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Fonte: Tele.Síntese
[27/01/14]
Radiodifusores já se preocupam com logística para mitigar interferências na
faixa de 700 MHz - por Lúcia Berbert
Para executivo da Abert, o ideal é que seja criada uma empresa ou entidade
específica com essa função, como ocorreu na Inglaterra e Japão.
Técnicos da radiodifusão, das operadoras móveis e da Anatel estão unidos para
que os testes de convivência de serviços na faixa de 700 MHz transcorram com o
sucesso esperado. A partir desses testes, que estão sendo realizados até o dia
22 de fevereiro na cidade goiana de Pirenópolis e no laboratório da Inatel, na
cidade mineira de Santa Rita de Sapucaí, será possível dimensionar as
interferências, as técnicas de mitigação e o custo para resolver os problemas de
convívio da LTE e da TV digital. Só depois será definido o preço da faixa, que
deve ser licitada para a banda larga móvel 4G em meados deste ano.
Segundo o diretor de Uso e Planejamento do Espectro da Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), Paulo Ricardo Balduíno, as
interferências existem e já foram comprovadas em estudos promovidos pela SET
(Sociedade Brasileira de Engenheiros de Televisão) e pelo SindiTelebrasil.
Porém, além dos custos de mitigação – que serão arcados pelas teles – a
preocupação dos radiodifusores é com a logística que precisará ser montada para
solucionar os problemas nos aparelhos de TV dos consumidores.
Na Inglaterra, que precisou desocupar a faixa de 800 MHz das TVs para acomodar a
banda larga, a saída foi criar uma empresa independente para tratar das
interferências. “A Ofcom criou a MitCo para implementar as soluções de mitigação
com abordagens pro e reativas no sentido de solucionar os problemas detectados
nos testes em 2,7 milhões das 27 milhões de residências atendidas pelo serviço
de TV aberta e os casos que não foram identificados previamente”, afirmou.
No Japão, que usa o mesmo sistema de TV digital do Brasil e a mesma faixa para o
LTE, a solução encontrada, segundo Balduíno, foi a formação da Aliança pro 700
MHz também voltada especificamente para atender esses problemas de
interferência. As duas estruturas funcionam com autoridade, autonomia e
orçamento próprio e são supervisionadas por órgãos de alto níveis. Na
Inglaterra, a empresa é totalmente financiada pelas teles e supervisionada pela
Ofcom, os radiodifusores e representantes dos usuários. Enquanto no Japão, os
custos são repartidos entre governo e teles e supervisionada pelo Ministério das
Comunicações, radiodifusores e as próprias operadoras de telecom.
“No Brasil, onde há um número maior de residências com TV aberta e cidades
espalhadas em uma área continental, como serão resolvidas as interferências?
Essa ainda é uma questão que precisa ser resolvida”, adianta Balduíno. Ele
lembra que a promessa do governo, de que nenhum consumidor será prejudicado com
a nova destinação da faixa, é mais um indicativo de que uma infraestrutura
semelhante a criada pela Inglaterra e pelo Japão é necessária no Brasil.
Pressa
O executivo afirma que, com base nos estudos já realizados, as cidades maiores
são candidatas a apresentarem mais problemas, por causa da densidade maior de
prédios mais altos, e de estações radiobase, além de uma tendência de que essa
quantidade de antenas de celulares continue crescendo. E afirma que, dependendo
da gravidade de interferência pode ser que haja a necessidade de se ter um
filtro extremamente complexo do ponto de vista da tecnologia, um filtro que
tenha que rejeitar uma interferência muito grande, mas do ponto de vista da
comercialização e instalação pode ser inviável. “E ai a coisa começa a ficar
mais complicada. Então o que fazer? Pode ter que mudar o tipo de antena da
estação radiobase, pode ter que diminuir a potência de transmissão da banda
larga e ai vai se combinar essas soluções de mitigação até que se chegue a um
compromisso em que se tenha um filtro com desempenho bom, com custo aceitável”,
prevê.
O problema é que a Anatel está apressando os testes para cumprir o cronograma
traçado de licitar a faixa entre junho e julho deste ano. Essa pressa preocupa
aos radiodifusores porque eles têm a convicção de que determinadas atividades
precisam ser feitas com critério, cautela, rigor e cuidado necessários. “Nossa
expectativa é de que esse ritmo acelerado não implique no encurtamento de
atividades que são imprescindíveis ao sucesso do uso da faixa, tanto pela
televisão como pela banda larga”, diz Balduíno.
Cronograma
Os testes da Anatel começaram para valer no dia 13 de janeiro. Até então o tempo
foi gasto na instalação e teste de toda a infraestrutura e, posteriormente, na
calibragem dos equipamentos. As medições devem estar concluídas até 22 de
fevereiro, assim como os testes confinados no laboratório da Intel, em Santa
Rita de Sapucaí, e o relatório entregue em meados de março. Esses resultados vão
identificar os cenários de interferência, que depois serão analisados por
engenheiros para indicar as soluções de mitigação.
Para ganhar tempo, os radiodifusores convidaram um fabricante de filtros para
acompanhar os testes, para começar a pensar como resolver nos problemas
encontrados. Depois disso é que se pode chegar a uma noção de custo.
Ainda vai faltar a elaboração do regulamento de mitigação, que terá que passar
por consulta pública. Paralelamente, será feito o edital, que também terá que
passar por consulta pública. E o Tribunal de Contas da União (TCU) ainda terá
que dar aval ao preço mínimo da frequência.
A possibilidade de adiamento prolongado da licitação está praticamente
descartada. Isto porque a arrecadação com a venda da frequência foi incluída no
Orçamento da União de 2014.