Conselho consultivo prepara relatório sobre a reversibilidade do backhaul a
ser encaminhado em duas semanas
O conselho consultivo da Anatel retomou nesta sexta-feira, 27, o debate
sobre a reversibilidade do backhaul para a União ao fim dos contratos de
concessão da telefonia fixa (STFC), em 2025. Para o pesquisador do Grupo de
Estudos em Direito das Telecomunicações da Universidade de Brasília (GETEL/UnB),
Gabriel Laender, a agência reguladora será capaz de estabelecer tal garantia
somente se colocar o serviço de banda larga no rol de serviços prestados em
regime público, como acontece com a telefonia. Laender considera que a
iniciativa de inserção da cláusula de reversibilidade no termo aditivo dos
contratos de concessão não é suficiente para garantir à União a posse da
infraestrutura de banda larga.
Durante a reunião do conselho consultivo, o pesquisador da UnB buscou
esclarecer que a ação movida pela associação ProTeste não se restringe à
definição do backhaul como um bem público em 2025. Segundo ele, o problema
está no fato de o governo ter proposto uma troca de metas de universalização
– a instalação do backhaul no lugar dos antigos PSTs – sem alterar a
legislação de modo a tornar a comunicação de dados também um serviço
público.
"A simples inclusão do termo jurídico (bens reversíveis) não resolve. É a
universalização que está no cerne da questão, pois ela diz respeito somente
aos serviços considerados públicos", disse Laender. E completou: "Se essa
decisão normativa não for tomada, haverá o risco de ocorrer uma solução pelo
caminho incerto do judiciário que não tem o papel dele regular o setor".
Laender ressaltou a necessidade de se estabelecer uma fronteira mais
definida entre os serviços públicos e privados. "Precisamos saber se os
recursos das concessionárias serão aplicados mesmo no STFC ou no SCM". Ele
ressaltou que é pertinente a ação movida pelo ProTeste, já que é responsável
por promover o debate sobre a legitimidade da política pública no setor de
telecomunicações. "Se o judiciário não pudesse fazer este trabalho,
viveríamos na tirania da Anatel". Para Laender, a LGT (Lei Geral de
Telecomunicações) concede à agência o direito alterar o regime do SCM
praticado pelas concessionárias, a ampliação do conceito de STFC.
A advogada da associação Pro Teste, Flávia Lefèvre, defendeu que a solução
do problema envolvendo a troca de metas de universalização depende da
iniciativa do Minicom. Segundo ela, não será a criação de regulamento pela
Anatel – ou a mudança da LGT pelo Congresso Nacional – que trará a solução
definitiva para o impasse. "Esperamos a tomada de decisão da instituição que
define as políticas públicas do setor. Se o governo fala tanto que a banda
larga é essencial, que faça um decreto dizendo que a banda larga é um
serviço público", afirmou a advogada, que é ex-integrante do conselho
consultivo.
Para Flávia Lefèvre, a liminar concedida pela Justiça Federal à entidade tem
o objetivo de questionar a eficiência da política pública do governo na
universalização do serviço de telefone fixo no país. Segundo ela, aconteceu
a universalização das redes de telecomunicações, mas não ocorreu a
universalização do acesso da população. A razão, segundo ela, é o alto preço
da assinatura básica. "Temos a quarta tarifa mais cara do mundo, que se
torna a grande barreira para universalizarmos de fato o serviço de voz no
país", disse.
Patrimonialismo
Para o diretor de Regulação e Estratégia da Oi, Alan Riviere, a
reversibilidade de bens não deve ser entendida pela visão patrimonialista.
Segundo ele, deve ser observado o caráter de continuidade na prestação de
serviços públicos ao fim dos contratos de concessão. Ou seja, será
reversível somente a infraestrutura telecomunicações necessária para
garantir a funcionalidade do serviço de voz.
Conselho consultivo prepara relatório sobre a reversibilidade do backhaul a
ser encaminhado em duas semanas
Riviere garantiu que a Oi manterá os investimentos previstos para ampliar a
infraestrutara de rede de banda larga. No entendimento do diretor, o
backhaul é um bem reversível. Ainda assim, Riviere considera importante a
definição da regulamentação do decreto presidencial, que estabelecera a
troca de metas, para garantir a segurança jurídica. Ele informou ainda que o
conselho de administração já autorizou a assinatura do termo aditivo com a
cláusula de reversibilidade.
A perspectiva de abandono da visão patrimonialista também foi defendida pelo
presidente da Abrafix, José Fernandes Pauletti, e pelo representante da
Telefônica, Fernando Freitas. Pauletti disse que legislação vigente tende a
estabelecer o conceito tradicional de "bens físicos", ao se referir ao
patrimônio das concessionárias que pertence à União. Já Freitas ironizou,
chamando a atenção do conselho consultivo para a necessidade de debater
"males irreversíveis" relacionados aos aspectos negativos do regime público
que entravam o desenvolvimento do setor de telecomunicações.
De acordo com presidente do conselho consultivo, Francisco Perrone, o
relatório sobre o debate da reversilibilidade dos bens será encaminhado à
direção da agência em duas semanas.