Os dois principais projetos do governo referentes à banda larga fecharam o
ano de 2008 abaixo das metas estabelecidas, por culpa das empresas. Houve
falhas no atendimento a escolas como parte do programa Banda Larga nas
Escolas, e falha na implantação de backhaul, parte do Plano de Metas de
Universalização (PGMU).
Segundo dados preliminares, a Oi havia implantado backhaul em apenas 550
municípios até novembro. Até dezembro, deveria chegar a 1.092. Ou seja, a
operadora teria que atender quase metade da meta do ano em apenas um mês, o
que era virtualmente impossível. Segundo apurou este noticiário, a operadora
não havia passado à Anatel o número preciso de atendimento da meta, mas
havia informado que ela não havia sido cumprida integralmente. As demais
teles, contudo, atenderam a meta de backhaul com sobra. A Telefônica
implantou backhaul em 111 municípios, para uma meta de 103. A Brasil Telecom
chegou a 183 municípios, para uma meta de 181. Na próxima quinta, 15, uma
reunião envolvendo a Anatel, a Casa Civil, a Presidência da República e o
Ministério das Comunicações deverá avaliar os resultados juntamente com as
empresas. Na reunião, as operadoras deverão apresentar seus argumentos.
Na caso da Oi, a justificativa será o fato de a 6ª Vara do Distrito Federal
ter concedido, em meados de novembro passado, uma liminar em favor da Pro
Teste suspendendo a troca de Postos de Serviços de Telecomunicações (PSTs)
por backhaul, conforme mudança do PGMU realizada no começo de 2008. O que
enfraquece o argumento da Oi é que as demais teles cumpriram suas metas.
Mas, de fato, até o presente momento a liminar da Pro Teste não foi
suspensa.
Outro aspecto deve ser lembrado: apesar de tanto empresas quanto governo
garantirem que a mudança no PGMU não ter nenhuma vinculação com a mudança no
Plano Geral de Outorgas (PGO), que permitiu a consolidação de
concessionárias de telecomunicações, o que se comentava informalmente na
época entre as operadoras é que elas aceitariam a política de
universalização do backhaul como forma de evitar atritos com o governo que
pudessem atrapalhar alterações mais amplas na regulamentação, sobretudo a
mudança no PGO.
Escolas
Outro projeto caro ao governo implantado em 2008 foi o Banda Larga nas
Escolas, pelo qual as concessionárias de telecomunicações se comprometeram a
atender gratuitamente 100% das escolas em áreas urbanas com acesso banda
larga até 2025. Também aqui as concessionárias ficaram abaixo da meta do
primeiro ano de implantação. Nesse ponto, a informação levantada pelo
governo é de que a Oi atendeu cerca de 70% das 12,68 mil escolas que deveria
ter atendido no primeiro ano, a Telefônica chegou a um patamar similar de
atendimento (70%) para a meta de 3,6 mil escolas e a Brasil Telecom cumpriu
100% da meta de 6,04 mil escolas que deveria atender em 2008. CTBC e
Sercomtel também cumpriram as metas de, respectivamente, 234 e 75 escolas.
Nesse caso o argumento que deverá ser dado ao governo não pode ser a liminar
do backhaul, já que o projeto Banda Larga nas Escolas, ainda que tenha sido
criado concomitantemente à mudança do PGMU e no mesmo contexto político, não
passa pela concessão de telefonia fixa, mas sim por um aditivo à licença de
prestação de SCM das concessionárias. No caso da Telefônica, o problema
estaria basicamente nas escolas atendidas por meio de convênio com o Governo
do Estado de forma remunerada (o Banda Larga nas Escolas, do Governo
Federal, não prevê contrapartidas econômicas). No caso da Oi, além da
justificativa do backhaul, deve ser alegado também o fato de que algumas
escolas não estavam abertas ou prontas, em dezembro, para receber a
instalação das conexões.
De qualquer maneira, tanto no caso do não-cumprimento da meta de backhaul
quanto no caso da meta de escolas, cabe à Anatel a abertura de PADOs para
averiguar o eventual descumprimento de compromissos.
Samuel Possebon