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Fonte: Intervozes
[08/04/14]
Nota do FNDC pelo adiamento do leilão da faixa de 700 Mhz
Para trazer benefícios para a população, é preciso calma para planejar
Há bastante consenso no Brasil sobre a importância da democratização do acesso à
internet para ampliar a liberdade de expressão, o acesso à informação e
estimular a economia. Mas concordar não é o bastante, é preciso que empresas,
sociedade e governo se unam em torno da pauta e da garantia de conexão.
Neste
sentido, a mudança no discurso das autoridades do governo federal e Anatel em
relação às prioridades do leilão da frequência eletromagnética de 700 MHz
preocupa. Se antes a tônica era priorizar o estímulo à cobertura de redes móveis
de banda larga de última geração e ampliar a qualidade das redes, agora, em ano
eleitoral, fala-se em garantir arrecadação de R$ 12 bilhões com o objetivo claro
de atingir o superávit primário.
Em um país onde, em dez anos (2001 a 2011), o estado brasileiro arrecadou R$
48,5 bilhões para os fundos setoriais de telecomunicações e gastou apenas R$ 2,6
bilhões, apenas 5,4% do total, esta opção é ainda mais inaceitável. A lógica de
priorizar o superávit primário da União em vez do investimento na ampliação da
cobertura e democratização do acesso tem penalizado a população brasileira e não
pode ser perpetuada em mais esta ocasião.
A preocupação quanto à lógica simplesmente arrecadatória para estabelecimento
das regras para o leilão de 700 Mhz para provimento do serviço de banda larga
móvel LTE (4G) se soma ainda à da garantia de recepção do sinal de TV a todos os
brasileiros. Como a faixa de 700 Mhz é atualmente ocupada por canais de TV em
UHF, estes terão de ser realocados. O custo dessa migração e quem deve arcar com
ele vem sendo amplamente discutido no Ministério das Comunicações, sempre de
portas abertas para conhecer os interesses dos setores empresariais.
Mas o custo para adaptação da estrutura de recepção de radiodifusão dos
brasileiros não tem ganhado a mesma atenção. O processo de desligamento das TVs
analógicas não pode acontecer sem antes haver garantias reais – estabelecimento
de processos e destinação de recursos – para permitir que os brasileiros
continuem tendo acesso à radiodifusão. Não basta a simples publicação de norma,
pelo Minicom, de que a ocupação desta faixa pelos prestadores de serviços de de
banda larga só poderá ocorrer com a garantia de que nenhum brasileiro vá ficar
sem assistir à TV.
Além de definir como será feita a distribuição de conversores
digitais à população de baixa renda (e ainda não se tem ideia da quantidade de
residências a serem apoiadas), ainda é preciso considerar o fator instalação de
antena receptora do sinal.
Testes realizados pela Universidade Mackenzie, a pedido de entidade
representante dos radiodifusores, dá conta que telespectadores que utilizam
antena interna podem vir a ter problemas de interferência de celular 4G na
transmissão da TV. Até o momento, no entanto, a posição da Anatel é
desconsiderar a necessidade de previsão da substituição de antenas e demais
estruturas de recepção, em condomínios, por exemplo, no modelo de ressarcimento
para ocupação da faixa de 700 Mhz. E este é apenas um dos problemas de
interferência que podem ocorrer, há diversos outros possíveis, sendo que ainda
não há uma conclusão sobre os desafios técnicos.
Além disso, ainda não há qualquer transparência sobre como a entidade autônoma
que está sendo proposta para tratar da migração da TV analógica para a digital
vai gerenciar os recursos para apoiar os radiodifusores a deixarem a frequência
de 700 Mhz e se também se incumbirá de garantir o acesso a TV digital.
Mas talvez o principal ponto ignorado no processo de limpeza da faixa de 700 Mhz
e migração da TV analógica para digital são as oportunidades para garantir maior
diversidade na TV aberta brasileira. Não basta apenas o governo incluir as TVs
públicas no plano de recanalização – e sobre este compromisso ainda pairam
dúvidas. Há, neste momento histórico, a possibilidade concreta de se garantir a
recepção dos canais públicos por toda a população, com o compromisso de
universalização do serviço.
Timidamente, os radiodifusores começam a compartilhar infraestrutura (há um
acordo entre emissoras para uma única antena em Brasília/DF), uma prática já há
muito praticada pelas telecomunicações e incentivada pela Anatel. Aliás, dois
tribunais – o STF e o STJ – já confirmaram: a radiodifusão é serviço de
telecomunicações, mas a agência reguladora não trata a regulação desse segmento
da mesma forma como o faz com as operadoras de telefonia fixa e móvel. Talvez
fosse uma boa hora para mudar essa posição. No momento, o tema está em debate na
Procuradoria do Ministério das Comunicações.
O fato é que há certamente outras boas práticas técnicas para reduzir o custo de
infraestrutura para as diversas emissoras, principalmente públicas, que poderiam
ser implementadas agora se houvessem diretrizes neste sentido no edital do
leilão de 700 Mhz e no planejamento de migração.
Pelos motivos expostos acima, a sociedade civil entende que a melhor opção neste
momento é adiar o cronograma para o edital de leilão da frequência 700 Mhz.
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
Brasília, 7/4/2014
Intervozes