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Leia na Fonte: Portal da Band / Colunas
[01/12/11]
Será que vai dar certo?
Hoje o Ministério das Comunicações realizou um grande seminário para discutir a
nova lei que rege a oferta de TV por assinatura - ou, como passou a ser chamado,
o Serviço de Acesso Condicionado (SeAC). Fomentar o debate, perante a sociedade,
de um assunto com impactos tão múltiplos para as empresas e para os próprios
brasileiros é louvável. Mas a maior função do evento parece ter sido outra:
revelar que, mesmo após cinco anos de discussões para a construção da lei e a
aprovação do texto no Congresso Nacional por meio de um "acordo" entre os
empresários, a nova legislação está muito longe de ser pacificada.
Ao que tudo indica algumas promessas já estão mostrando suas fragilidades. A
mais propalada é de que a Lei do SeAC seria uma grande alavanca para a oferta de
Internet em alta velocidade e, consequentemente, para o Plano Nacional de Banda
Larga (PNBL). A lógica por trás dessa promessa é que o novo formato de oferta de
TV paga - que passa a poder ser comercializada também pelas grandes
concessionárias de telefonia fixa - estimularia a construção de novas redes
convergentes, que podem ser usadas tanto para a prestação de banda larga quanto
de televisão por assinatura.
De fato haverá uma convergência de serviços, traduzida para os consumidores como
uma maior oferta de pacotes onde o cliente pode comprar telefone, Internet e TV
por um preço único. Mas essa lógica de mercado não se traduz, necessariamente,
na expansão dos serviços para além dos mercados já conquistados. Apostar que a
convergência resolverá a concentração de oferta de banda larga nos grandes
centros pode não ser uma boa opção.
Com base em um estudo feito pela LCA Consultores, o presidente da Telebrasil
(associação que representa as teles), Antônio Carlos Valente, apresentou uma
projeção de investimentos na ordem de R$ 150 bilhões até 2020. A equipe do
Ministério das Comunicações também acredita em um boom de investimentos, mas não
sem uma ajudinha pública. Um dos principais projetos do ministro Paulo Bernardo
prevê uma renúncia fiscal de R$ 1 bilhão por ano para a construção de novas
redes de telecomunicações. Tudo para estimular a oferta de banda larga.
Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) não há como ter certeza
de que essa ampliação de investimentos e de área de atendimento realmente irá
ocorrer. Na visão do especialista em planejamento e pesquisa do órgão público
Rodrigo Abdalla, a nova lei só irá mexer no modelo de oferta para quem já tem
acesso aos serviços de TV por assinatura e banda larga. Quem não tem, pode
acabar continuando sem ter. "Não se pode achar que uma lei vai resolver todos os
problemas de acesso do Brasil. Ela está limitada às áreas que já são
competitivas", afirmou o pesquisador.
Outra preocupação do Ipea é com a política de renúncia fiscal. O investimento em
redes é algo natural nos mercado competitivos. Abdalla questiona a lógica de se
estimular a construção das redes com a desoneração, avaliando que esses recursos
públicos que deixarão de ser arrecadados poderiam ser investidos na real
garantia de que a população tenha acesso a um serviço de custo menor. Hoje, a
maior barreira no acesso aos serviços de telecomunicações é econômica.
Segundo o Ipea, as famílias brasileiras gastam, em média, de 2% a 3% de sua
renda com esses serviços. Com base em dados do IBGE, o acesso aos serviços de
telecomunicações está restrito às famílias com renda acima de cinco salários
mínimos, faixa que compreende as classes A, B e parte da C. Isso significa a
população com menor poder aquisitivo simplesmente não consegue arcar com os
custos desse tipo de produto.
Mas as preocupações dos analistas são ainda mais amplas. A nova lei estimula a
concentração de empresas em grupos, prática que pode acabar exterminando as
pequenas companhias que oferecem serviços de TV paga e Internet. Ou seja, o
cenário projetado pelo Ipea em nada se assemelha com as promessas feitas pelo
governo para angariar apoio para a nova lei. Corremos o risco de ter apenas os
investimentos que já estavam previstos para o setor concentrados nas áreas onde
existe concorrência. A inclusão digital com a expansão da oferta do serviço para
além dos grandes centros pode jamais ocorrer e, ainda por cima, passamos a ter
um estímulo à concentração de mercado nas mãos dos grupos de telefonia.
Existem ainda muitas brechas na nova legislação, que podem trazer efeitos
nocivos a diversos segmentos de comunicação, como a radiodifusão e os portais de
conteúdo na Internet. A expectativa é que a regulamentação, que está sendo
elaborada pela Anatel e pela Ancine, possa preencher parte dessas lacunas e
garantir que a comunicação no país continue competitiva e diversificada. Mas é
importante ficar alerta. Ainda há muita coisa para ser equacionada no novo
modelo de oferta de TV paga. E, pelo menos por enquanto, não há nenhuma garantia
de que as promessas de expansão dos serviços de telecomunicações realmente vão
se cumprir.