A Anatel conseguiu, enfim, convencer as concessionárias a assinar um novo
termo aditivo ao contrato de concessão incluindo expressamente a cláusula de
reversibilidade do backhaul, incluído como meta de universalização no ano
passado.
A reinclusão da cláusula deverá ser sacramentada nesta quinta-feira, 4, com
a publicação no Diário Oficial da União dos novos termos aditivos. A agência
conseguiu as assinaturas das empresas no dia 15 de maio, mas o
encaminhamento à Imprensa Nacional dos documentos só foi realizado nesta
quarta-feira, 3.
A cláusula terceira havia sido retirada ad referendum pela Anatel na época
da troca das metas, alegando que a citação sobre o retorno desta nova rede à
União era supérflua, uma vez que a infraestrutura seria um componente
natural da rede de telefonia fixa. A decisão, no entanto, gerou muitos
problemas para a Anatel, pois a Justiça entendeu que a existência da citação
era necessária para evitar dúvidas futuras sobre a reversibilidade.
Tudo certo
Com a inclusão da cláusula, a Anatel atende as recomendações da 6ª Vara de
Justiça Federal do DF e do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1),
que se pronunciaram pela necessidade de esclarecimento por parte da agência
sobre a reversibilidade do backhaul em ação movida pela entidade de defesa
do consumidor Pro Teste em abril de 2008.
A ausência da cláusula foi peça-chave para que a Pro Teste conseguisse, em
novembro do ano passado, uma liminar impedindo a expansão do backhaul como
meta de universalização. A Anatel iniciou em janeiro deste ano uma
negociação com as concessionárias para colocar expressamente a
reversibilidade nos contratos. Mesmo com as críticas feitas pelos
desembargadores do TRF1 com relação à retirada da cláusula, a agência negou
que a iniciativa estivesse pautada na disputa judicial travada com a Pro
Teste. O argumento usado na época era que a autarquia teria analisado a
"conveniência e oportunidade" da reinclusão da cláusula.
Apesar disso, a edição de um contrato mais claro passou a ser tratada como
fundamental para a derrubada da liminar. O impedimento legal para a
implantação do backhaul, no entanto, acabou sendo retirado em abril deste
ano, com a aceitação pelo TRF1 de um recurso apresentado pelas
concessionárias Oi, Brasil Telecom e Telefônica. Só que a decisão por anular
a liminar não tratou da questão da reversibilidade, o que gerou
interpretações jurídicas da procuradoria da Anatel que o esclarecimento
deste aspecto continuava sendo imprescindível para o setor. Daí a decisão
por insistir na reinclusão da cláusula.
Louros
Para a advogada da Pro Teste, Flávia Lefèvre, responsável pela ação civil
pública, a reinserção da cláusula já é uma vitória mesmo que o ponto
principal do processo não seja aceito: o fim da política de planos de metas
de universalização. "Dos males o menor. Pelo menos a gente vai garantir que
o backhaul será regulado no regime público e fará parte da lista de bens da
União. Isso é muito importante porque estamos falando de uma meta de
universalização que poderá usar recursos do Fust e da suada tarifa da
assinatura básica. Então, é justo que essa rede seja nossa, da sociedade",
afirmou. Flávia também ressaltou que a Pro Teste continuará acompanhando
outras movimentações da Anatel relacionadas com a reversibilidade dos bens,
como o projeto de mudança do regulamento específico sobre o assunto e os
novos contratos de concessão, que vigoram a partir de 2011. "Vamos
acompanhar atentamente a reformulação do regulamento e dos contratos para
que fique garantido que não só os bens essenciais sejam reversíveis, mas
também todos aqueles que sejam implantados no contexto do cumprimento de
metas de universalização."