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Fonte: IDG Now!
[20/05/14]
700MHz: alguns brasileiros terão que escolher entre usar a TV ou o celular
A Anatel custou mas reconheceu, nesta segunda-feira, durante a consulta pública
que debateu o leilão da frequência de 700MHz, o que as operadoras de telefonia e
os radiodifusores veem dizendo faz tempo: há casos onde a convivência da TV
Digital com os celulares 4G será de difícil solução. E, dependendo da tecnologia
usada, resolver o problema pode sair caro. Muito caro.
De acordo com os testes de campo realizados até agora, televisores digitais que
usam antena interna para captar o sinal da emissora são os mais afetados pela
interferência da proximidade do aparelho celular. Nesses casos, o telespectador
terá que escolher entre usar o celular ou ver TV. Os dois juntos, nem pensar.
O problema é grande porque o uso de antena interna para recepção do sinal de TV
Digital é muito comum em vários locais do país. Uma solução seria fazer todos os
telespectadores trocarem as antenas internas por externas, além de instalarem
filtros nos televisores. A Anatel argumenta que, no Japão, ter antena externa é
condição sine qua non para receber apoio à solução de mitigação de
interferências.
Acontece que, no Japão, a migração para valer ainda não começou. Só em setembro.
Até aqui, migraram duas localidades para a realização de testes em condições
reais de uso. O que o Brasil, dada as nossas peculiaridades de cobertura e
condições socioeconômicas da população, deveria pensar em fazer também, antes do
leilão da faixa de 700MHz. Nessas localidades, 6% dos televisores apresentaram
tela preta, por conta do uso da antena interna, na maioria dos casos.
Por esses e outros motivos, tanto os radiodifusores quanto as operadoras de
telefonia querem o adiamento do leilão. Segundo as operadoras, falta clareza
sobre os custos de mitigação de interferências com a TV Digital. Os
radiodifusores querem que os testes de campo sejam terminados antes da
elaboração do edital do leilão da frequência de 700MHz. Há discrepâncias
naturais entre os testes de campo e os de laboratório, que tornam os testes de
campo primordiais para as condicionantes do edital.
São os testes de campo que poderão apontar, com clareza, a necessidade ou não de
redução da potência do sinal das operadoras, para que não interfiram sobretudo
nos dispositivos móveis com recepção 1-seg: os GPSs, os celulares, os tablets…
Sabe aquela TV que você assiste no táxi, enquanto está preso no trânsito de
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro? Pois é…
O Fórum de TV Digital teria que emitir uma norma definindo novas características
técnicas para esses aparelhos. O problema é que, até o momento, o Fórum está
completamente alijado das discussões sobre o leilão, que impactarão no
desligamento do sinal analógico e, principalmente, na realocação dos canais
digitais no novo espectro de frequência destinado para a TV Digital. A falta de
diálogo tem incomodado muitos integrantes do fórum, embora nenhum deles admita
isso publicamente.
Entre os radiodifusores, muitos advogam que o edital dos 700MHz não seja tão
vago, e defina claramente os tipos de filtro que deverão ser usados para mitigar
a interferência. É preciso deixar mais claro também quais obrigações ficarão a
cargo dos radiodifusores e quais serão de responsabilidade das operadoras
(inclusive as financeiras), à luz das responsabilidades que serão assumidas pela
empresa que o governo pretende criar para administrar o desligamento do sinal da
TV analógica e realocação dos canais – a tal “Entidade Administradora do
Processo de Redistribuição e Digitalização de Canais de TV e RTV” ou,
simplesmente, EAD.
De acordo com o edital, caberá à EAD especificar, adquirir e instalar
equipamentos e infraestrutura de radiodifusão que garantam condições técnicas de
cobertura, capacidade e qualidade semelhantes as dos equipamentos de
radiodifusão já utilizados pelos radiodifusores objeto do ressarcimento,
transferindo, após a instalação, a propriedade desses bens aos respectivos
Radiodifusores. Também é dela a responsabilidade de adquirir e distribuir
filtros de recepção de TV e Conversores de TV Digital Terrestres com filtro de
recepção de TV embutido, bem como adotar outras técnicas de mitigação, quando
necessário, e de adquirir e instalar filtros de recepção nas estações de
radiodifusão impactadas. Além disso, terá que prover central de atendimento
telefônico para dirimir dúvidas e auxiliar a população na instalação dos filtros
de recepção de TV e Conversores de TV Digital Terrestre com filtro de recepção
de TV embutido, dentre outros.
O próprio Jarbas Valente, conselheiro da Anatel, advoga que além dessas
atribuições, a EAD estabeleça também uma forma de atendimento preferencial à
população nas hipóteses de domicílios equipados com antena externa que opere em
faixa de UHF, nos casos em que isso se faça necessário para a mitigação. A
preocupação é prever forma de atuação mais próxima junto a possíveis usuários
afetados, de modo a propiciar solução para eventual problemas de interferência
prejudicial.
Quanto mais claras estiverem essas questões, melhor para todos. Quanto mais
seguras as especificações técnicas, também.