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Leia na Fonte: Website de José Smolka
[30/04/09]  Ainda o backhaul...

----- Original Message -----
From: J. R. Smolka
To: wirelessbr@yahoogrupos.com.br
Sent: Thursday, April 30, 2009 10:15 AM
Subject: [wireless.br] Ainda o backhaul...

Pessoal,

Pode ser que eu esteja me repetindo, mas continuo com a sensação que esta história de backhaul está mal explicada, tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista político.

Não tenho muito interesse em fazer carreira política, então vou me limitar a discutir o aspecto técnico.

Primeiro: o que é um backhaul? Estas definições já foram compiladas pelo Hélio, mas eu dou a minha: é a infra-estrutura de conexão dos pontos de concentração da rede de acesso com o núcleo de alta capacidade de transmissão da rede (onde, normalmente, também estão localizados os pontos de interconexão com outras redes), também conhecido como backbone.

Notem a hierarquia desenhada: acesso, concentração (backhaul) e núcleo (backbone). Notem também a ausência de adjetivos. Eu não disse acesso/backhaul/backbone do STFC, ou IP, ou o que seja. O motivo é simples: por razões econômicas, quanto mais serviços puderem compartilhar o uso da mesma infra-estrutura melhor. O jargão telecom para isto é multi-serviço, uma espécie de santo graal da indústria, perseguido desde os heróicos tempos do ISDN (ou RDSI, no jargão Telebrás - melhor não esquecer, porque pode ser que volte :o) ).

E, é bom não esquecer também, tudo isto nasceu dentro das operadoras de telecom nos tempos em "operadora de telecom" significava um único serviço: telefonia (ou STFC, conforme define o marco regulatório no Brasil, hoje). Comunicação de dados, neste tempo, era apenas um acessório, um penduricalho, ao lado do majestoso e imponente serviço de telefonia.

Mas não vamos fugir do assunto... Todo este papo sobre instalação de modems xDSL, DSLAMs e BRASs para prover acesso em banda larga para escolas e órgãos públicos (e, porque não, para a população em geral) é uma discussão de rede de acesso. Não é backhaul. Embora transforme a rede de acesso tradicional do STFC (pares metálicos) em multi-serviço, e seja uma das alternativas para a sonhada inclusão digital (não vou entrar, aqui e agora, em discussões sobre FTTx, DOCSIS, femtocells 3G/4G e assemelhados) não é este o foco das metas de universalização propostas no novo PGMU.

O assim chamado backhaul é o que, nós que trabalhamos em operadoras, conhecemos prosaicamente pelo nome transmissão. E a tecnologia PDH (canais E1, E3, etc.) e todas as suas sucessoras, sempre foram usadas tendo em mente a possibilidade de alocação de banda, determinística ou estatisticamente, para múltiplos serviços concorrentemente.

Então, neste sentido, o backhaul das operadoras, seja ele PDH, SDH (com ou sem ATM associado), NG-SDH, ou xWDM, é suporte para o STFC, sim! Só que ele não é suporte apenas para o STFC, e só uma operadora muito tapada usaria estruturas separadas de backhaul/backbone para cada serviço. É ilógico e anti-econômico (neste caso ainda existe hífen?). Pode ser que, nos termos da legislação em vigor, isto seja ilícito, mas é assim que é feito.

Então resumo minha opinião sobre o imbroglio da seguinte forma:

1. O STFC já está, para todos os efeitos práticos de infra-estrutura de acesso, backhaul e backbone, universalizado. Este é o principal argumento da Pro-Teste (e da Fláfia Lefévre, sua advogada no caso) para pleitear a redução ou eliminação da tarifa básica do serviço. Creio que eles tem razão nisto.

2. Embora a tecnologia permita, e esteja de fato sendo feito naquelas localidades onde outros serviços (principalmente acesso à Internet em banda larga via xDSL) estejam sendo prestados compartilhando a rede de acesso do STFC, na maioria das localidades da área de concessão das operadoras o backhaul existente é usado exclusivamente para o transporte do STFC. Creio que este seja o argumento dos que defendem o "evidente" status do backhaul como reversível, mas também creio que não faz mal nenhum reiterar isto nos contratos.

3. Definir a expansão da capacidade do backhaul das localidades como meta no PGMU só tem sentido em duas hipóteses: ou existe a previsão de um baita aumento da demanda por ligações STFC interurbanas originadas/destinadas em/a localidades pequenas e médias; ou existe a previsão de lançamento de novos serviços nestas localidades. Não acredito na primeira hipótese. Já a segunda é coerente com a idéia da oferta obrigatória de acesso à Internet em banda larga para escolas e órgãos públicos (e, de quebra, para o resto da população - que possa pagar, claro), mas tem o vício da exigência mal disfarçada da prestação de um serviço que pode ser ilegal, nos termos da legislação atual.

4. O pior, em minha opinião, fica para o futuro, em uma eventual não renovação do contrato de concessão do STFC de alguma das operadoras atuais (BrOi e Telefônica). Se o backhaul for expandido conforme pede o novo PGMU, é certo que esta capacidade adicional não vai ser direcionada primariamente para cursar tráfego do STFC. A participação de outros tráfegos (inicialmente SCM, mas outros podem vir no vácuo) na banda do backhaul vai aumentar e, eventualmente, superar a banda utilizada pelo STFC. Quando isto acontecer - e tenho certeza que acontecerá antes do final do prazo dos contratos de concessão - como fica o status do backhaul como bem reversível?

5. Não acredito em soluções do tipo recriação do antigo seriço de troncos (operado, então, pela Embratel) ou ressurreição da Telebrás. Acredito que existe a necessidade de revisão completa da LGT e todos os PGMx (x = U, Q, etc.) associados, para criar um novo marco regulatório que faça sentido na nova realidade tecnológica.

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J. R. Smolka