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Leia na Fonte: Teletime
[12/09/14]
Canalização da Ásia-Pacífico não deverá trazer problema para adoção do 700 MHz
no Brasil - por Bruno do Amaral
Aos poucos, o leilão de 700 MHz vai se tornando realidade para o mercado
brasileiro, mas o processo de harmonização com dispositivos utilizados em outros
países, especialmente nos Estados Unidos, pode não ser tão simples. Isso porque
a canalização escolhida para o espectro brasileiro será o APT700, da Asia
Pacific Telecommunity, padrão também conhecido pelo 3GPP como banda 28, e que
prevê a configuração FDD com 703 MHz a 748 MHz para uplink e 758 MHz a 803 MHz
para downlink, com 10 MHz de banda de guarda para cada fluxo. Na prática, isso
significa que alguns dispositivos trazidos de outros países, especialmente os
aparelhos mais antigos, poderão não ser compatíveis com o espectro no Brasil,
tanto para uso corrente quanto para roaming. Mas isso também pode ser uma
questão de tempo.
É o caso do iPhone. Até a semana passada, a Apple não disponibilizava nenhum
modelo compatível com a banda 28, apesar de ter total compatibilidade com a rede
de 700 MHz nos EUA. No entanto, o lançamento do iPhone 6 e 6 Plus não apenas
contemplou o ATP700, mas o fez com um chipset multibanda, suportando ao todo 20
bandas (inclusive 2,5 GHz) em um único modelo. A Samsung adotou estratégia
semelhante e o Galaxy S5 brasileiro também é compatível com o padrão. De acordo
com a Global Mobile Suppliers Association (GSA), em julho eram 33 aparelhos
fabricados por 11 companhias no mundo, incluindo smartphones, tablets, CPEs e
hotspots MiFi (pequenos roteadores pessoais), muitos deles, como os novos
iPhones, com tecnologia multibanda.
Já há redes com essa configuração em funcionamento no mundo. Atualmente, o
ATP700 é usado por operadoras na Austrália, Nova Zelândia, Taiwan e Papua Nova
Guiné, além do Japão, que licenciou parte do espectro de 700 MHz com a banda 28.
O padrão começará também a ser adotado em países na América Latina, como Chile,
Colômbia, México e Uruguai, com a promessa de, "em futuro próximo", chegar
também à região 1 da União Internacional das Telecomunicações (UIT), que abrange
Europa, Rússia, Oriente Médio e África. Há expectativa também de implantação na
Coreia do Sul e Índia.
Melhor configuração
O assessor do Conselho Diretor da Anatel, Agostinho Linhares, explica que a
decisão de escolher o ATP700 foi por acreditar que é uma configuração mais
eficiente e com potencial de crescimento maior. A agência começou a estudar as
possibilidades antes mesmo de uma adoção mais maciça, e, assim mesmo, entendeu
que o arranjo da Ásia-Pacífico era melhor. "Naquele momento já tinha o (arranjo)
americano em 2008, mas tinha várias restrições, como (a impossibilidade de
blocos) de 20 MHz + 20 MHz, o que já é possível no arranjo da APT", justifica.
A baixa penetração da banda 28 no mundo será solucionada com o tempo, acredita
Linhares. "A Europa está fazendo estudos e eles já sinalizaram que vão aderir
para o arranjo APT, já estão chamando isso de segundo dividendo digital",
declara, citando ainda a China como outro país comprometido a usar o padrão.
Segundo ele, a Anatel considerou o mercado internacional e a eficiência
operacional na hora de escolher, e a atual oferta de dispositivos também não
incomoda. "Não tinha nenhum aparelho antes, nos testes da Anatel estávamos com
protótipo, mas aí em julho já eram 33 smartphones, e hoje em setembro já serão
mais outros aparelhos. Vai ser muito forte (a adoção)", afirma.
O presidente da GSA, Alan Hadden, concorda e defende que a escolha do Brasil
pela canalização ATP foi "sábia". "O APT700 é um arranjo muito mais eficiente de
espectro e tem atraído suporte internacional mainstream para a configuração FDD",
disse, alegando que o padrão deverá atender a um mercado de mais de 2,2 bilhões
de pessoas. "A banda APT700 é uma grande oportunidade para a harmonização quase
global de espectro para sistemas LTE, assim pavimentando o caminho para garantir
as maiores economias de escala para dispositivos para usuários e capacidade para
a banda larga móvel e para roaming internacional".
Hadden argumenta que haverá, eventualmente, uma adoção global da banda 28, o que
levará fabricantes a aumentar o suporte em seus dispositivos. "Dessa forma,
podemos esperar que a banda será tão importante de incluir quanto as bandas de
850 MHz e 900 MHz. Com o cronograma do Brasil para a introdução da banda de 700
MHz em algum momento no futuro, e o País precisará primeiro desalojar a
radiodifusão da faixa, pode-se esperar que não haverá falta de modelos de
aparelhos – e em diferentes categorias de preço – para a escolha dos
consumidores brasileiros quando os serviços em 700 MHz começarem", garante.
Multibanda
Pelo lado dos fabricantes de celulares, a expectativa é de que, até que o padrão
seja adotado, possa-se contar com modelos compatíveis com mais de uma banda. O
especialista em produto da área de celular da LG Electronics do Brasil, Marcel
Inhauser, diz que a companhia considera a nova faixa na hora de escolher
variantes compatíveis. "Tem sido um grande desafio, já que também há uma
granulação do mercado 4G LTE em termos de frequência por operadora e por região,
o que torna bastante desafiador construir um portfólio que atenda variadas
necessidades tanto das operadoras quanto dos consumidores finais envolvendo
estes três fatores", disse. Ele garante que há uma administração da unidade
brasileira da companhia sul-coreana para que os modelos atendam às necessidades
locais em termos de prazo, preço, volume, custo-benefício e venda.
Inhauser ressalta que a LG é uma das "principais detentoras de patentes do
padrão LTE em caráter global", com aparelhos multibanda como o E977 Optimus G, e
que terá relacionamento próximo com operadoras nos processos de desenvolvimento
e homologação, e na seleção do portfólio. Na opinião dele, o consumidor não
precisará escolher entre aparelhos 4G compatíveis com 700 MHz ou com 2,5 GHz. "É
inegável que, assim como ocorreu no 2G e 3G, a tendência (até mesmo necessidade)
do mercado é ter aparelhos multibanda que eliminem esse tipo de preocupação",
diz. Ele garante que a companhia já tem investido em pesquisa e desenvolvimento
não apenas de dispositivos premium, mas também ao segmento de entrada. "Isso
elimina a necessidade de granularizar o fornecimento de modelos ou versões em
caráter nacional (por região, operadora ou outro fator) e problemas tanto do
lado operadora como consumidor final com incompatibilidades e inconsistência de
sinal."
A Sony Mobile confessa que não conta com aparelhos compatíveis porque a rede de
700 MHz no Brasil ainda não está disponível. "A Sony Mobile investe
constantemente na tecnologia de seus smartphones e os próximos lançamentos
trarão novidades no quesito conexão", afirma a diretora de marketing da
companhia no País, Ana Peretti.
Apesar de a Samsung já disponibilizar ao menos um modelo compatível com a banda
28 no País, o Galaxy S5, a companhia não quis comentar, assim como a Motorola
Mobility – ambas foram procuradas por este noticiário.