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Leia na Fonte: Convergência Digital
[23/05/13]
Anatel decide regular, regulamentar e fiscalizar a neutralidade de rede -
por Luís Osvaldo Grossmann
A Anatel não resistiu. Ao definir nesta quinta-feira, 23/5, um novo regulamento
para o Serviço de Comunicação Multimídia, ou seja, a norma sobre o provimento de
acesso à Internet por redes fixas, a agência acabou por inserir a neutralidade
de rede no texto final aprovado pelo Conselho Diretor.
Embora não o tenha feito de forma minuciosa, o resultado foi muito mais
abrangente que o texto levado inicialmente pelo relator da proposta, Marcelo
Bechara. “Ainda é oportuno aguardar o debate do Congresso Nacional, por hora”,
disse ele ao apresentar sua sugestão. Para não haver “atropelos”, propôs “não
tratar desse tema no regulamento”.
O “efetivo amadurecimento do Congresso Nacional sobre a definição da
neutralidade de rede”, no entanto, não impediu o relator de uma preleção
marcial: “Neutralidade é competência da Anatel, porque a LGT dá competência à
agência sobre isso.”
Ressalte-se que a neutralidade de rede não é apenas o tema mais importante do
Marco Civil da Internet, como pivô dos conflitos que inviabilizaram a votação do
projeto de lei até agora. Com um detalhe: parte das divergências se dá
exatamente sobre qual seria o papel do regulador de telecom nessa matéria.
Nada disso conteve o Conselho Diretor. “O papel da Anatel nesse processo foi, é
e será fundamental. Não tenho dúvida nenhuma que a Anatel tem competência para
regular, regulamentar e fiscalizar a neutralidade de rede”, ecoou o conselheiro
Rodrigo Zerbone.
“Por outro lado, fico um pouco preocupado de não colocarmos nenhuma referência à
neutralidade de rede”, emendou Zerbone. Afinal, defendeu, a neutralidade é
“fundamental ao pleno desenvolvimento da competição e inovação na Internet”.
Como resultado, o novo regulamento dispõe que “as prestadoras devem respeitar a
neutralidade de rede, conforme regulamentação nos termos da legislação”. Em si,
um posicionamento razoável – bem mais do que o texto original dessa proposta de
norma, onde a exceção tornava o conceito inócuo.
Sobram, porém, os motivos que alimentam os temores daquela ala parlamentar – a
começar pelo relator do Marco Civil, o deputado Alessandro Molon, do PT/RJ – de
que a Anatel, tão próxima aos provedores de conexão, as teles, tenha, ao cabo, a
palavra final sobre, como ressaltou Zerbone, algo “fundamental à Internet”.
Em especial pelo contexto. Esse novo regulamento aprovado, em que pese a boa
intenção, dá um drible em um instrumento conhecido como Norma 4/95 – um
documento que também não é filho da virtude, pois o foco era atrapalhar os
planos da então estatal Embratel, que queria o controle do acesso à Internet,
inclusive sobre as demais teles regionais, mas sobre o qual se baseia
legalmente, no Brasil, a separação entre o mundo das telecomunicações e o mundo
da Internet.
Ao mexer na Norma 4/95, a agência dá mais um passo na direção de impor regras
afeitas à Internet – reduzindo o papel do Comitê Gestor da Internet brasileira,
onde a própria Anatel tem assento, mas partilhado com diversos atores. Assista a
apresentação do relator Marcelo Bechara sobre o novo regulamento.