Fonte: Tele.Síntese
[22/04/08]
Ação
da Pro Teste quer manter o passado - por Miriam Aquino
A entidade insurge-se, equivocadamente, contra a troca de metas de
universalização, que substitui os velhos postos de telecomunicações pela
infovia de banda larga. A ação civil pública promovida pela Pro Teste –
Associação Brasileira de Defesa do Consumidor pede que sejam declarados
nulos todos os artigos dos decretos presidenciais (de 2003 e de 2008) que
estabelecem, como meta de universalização das concessionárias de telefonia
fixa, a construção da rede de banda larga (o backhaul).
Na ação, que tramita na Justiça Federal do Distrito Federal, a entidade
responsabiliza a União, a Anatel e as empresas – Brasil Telecom, Telemar,
Telefônica e CTBC – por estarem promovendo uma “ilegalidade” e pede que a
justiça paralise a implantação dessa rede até o julgamento final da ação,
para que fique assegurado o acesso ao “serviço de telefonia fixa comutado
aos cidadãos brasileiros.”
A entidade, que pretende representar os consumidores, quer manter como
obrigação contratual das concessionárias a instalação de postos de serviços
de telecomunicações – orelhões um pouco mais sofisticados, mas que só
oferecem o acesso à internet pela vagarosa linha discada. Ou seja, a Pro
Teste quer manter o passado e condenar o país a adiar a construção dessa
auto-estrada para o conhecimento.
Para justificar sua posição, a Pro Teste chega a argumentar que, embora seja
favorável à inclusão digital, não pode concordar com a troca de metas porque
o governo não apresentou como prova qualquer instrumento contratual que
assegure que as operadoras irão conectar gratuitamente as 55 mil escolas
públicas brasileiras.
Ora, convenhamos, achar que o governo iria aceitar “de mentirinha” a conexão
destas milhares de escolas é nem mesmo acreditar nas inúmeras instâncias de
fiscalização da sociedade e dos próprios poderes constituídos.
A Pro Teste, para se posicionar contra a construção desta rede, que irá
chegar, em três anos, a 3.516 municípios que não têm qualquer
infra-estrutura de banda larga, argumenta também que os usuários da
telefonia fixa irão “bancar” a construção desta rede, e “enriquecer” os
cofres das operadoras.
Outra inconsistência. Pelas próprias regras estabelecidas já se sabe que as
receitas adicionais a serem geradas com a prestação desse novo serviço (a
venda da capacidade do backhaul para que terceiros ofereçam acesso a banda
larga) terão que ser revertidas em mais rede de banda larga, justamente
porque, agora, são metas de universalização. Ou seja, mais serviços
universais, mais redes. Não é disso que o país precisa?
Competição
A entidade se manifesta ainda em defesa da competição, preocupação
justificada, mas os argumentos são inconsistentes. Segundo a Pro Teste, as
pequenas empresas que têm licenças de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM)
se propuseram a construir o backhaul. O que não foi bem assim. Os provedores
de acesso à internet ofereceram ao governo o que sabem fazer: o acesso à
internet e a disponibilização de contas de e-mail para as escolas. Em
contrapartida, queriam um preço mais barato pela conexão do backhaul a ser
construído.
O risco da ampliação do monopólio existe, mas este novo plano de metas abriu
a chance para o controle de preços no atacado, hoje livres. Recentemente, o
conselheiro da Anatel Pedro Jaime Ziller de Araujo afirmou que a agência vai
criar tarifas para a conexão deste backhaul, uma medida que será muito
bem-vinda, pois irá permitir que as pequenas empresas locais contratem a um
preço justo essas conexões. E, assim, poderão ampliar a oferta da última
milha da banda larga para diferentes comunidades. Não há nada que justifique
a condenação desta medida, que certamente irá trazer muitos benefícios para
a sociedade brasileira.