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Tecnoblog
[08/10/14]
O que
o 4G de 700 MHz muda na sua vida - por Lucas Braga
Sem 700 MHz, 4G dificilmente se expandirá no Brasil além das exigências da
Anatel
As redes móveis de quarta geração começaram a ser implantadas no Brasil em 2012
para atender às demandas da Copa do Mundo. Dois anos depois, com operação nas
quatro grandes operadoras e um piloto da Nextel, no Rio de Janeiro, o 4G
continua oferecendo boa velocidade de conexão e baixa latência. O problema é que
a cobertura ainda está restrita a poucos locais. Por quê?
O principal motivo é a frequência adotada por aqui, de 2.600 MHz (banda 7 do LTE).
Ela dificulta bastante as coisas: por se tratar de uma frequência alta, a
penetração de sinal é prejudicada, com perdas significativas de sinal ao
ultrapassar obstáculos. O benefício é o suporte a um maior número de usuários,
motivo pelo qual ela é adotada em países europeus como banda complementar para
cobertura de grandes centros.
Até aí, a frequência de 2.600 MHz se torna ideal para as grandes cidades
brasileiras, onde é notável o gargalo das redes 2G e 3G. É impossível negar que
as operadoras vêm fazendo um bom trabalho ao cobrir as capitais: basta abrir o
mapa de cobertura das empresas e detectar que boa parte das torres também possui
4G. Mas isso não é suficiente: são várias as áreas de sombra de 4G, e o problema
só seria resolvido com uma rede de baixa frequência.
Até agosto de 2014, 120 cidades brasileiras possuíam acesso ao 4G. Isso
significa que 38,8% da população têm cobertura LTE em seus municípios. As
operadoras estão obrigadas a cobrir 790 municípios com a tecnologia — e devem
cumprir seus compromissos, mas não devem expandir para fora dos grandes centros,
como a Vivo fez com o 3G ao cobrir mais de 3.200 cidades.
Vamos exercitar a lógica: com uma frequência alta, como 2.600 MHz, as operadoras
precisariam colocar mais torres para cobrir cidades. Novas torres implicam
gastar mais dinheiro com equipamentos, infraestrutura e todas as burocracias
relativas ao aluguel do espaço físico. O investimento, portanto, é bastante
elevado, e nem sempre haveria retorno financeiro para justificar isso — o que
explica por que o 4G ainda está presente apenas em capitais e cidades maiores.
Adotar o 4G numa frequência baixa resolveria grande parte dos problemas
mencionados acima. No caso dos 700 MHz, frequência que foi leiloada na semana
passada para a utilização em redes de quarta geração, a penetração de sinal
seria superior a qualquer rede celular existente no Brasil, seja 2G ou 3G. O
custo de cobertura, portanto, seria menor, e dessa forma as operadoras teriam
interesse em cobrir mais cidades do interior.
Tudo isso parece lindo, mas há um problema: a faixa de 700 MHz atualmente é
ocupada pela TV analógica no Brasil. Será necessário aguardar o chamado
switch-off da tecnologia, e isso deve demorar bastante: o primeiro piloto será
feito na cidade de Rio Verde (GO), onde a TV analógica será desligada em
novembro de 2015 e a frequência será liberada apenas em novembro de 2016.
Cidades maiores como Belo Horizonte, Brasília e Goiânia terão suas frequências
liberadas entre abril e junho de 2017. O prazo aumenta quando se trata do Rio de
Janeiro, com liberação prevista para outubro de 2018, e São Paulo, onde a faixa
será liberada junto com o resto das cidades brasileiras, em novembro de 2019.
Confira o cronograma completo.
Vale lembrar que a Oi ficou de fora do leilão e não comprou o direito de
utilização da faixa de 700 MHz. A operadora fala em realocar sua licença de
1.800 MHz (que é atualmente utilizada em sua rede 2G), para futuramente
utilizá-las em 4G. Ainda resta uma chance de a operadora comprar a licença dos
700 MHz no leilão de sobras de frequências, que deverá acontecer no ano que vem.
E os aparelhos?
É bem comum encontrar comentários na internet de que o melhor benefício da
frequência de 700 MHz seria a disponibilidade de aparelhos, sobretudo os mesmos
comercializados nos Estados Unidos. Isso é lenda. O Brasil não adotou nenhuma
das bandas de 700 MHz utilizada nos Estados Unidos.
A frequência leiloada corresponderá à banda 28 do LTE, também conhecida como
700 MHz APT. Ela é utilizada atualmente em países asiáticos, e a União Europeia
já se comprometeu a utilizar tal padrão. A vantagem da nossa banda é a maior
flexibilidade ao espectro, algo que não é encontrado nos padrões americanos.
Isso também significa que os iPhones 5 ou 5s americanos não vão funcionar na
nova frequência. Na verdade, nem mesmo o iPhone 5s comercializado aqui possui
suporte a tal banda — os novos iPhones 6, no entanto, já citam a banda 28 como
compatível.
Como as frequências só devem ser liberadas a partir de 2016, você provavelmente
terá comprado outro smartphone que suporte as bandas do 4G brasileiro.