antenas, o que reduz custos. O objetivo é aprimorar
o serviço de telefonia e permitir a oferta da internet banda larga com
velocidades bem mais altas aos municípios mais distantes. Entretanto, em cerca
de mil grandes cidades, a banda larga nessa faixa só poderá ser utilizada com o
apagamento total da TV analógica, o que está previsto para 2018. Mas dependerá
do acesso da população aos equipamentos adequados.
O leilão só ocorrerá com a conclusão dos testes realizados pela Anatel em
parceria com institutos e universidades brasileiras, com a definição dos
procedimentos de mitigação de interferências adequados e do replanejamento dos
canais de televisão, explicou Valente. No dia 9 de dezembro, por exemplo, eles
serão realizados em Pirenópolis (GO) e, em 2014, em Santa Rita do Sapucaí (MG),
disse ainda.
Segurança
Além da telefonia e internet banda larga, a frequência de 700 MHz será utilizada
também para o Serviço Limitado Privado (SLP), em aplicações de segurança
pública, defesa nacional e infraestrutura, fato comemorado e defendido pelo
Comandante do Centro de Comunicações e Guerra Eletrônica do Exército Brasileiro,
general Antonino Guerra.
Segundo afirmou, a banda disponível para a transmissão de dados e que vai
garantir mobilidade trará respostas mais rápidas, decisões mais seguras e mais
informações disponíveis nos centros de comando e controle. Dados e vídeos são
essenciais para a eficácia da segurança do cidadão.
- A condenação chega a 90% quando gravadas as ações criminosas - revelou.
A unificação dos órgãos de segurança em uma única faixa de frequência vai
permitir a redução do custo da instalação de sistemas, frisou ainda. No Distrito
Federal, segundo exemplificou, oito estações repetidoras poderiam cobrir toda a
área, mas cada sistema de segurança montou o seu sobre o outro, com várias
coberturas em faixas diferentes e sem interoperabilidade, o que levou à
instalação de 60 estações, o que poderia ser considerado desperdício.
Temor
Dois dos principais problemas apontados pelos representantes das televisões do
Brasil dizem respeito ao custo da transferência - em muitos casos o canal
precisará mudar de número - e da mitigação das interferências. Eles temem que
outros gastos não previstos no edital sobrecarreguem as TVs posteriormente.
Entretanto, durante a audiência pública, o temor pela limitação do crescimento
da TV aberta também surgiu. Com menos banda para dar um salto posterior, as TVs
abertas poderiam não conseguir ofertar, por exemplo, a chamada TV 4K, em 3D, que
oferece o dobro da resolução do sistema HD, explicou Fernando Ferreira,
representante da Associação Brasileira de Radiodifusores (Abra).
- Da forma que está, pelo padrão atual, as emissoras vão morrer com ele, não tem
canalização prevista para um padrão mais avançado. E a gente sabe que tecnologia
expira - disse ainda Olímpio Franco, presidente da Sociedade Brasileira de
Engenharia de Televisão (SET).
Uma solução apontada pelos representantes das TVs seria a de a faixa inferior do
espectro, os canais 7 a 13, permanecer para a TV aberta, para as novas
tecnologias possíveis com o sistema digital. A possibilidade não foi descartada
pelo presidente da Anatel.
- Tudo é política pública que tem que discutir, o Executivo, o Congresso, e
definir qual vai ser a melhor, para que a gente tenha no Brasil essa
possibilidade. Outros países não se preocuparam muito porque tem canais
sobrando, mas no Brasil talvez seja necessário pensar numa política para isso -
disse Jarbas Valente, em entrevista ao final da audiência.
TV aberta
Luis Roberto Antonik, diretor-geral da Associação Brasileira de Emissoras de
Rádio e Televisão (Abert), afirmou que a migração é um trabalho complicado de
engenharia e também muito delicado do ponto de vista social. Ele pediu que o
Executivo e a Anatel garantam a manutenção do serviço de TV aberta, que é livre
e gratuito, a cobertura dos custos de readequação e, principalmente, o acesso da
população mais carente ao serviço digital. Para isso, serão necessários antenas
e receptores domésticos, o chamado "set up box", talvez até mesmo subsidiados
pelo governo.
- Estimamos que existam no Brasil 110 milhões de receptores domésticos de TV e
apenas 30 milhões têm capacidade de recepção digital - frisou.
A secretária de Serviços de Comunicação Eletrônica do Ministério das
Comunicações, Patrícia Ávila, afirmou que a Pasta está atenta a essas limitações
e garantiu que o sinal da TV analógica só será desligado quando a população
brasileira inteira tiver condições de recepção do sinal digital.
- Para a família de baixa renda, vamos oferecer subsidio - disse ainda.
Na presidência da reunião, o senador Lobão Filho (PMDB-MA) frisou a necessidade
de estudo do tema com profundidade, para que um serviço não interfira no outro,
não inviabilize econômica e financeiramente as emissoras de televisão e possa
garantir um serviço de telefonia e internet mais barata e de qualidade aos
brasileiros.
Elina Rodrigues Pozzebom