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Leia na Fonte: Blog de Flávia Lefèvre
[08/04/11]  Bens Públicos x Privatização

de Flávia Lefèvre <flavialefevre@yahoo.com.br>
para Grupos WirelessBR e Celld-Group
data 8 de abril de 2011 21:02
assunto BENS PÚBLICOS X PRIVATIZAÇÃO
assinado por yahoo.com.br

Olá Helio e Grupos

O Jornal da Band veiculou 3 reportagens do dia 4 ao dia 6 deste mês de abril a respeito da alienação pelas concessionárias de telefonia fixa de bens imóveis que, até que a ANATEL prove, integram o patrimônio da União.

Fonte: Website do Jornal da Band
[04/04/11]   Por falta de fiscalização, empresas se apropriam de imóveis públicos  (transcrição mais abaixo)

[05/04/11]  Empresas privadas de telefonia podem estar envolvidas em venda ilegal de imóveis públicos  (transcrição mais abaixo)

[06/04/11]  Anatel altera ilegalmente documento assinado por Lula  (transcrição mais abaixo)

Vale destacar que diversas entidades, inclusive a PROTESTE, vêm requerendo formalmente que a ANATEL apresente o inventário dos bens que integravam o patrimônio das subsidiárias da Telebrás. E a resposta da ANATEL é sempre a mesma: não vai apresentar porque se tratam de informações sigilosas.

Em resposta às reportagens, a ANATEL divulgou nota pública, por meio da qual faz afirmações, no mínimo surpreendentes. Vejam:

Fonte: Anatel
[07/04/11]  Nota de esclarecimento sobre bens reversíveis  (transcrição mais abaixo)
(...)
• Embora reversíveis à União ao término da concessão, se utilizados para a prestação do serviço de telefonia fixa, tais bens não pertenciam e não pertencem à União.
• No passado, os bens pertenciam às empresas do Grupo Telebrás Sociedade Anônima. Atualmente, os bens pertencem às empresas que adquiriram o controle acionário das empresas do Grupo Telebrás S/A.
• Não se pode falar, portanto, em transferência ou cessão de titularidade de bens da União para empresas privadas, visto que os bens não compunham e não compõem o patrimônio da União, mas sim das empresas prestadoras do serviço de telefonia fixa.
• Independentemente dos valores referentes a alienações realizadas, reitera-se que a alienação de bem reversível sem prévia autorização da Anatel não retira o ônus da reversibilidade do bem alienado.
• Existe um inventário de bens reversíveis à União decorrente dos contratos de concessão firmados com as prestadoras de telefonia fixa. Esse documento recebe tratamento confidencial, nos termos do parágrafo único do art. 39 da Lei 9.472/97.
(...)
• O regulamento de bens reversíveis (Resolução 447/2006) foi editado em 2006, passando a vigorar no ano seguinte".
(...)

Antes de considerar a verdade das afirmações da ANATEL, convido os amigos para lerem duas matérias publicadas no Teletime, elaboradas com base em relatório da superintendência de fiscalização da ANATEL, que, no mínimo, tornam controversa a credibilidade da afirmação da nota. Vejam trechos dessa duas matérias (a íntegra está mais abaixo):

Fonte: Teletime
[05/04/11]  Relatórios internos da Anatel mostram falta de controle sobre bens reversíveis - por Mariana Mazza

(...) Em janeiro deste ano, a Anatel publicou sem maiores explicações três atos suspendendo a alienação de bens pelas concessionárias Oi, Brasil Telecom (incorporada pela Oi) e Embratel. Nos documentos, a agência dava seis meses para que as teles apresentassem uma lista confiável dos bens que integram seu patrimônio para, assim, poder fazer um controle concreto da parte pública do inventário, que retornará à União no fim da concessão, em 2025.

O que se esconde por trás da iniciativa da Anatel, no entanto, é um problema muito maior do que parece: relatórios de fiscalizações iniciadas em 2006 sobre estas empresas e mais a Telefônica, concluídas no ano passado, revelam o absoluto descontrole do patrimônio reversível sob a tutela das concessionárias.

Esta reportagem teve acesso aos relatórios produzidos ao fim das ações de fiscalização, tratados com sigilo pela agência. E o retrato da situação dos bens feito pelos fiscais da Anatel é preocupante. Em linhas gerais, os fiscais constataram que boa parte dos bens que retornarão à União foi vendida pelas concessionárias. E, em praticamente todos os casos, sem anuência prévia da agência reguladora ou qualquer ação restritiva ou compensatória.(...)

(...) Dados perdidos
O aspecto mais sério dos relatórios é a confirmação de que a própria Anatel não possui nenhum parâmetro para averiguar o tamanho da perda dos bens reversíveis. Na verdade, todas as movimentações constatadas pela fiscalização da agência têm como base apenas os anos entre 2001 e 2008 (quando os fiscais saíram a campo) e foram feitas com base nos cruzamentos de dados fornecidos pelas próprias empresas.
Ao contrário do que a Anatel sempre informou aos órgãos de controle, a agência não dispõe da lista original de bens reversíveis do momento da privatização. E as empresas informam à agência, segundo os relatórios, que também não possuem mais a referência original do patrimônio inventariado em 1998. A Oi, por exemplo, informou à Anatel que não possui os dados compreendidos entre 1998 e 2001. O motivo alegado pela concessionária para a perda completa dos dados seria a renovação do quadro de pessoal. "(A empresa) informou que ao longo dos anos o quadro de pessoal foi renovado e os colaboradores que se desligaram da empresa levaram consigo as informações que estavam sob sua responsabilidade", informam os fiscais no relatório. A Brasil Telecom apresentou a mesma justificativa para não apresentar os inventários de 1998, 1999 e 2000. Embratel e Telefônica usaram um argumento diferente, mas também não apresentaram os inventários dos primeiros três anos de operação. A desculpa das duas concessionárias foi a troca do sistema de acompanhamento interno do patrimônio, impedindo uma correlação precisa entre os inventários produzidos antes e depois de 2001".(...)

Fonte: Teletime
05/04/11]  Valor residual dos bens reversíveis seria de pelo menos R$ 20,9 bilhões, apontam relatórios - por Mariana Mazza

(...) Apesar das empresas alegarem que o maior índice de depreciação aplicado foi de 20%, os fiscais encontraram diversos casos em que a taxa utilizada foi maior do que a declarada. Assim, mesmo sem considerar as vendas irregulares, o patrimônio reversível é bem mais valioso do que os R$ 20 bilhões declarados pelas concessionárias, segundo a análise dos técnicos.
Neste valor não está incluída nenhuma licença de uso de radiofrequência, apesar de ser indiscutível a natureza pública do espetro e sua consequente reversibilidade. Essas licenças somadas representam mais alguns bilhões para os cofres públicos. Por enquanto, é impossível estimar o valor total das vendas e transferências que foram feitas supostamente em desacordo com as exigências legais.(...)


Diante do quadro acima vale perguntar:

1) Quem está equivocado? Os responsáveis pela nota de esclarecimento ou os relatórios de fiscalização?

2) Onde estão os inventários dos bens reversíveis?

3) A transferência do controle acionário das concessionárias implica mesmo na possibilidade de alienação de patrimônio construído com recursos públicos?

4) Considerando que a titularidade dos serviços de telecomunicações é da União e prevalecendo o que afirma a nota da ANATEL, existe a possibilidade de em 2025, findos os contratos de concessão, a União ter de constituir novas empresas para operar o serviço, pois receberá apenas os bens essenciais para sua prestação?

5) Quais são, para a ANATEL, os bens essenciais para a prestação do serviço?

6) Onde estão as avaliações das empresas subsidiárias da Telebrás elaborados para respaldar o processo de privatização?

7) As redes correspondentes aos serviços de troncos, que não foram objeto de contratos de concessão, em afronta ao que determina o Art. 207, da LGT, e hoje estão na posse das concessionárias, estão contempladas pelo anexo I dos contratos?

Vale lembrar que o TCU também não anda contente com o modo de a ANATEL fazer o controle dos bens públicos, como publicou o Teletime:

Fonte: Teletime
[27/11/10]  TCU constata que Anatel não tem controle pleno dos bens reversíveis - por Mariana Mazza (transcrição mais abaixo)

(...) Em acórdão aprovado na última quarta-feira, 22, o tribunal concluiu que a Anatel não possui mecanismos de controle efetivo dos bens pertencentes à União e que sua atuação nessa área tem sido tímida desde que foi criada, em 1998. "Houve praticamente uma fiscalização para cada concessionária desde que a Anatel foi criada. Em alguns casos, inclusive, nem a primeira fiscalização foi completada", afirmam os técnicos da Secretaria de Fiscalização de Desestatização (Sefid), departamento responsável pelo acompanhamento realizado pelo TCU na Anatel desde a emissão da anuência prévia. O relatório foi aprovado pelo ministro-relator do caso, Raimundo Carreiro, e demais membros do Plenário do TCU resultando, inclusive, em recomendações à Anatel sobre este e outros assuntos. (...)

Enfim, estamos novamente às voltas com a falta de compromisso da ANATEL com o interesse público, o que explica o motivo de ser esta agência a TOP em falta de transparência.

A prevalecer a suposta verdade contida na nota da ANATEL, vamos ter de buscar explicações com o Fernandinho - o FHC - ou nos valer de mesas brancas, esperando que o Serjão se comunique, explicando que no vapt-vupt da privatização perdemos muuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiitoooooooo mais do que se arrecadou com os leilões.

Abraço a todos.

Flávia Lefèvre Guimarães