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Leia na Fonte: Convergência Digital
[15/05/15]
TV Digital dos mais pobres não terá acesso à Internet
- por Luís Osvaldo Grossmann
Durou pouco a promessa do governo de que a TV Digital dos mais pobres teria
‘interatividade plena’. Em prol de um suposto consenso entre operadoras móveis,
televisões comerciais e públicas prevaleceu a escolha de um conversor que,
apesar do Ginga, não terá conexão à Internet. Ou melhor, terá, desde que
brasileiros que precisam do Bolsa Família garantam em suas casas modems 3G ou
banda larga fixa.
“A Anatel apresentou uma proposta de consenso. Retiramos algumas coisas de
impacto financeiro muito forte, mas preservamos o que a gente considerava
essencial, que é o suporte à interatividade plena e ao Ginga C. Isso foi
alcançado”, festejou o coordenador do grupo de implementação da digitalização,
Gired, o conselheiro da agência, Rodrigo Zerbone.
A especificação a ser encaminhada à EAD – a empresa criada pelas teles para
operacionalizar a distribuição de conversores, antenas e filtros aos mais pobres
– prevê uma caixinha com 512 MB de memória RAM e 2 GB de memória flash. Haverá
entrada USB para um eventual modem e porta Ethernet, para uma eventual banda
larga fixa – nenhuma delas incluída.
Além disso, haverá dois fluxos distintos de vídeo, um com Mpeg 4, outro com Mpeg
1 – na prática, significa dizer que a janela de Libras poderá vir separada da
imagem principal, uma vantagem, mas com qualidade inferior. Também haverá saída
HDMI (mas não o cabo). E, como mencionado, a opção pelo chamado Ginga C.
Ainda que tratado assim, o Ginga na verdade é o mesmo – as alternativas de
implementação tem custo próximo a zero no software. O que faz diferença na
qualidade da interatividade são os componentes do conversor. E é aí que se farão
notáveis a ausência de conectividade embutida ou pelo menos de um sistema
Bluetooth.
Segundo Zerbone, tais componentes “teriam impacto financeiro forte”, embora não
revele o preço da configuração escolhida. Ela ficará, porém, próxima de US$ 30,
segundo apontam as estimativas feitas pela EAD. Em si, o valor é bem mais
próximo do modelo mais simples como desejado pelas teles do que do conversor
mais robusto defendido pelas TVs públicas.
“Em comparação com outras, é bem mais barata que a versão mais cara, mas mais
cara que a versão mais barata. O preço será visto pela EAD”, diz Zerbone. A
estratégia de aquisição ainda não é conhecida. Os primeiros 6,8 mil conversores
são necessários para a distribuição até novembro na goiana Rio Verde, primeira
cidade a ter os sinais analógicos desligados. No total, porém, há 14 milhões de
beneficiários do Bolsa Família, público que vai receber o conversor.
Na escolha da configuração, houve espaço para uma espécie de manifesto das
operadoras móveis. “As empresas de telecom fizeram uma declaração de voto
considerando a importância do consenso, mas colocando a necessidade de o Gired
avaliar constantemente a questão orçamentária, para evitar extrapolar o valor a
ser alocado”, explicou o conselheiro.
Explica-se: as teles apresentaram um voto em que defenderam que o conversor que
propuseram originalmente – que não tinha sequer botão de liga/desliga ou pilhas
no controle remoto – atendia a configuração desejada. Também se queixaram do
‘Ginga C’ e frisaram a necessidade de que os aportes não ultrapassem o que está
previsto no edital dos 700 MHz, os R$ 3,6 bilhões. Detalhe: o edital já previa a
possibilidade de aportes adicionais.
A Anatel promete que, se sobrar dinheiro, no futuro poderá ser reavaliado um
conversor com Bluetooth e canal de retorno embutido. Longe de ser um
preciosismo, o Bluetooth poderia ser usado como conexão (mesmo via aparelhos com
planos de dados pré-pagos) e, especialmente, como substituto ao teclado do
controle remoto da TV.
A alegação, como mencionado, é de que a conectividade embutida e o Bluetooth
seriam muito caros. De fato, incluir um modem 3G poderia elevar o custo do
conversor em cerca de 50% - mas é questionável o grau de interatividade sem ele.
Já o Bluetooth teria custo bem mais modesto – entre US$ 1 e US$ 4 a depender da
cotação.
“Se tiver recursos sobrando, vamos avaliar quando tiver mais visibilidades dos
gastos com propaganda, mitigação de interferência”, afirmou Rodrigo Zerbone.
Quem sabe aí possa ser cumprida a promessa que o ministro das Comunicações,
Ricardo Berzoini, fez na Câmara dos Deputados: “Defendemos que seja o ‘Ginga C’
para ter maior capacidade de interação, e que tenha um modem que possa fazer o
canal de retorno, que possa não apenas transmitir o sinal para a casa do usuário
mas que também faça o retorno das comunicações do usuário”.