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Fonte: Teletime
[05/04/11]
Valor residual dos bens reversíveis seria de pelo menos R$ 20,9 bilhões, apontam
relatórios - por Mariana Mazza
Desde a privatização, as concessionárias reclamam do chamado controle
"patrimonialista" dos bens reversíveis. No entendimento das teles, o método de
acompanhamento dos inventários usado pela Anatel seria exageradamente minucioso,
exigindo das concessionárias o controle absoluto de bens desnecessários ao
funcionamento da concessão, como até mesmo mesas e cadeiras. Recentemente, o
secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Cézar Alvarez, saiu em
defesa do controle "estratégico" do patrimônio reversível, dizendo que a
sociedade deveria parar de exigir da Anatel o controle do "fusquinha, do
(computador) 386", sugerindo que os bens reversíveis seriam um conjunto de
equipamentos antigos e de pouco valor.
Acontece que o "fusquinha" em questão tem valor bilionário. Mesmo com todas as
alienações sem aval da Anatel e transferências impossíveis de se rastrear, as
próprias empresas admitem que o valor residual dos bens reversíveis seria de R$
20,919 bilhões. O valor residual inclui a depreciação acumulada dos bens nos
últimos anos, depreciação esta que também é objeto de dúvidas da fiscalização da
Anatel, segundo os relatórios internos a que TELETIME teve acesso. Apesar das
empresas alegarem que o maior índice de depreciação aplicado foi de 20%, os
fiscais encontraram diversos casos em que a taxa utilizada foi maior do que a
declarada. Assim, mesmo sem considerar as vendas irregulares, o patrimônio
reversível é bem mais valioso do que os R$ 20 bilhões declarados pelas
concessionárias, segundo a análise dos técnicos.
Neste valor não está incluída nenhuma licença de uso de radiofrequência, apesar
de ser indiscutível a natureza pública do espetro e sua consequente
reversibilidade. Essas licenças somadas representam mais alguns bilhões para os
cofres públicos. Por enquanto, é impossível estimar o valor total das vendas e
transferências que foram feitas supostamente em desacordo com as exigências
legais. Para se ter uma ideia da falta de rigor no controle do patrimônio, a
fiscalização descobriu que uma das concessionárias até hoje faz o acompanhamento
em papel das torres instaladas no estado da Bahia e por meio de planilha
geográfica em Minas Gerais e Espírito Santo. E, nos demais estados operados pela
empresa simplesmente não há controle algum. A empresa também teria a prática de
inserir "centrais telefônicas fictícias", ou seja, inexistentes, em sua lista
patrimonial.
Outro exemplo do descaso na produção do inventário está no relatório de
fiscalização da Brasil Telecom. A concessionária, que em 2008 foi comprada pela
Oi, mas que teve a sua concessão mantida separada e que, portanto, continua
sujeita às mesmas regras de reversibilidade, teria equipamentos cadastrados
erroneamente no sistema, como 102 itens classificados como "mesa para
impressora" inseridos na coluna "equipamento de comutação pública", custando
cada unidade R$ 1,512 milhão.
Sem providências
Apesar das constatações da equipe de fiscalização, pouco foi feito pelo órgão
regulador para reverter a situação. Além dos atos exigindo que as teles
atualizem as listas, a Superintendência de Radiofrequência e Fiscalização (SRF)
emitiu autos de infração e a Superintendência de Serviços Públicos (SPB)
instaurou processos contra as empresas. Os atos publicados em janeiro foram
produzidos em parceria pela SRF e pela SPB, mas as áreas técnicas têm enfrentado
dificuldades para dar sequência ao trabalho de apuração. A própria realização
das fiscalizações, iniciada apenas em 2006, é um retrato de como o tema da
reversibilidade dos bens é um dos grandes desafios a serem enfrentados pela
Anatel.
A demora em fazer uma fiscalização minuciosa ocorreu por conta da ausência de
diretrizes que deveriam ter sido formuladas pelo próprio conselho diretor da
agência no momento imediato à sua criação, em 1997. As fiscalizações começaram
apenas em 2006 (oito anos após a privatização) porque foi apenas neste ano que a
agência, enfim, editou um Regulamento de Controle de Bens Reversíveis, dando aos
fiscais algumas das ferramentas necessárias para ir a campo. A Anatel agora quer
alterar esse regulamento. A mudança proposta pela agência torna ainda mais
flexível o controle dos bens. Internamente, contudo, há quem defenda a tese de
que qualquer alteração futura nas regras de reversibilidade não pode perder de
vista o passado e os eventuais prejuízos já causados à União dentro das regras
atuais.