WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Espectro de 700 MHz --> Índice de artigos e notícias --> 2014
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na
fonte: Instituto Telecom
[11/06/14]
Licitação do 700 MHz: mais uma oportunidade perdida - por Márcio Patusco
O Brasil tem perdido oportunidades importantes para universalizar alguns de seus
serviços de telecomunicações essenciais para a população. À exceção do STFC
(telefonia fixa), que é um serviço prestado em regime público, todos os demais
serviços são prestados em regime privado, ou seja, não têm obrigações de
universalização. Isso traz distorções de atendimento importantes, tanto entre
classes de renda, como entre regiões do país. Como conseqüência, temos um abismo
de inclusão digital que não se tem conseguido superar.
No recente edital de licitação da faixa de 700 MHz, para prestação do serviço
celular 4G, vamos repetir o erro de não colocar metas de cobertura para os
vencedores de uma faixa de frequências das mais importantes para uma melhoria e
abrangência de nosso serviço de banda larga móvel. Aos vencedores do leilão
serão emitidas licenças nacionais de prestação de serviço que não imporão
regras, ficando a decisão ou não de atendimento das diversas regiões do país
inteiramente nas mãos das operadoras. Pode-se depreender perfeitamente destas
condições onde serão os pontos preferenciais para a localização desta
infraestrutura, privilegiando sempre o retorno financeiro, acentuando com isso
as diferenças sociais e regionais que atualmente já temos.
O leilão da faixa de 700 MHz segue um ritual de licenças “verticais”, onde os
vencedores implantam toda a infraestrutura para a prestação do serviço, desde os
protocolos de rede ate os protocolos de distribuição dos sinais, passando pelos
sistemas de back office que dão suporte ao serviço. Cada empresa vencedora da
licitação, prevê-se pelo menos 6 licenças a serem adquiridas, deverá implantar
todos estes sistemas e equipamentos sem compartilhamentos significativos de
infraestrutura. Isso é o que vem sendo feito em todas as licitações por aqui, e
também na grande maioria dos países. Não existiria alternativa mais econômica?
Mais dentro da realidade de países com interesse na universalização do serviço?
Com uma preocupação maior nos custos e na forma de sua efetiva cobrança ao
usuário?
Sim, existe. Essas perguntas vêm sendo respondidas pelo edital de licitação da
mesma faixa de 700 MHz idealizada pelo México. Inicialmente, durante o ano de
2013, os legisladores mexicanos incluíram na Constituição Federal a
conectividade como um direito do cidadão. Criaram um novo órgão regulador, o
Ifetel – Instituto Federal de Telecomunicaciones -, com maiores poderes, e vão
leiloar a faixa de 700 MHz para uma única empresa privada que será responsável
pela instalação da infraestrutura, correspondente aos recursos de rede, cabos,
fibras, antenas, etc., para provimento do serviço no atacado, com obrigações de
cobertura. Esta empresa colocará a sua infraestrutura, a preços estabelecidos
pelo Estado, para ser utilizada por empresas virtuais (MVNOs), na prestação do
serviço no varejo. Estima-se que existirão milhares de empresas virtuais nesse
mercado, desde os tradicionais prestadores de telecomunicações, como também os
prestadores de aplicações OTTs (over the top) que atuarão em nichos específicos,
num ambiente de competição e inovação.
A par do ineditismo técnico de separação da prestação do serviço em camadas de
atacado e varejo, outras duas preocupações se distinguem da implementação em
relação ao modelo brasileiro. Primeiro, o estabelecimento de obrigações de
cobertura à empresa de atacado, fazendo com que esta tenha que atender regiões
onde não haja obrigatoriamente retorno financeiro. E, segundo, o de controle de
custos, de modo a se prover o serviço com modicidade tarifária ao usuário. Estas
preocupações se revelam importantes no sentido de não deixar ao mercado as
soluções de atendimento em uma região onde exista uma dominância de empresas com
poder de mercado significativo, que naturalmente optarão por soluções que
privilegiarão o seu retorno financeiro.
O setor de telecomunicações a cada dia se torna mais dinâmico. Cabe aos
reguladores acompanharem essas mudanças no objetivo de oferecer soluções que
venham beneficiar a sociedade. Não se trata de simplesmente adotar modelos de
outros países que eventualmente não se adequem à nossa realidade, mas de
estudar, discutir e decidir por medidas inovadoras que melhor atendam às
necessidades de um país ainda carente por soluções adequadas à sua população.
Temos discutido pouco os caminhos por onde devem trilhar nossas
telecomunicações. Não existe sequer um fórum onde todos os interessados nesta
discussão possam expor suas idéias. Aliado aos resultados pouco alentadores de
nossa indústria, parece hora de se promover o incentivo a uma discussão aberta
do rumo desse mercado com vistas a alavancar o setor.