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[30/06/14]
Incertezas podem comprometer leilão dos 700 mhz no Brasil - por Adriano
Fachini
Adriano Fachini é empresário de telecomunicações e presidente
da Aerbras - Associação das Empresas de Radiocomunicação do Brasil.
O leilão da faixa de 700 mhz contém um custo adicional: a limpeza do espectro
que hoje é utilizado pela TV analógica
Em reunião realizada no último dia 26, na Telco, a Telefônica ficou mais próxima
de aumentar sua participação acionária em sua maior rival européia do setor de
telecomunicações. A Telco hoje é sócia da Telecom Itália, controladora da TIM no
Brasil. O processo vem sendo acompanhado pelo CADE e pela Anatel, haja vista a
Telefônica ser impedida de ser majoritária nas empresas controladoras da Vivo e
da TIM, simultaneamente. Como o CADE e a Anatel reagirão face a essa fusão? A
lei antitruste brasileira será cumprida e impedirá essa fusão? A postura das
autoridades brasileiras de um modo ou de outro impactarão o leilão da faixa de
700 mhz.
Enquanto isso na América do Sul, a Nextel se desfez de dois importantes ativos
na Argentina e no Chile. Aqui no Brasil já existe uma parceria com a Vivo, hoje
a maior operadora do país, que aumentou substancialmente sua área de cobertura e
possibilitou o lançamento de pacotes 4G. Com isso, a Nextel Brasil vem se
reposicionando no mercado não mais como uma empresa provedora de
radiocomunicação, mas sim como provedora de serviço de dados. Não obstante a
isso, o caminho natural para a Nextel Brasil é ser vendida ou incorporada por
outra operadora móvel de maior porte, o que provavelmente ocorrerá em breve.
Como ficarão seus clientes de radiocomunicação, ninguém sabe.
Nesse ambiente efervescente de movimentações dos grandes players dentro e fora
do Brasil, o leilão da faixa de 700 MHz, previsto para ocorrer até setembro
deste ano, foi divulgado em Nova York e em Londres semana passada. O ministro
das Comunicações, Paulo Bernardo, lidera a comitiva que conta com integrantes do
Ministério das Comunicações e da Anatel. A iniciativa do governo visa atrair
novos participantes para o mercado brasileiro de telefonia móvel, hoje bastante
cristalizado e com um nível de competição bastante baixo, haja vista o
brasileiro atualmente, segundo dados da UIT, pagar a conta de telefonia móvel
mais cara do mundo.
Embora o governo tenha a seu favor o fato do Brasil ser o terceiro maior mercado
de telefonia móvel do mundo, atrás somente dos EUA e China, é visto com bastante
cautela pelos investidores estrangeiros por diversos fatores. Podemos citar como
o principal deles a mudança de regras que beneficia algumas operadoras em
detrimento de outras.
Por exemplo: a nova política da Anatel do que vem sendo chamado de Uso
Industrial do Espectro. Antes determinadas frequências eram associadas a
determinados serviços. Se por um lado a adaptação de um serviço específico para
outro pode flexibilizar, por outro, as operadoras que pagaram caro em leilões
passados para ter o acesso a uma determinada subfaixa de frequência, agora terão
que concorrer com outras empresas que sequer pagaram pelos canais ou em alguns
casos, pagaram muito pouco.
Tal fato está prestes a se tornar realidade caso a Consulta Pública número 15
seja aprovada nos termos colocados pela Anatel. O assunto é polêmico e sinaliza
que mudanças nas regras podem ocorrer no decorrer do jogo. Ora, para quem
investe bilhões em um leilão somente para entrar no jogo e depois ainda terá que
investir pesado em infraestrutura para concorrer com empresas que já estão
estabelecidas no mercado, isso não é nada animador.
Afora tudo isso, o leilão da faixa de 700 mhz contém um custo adicional: a
limpeza do espectro que hoje é utilizado pela TV analógica. Caberá aos
vencedores do edital indenizar as emissoras de TV hoje usuárias dessa faixa. A
nova TV digital, além do conteúdo da TV aberta, terá interatividade com a
internet 3G por meio do aplicativo Ginga, desenvolvido para possibilitar o
acesso a conteúdos televisivos, muito a contra gosto das concessionárias de TV
aberta que ganharão novos concorrentes. Esse é o cenário de incertezas e
transformações que se desenha às vésperas do leilão da faixa de 700 mhz, que
seja como for será definido em breve.