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Leia na Fonte: Convergência Digital
[28/04/15]
Governo diz a teles e TVs que vai exigir caixas interativas
- por Samuel Possebon
O ministro das Comunicações Ricardo Berzoini esteve nesta terça, 28, com
radiodifusores e empresas de telecomunicações. Em reuniões separadas, sinalizou
para os dois setores que a posição do governo é para que o Gired (Grupo de
Implantação da TV Digital) estabeleça como parâmetro para a caixinha de TV
digital o modelo mais avançado, com capacidade de interatividade plena pelo
padrão Ginga C, canal de retorno por meio de rede 3G e que seja compatível com
aplicações como as demonstradas pela EBC no Projeto Brasil 4D, que incluem
recursos de governo eletrônico e interatividade com a programação. Além de
Berzoini e a equipe do Minicom, estavam nas reuniões o presidente da Anatel,
João Rezende e o conselheiro Rodrigo Zerbone (presidente do Gired).
As reações dos dois setores foram igualmente parecidas. Os radiodifusores estão
extremamente preocupados que essa posição acabe gerando um aumento de custo que
comprometa substancialmente outras etapas do processo de desligamento da TV
digital. A maior preocupação é que falte recursos para a mitigação de
interferências, compensação aos investimentos feitos, logística e publicidade.
Segundo fontes do setor de radiodifusão, a maior dificuldade é que o governo
quer bater o martelo sobre o tipo de configuração de caixa sem ter uma dimensão
real do custo. Os valores, dizem os radiodifusores, variam muito nas diversas
configurações orçadas pelo governo, de US$ 38 a quase US$ 80, e ainda há o fator
câmbio. Lembrando que essas caixas serão distribuídas gratuitamente para cerca
de 12 milhões de beneficiários do Bolsa Família e que a ideia do governo é
desenvolver serviços de governo eletrônico para essa faixa da população. Se
originalmente as estimativas eram de um gasto de R$ 1 bilhão na aquisição das
caixas, esse valor pode facilmente saltar para R$ 2 bilhões, o que é quase dois
terços do orçamento da EAD (Empresa Administradora da Digitalização, que
comprará e distribuirá os equipamentos).
Mas, afinal, um modelo interativo não interessaria também à radiodifusão como
forma de enriquecer seu conteúdo? Os radiodifusores dizem que sim, e não admitem
nenhum receio de uma mudança no modelo de negócio, mas voltam a bater na questão
dos custos como uma preocupação, daí a defesa veemente da caixa mais simples.
Teles
Entre as empresas de telecomunicações, a leitura da reunião com o governo foi
outra. Primeiro, ficou uma mensagem ruim de uma intervenção do Executivo no
processo, que vinha sendo negociado pelo Gired tecnicamente.
Depois, existe uma preocupação de que se esteja adicionando uma complexidade
técnica mais difícil de ser administrada, com a manutenção posterior dos
equipamentos, vulnerabilidade de segurança, a dificuldade de uso e os riscos de
mau-funcionamento.
Há entre as teles, é claro, a questão do custo: para as teles, o princípio
fundamental é fazer a migração da TV analógica para a digital (liberando o
espectro de 700 MHz) dentro do prazo e sem gastar nada além dos R$ 3,6 bilhões
já previstos para isso. Aumentar o custo da caixa agora (nas contas das teles
ela sairá, na especificação do governo, por cerca de US$ 60) significa ter menos
recursos para gastar depois. Isso significa cortar despesas sobretudo em
publicidade.
Mas para as empresas de telecomunicações há um efeito positivo na imposição de
modelo que o governo está fazendo. Elas entendem que essa especificação mais
sofisticada da caixa não estava prevista na modelagem da Anatel quando elaborou
os valores do edital de 700 MHz. Como estaria havendo, agora, uma quebra das
premissas originais, haveria um argumento jurídico para brigar contra a
exigência de qualquer aporte financeiro adicional no futuro, na leitura das
teles.
Fontes do governo acham que é possível ainda construir um entendimento
pacificado no Gired na reunião que acontecerá nesta quarta, 29, mesmo com a
determinação de que se tenha uma caixa mais avançada. Há o entendimento de que a
interatividade é parte do Sistema Brasileiro de TV Digital e que seria
insustentável ao governo não exigir isso na caixinha que será distribuída para a
população de baixa renda. Também há a leitura de que não haverá grandes impactos
no orçamento, já que o valor previsto quando o edital de 700 MHz foi elaborado
era muito similar ao que se imagina chegar.