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Leia na Fonte: Portal da Band - Colunas
[02/02/12] Enfim
vão fazer do jeito certo - por Mariana Mazza
Nesta quinta-feira, o noticiário especializado Teletime
deu uma excelente notícia para quem acompanha a briga travada entre a sociedade
e a Anatel sobre os bens reversíveis do setor de telecomunicações. Esses bens
compõem o patrimônio transferido às concessionárias na época da privatização e
deveriam sofrer um rígido controle por parte das autoridades públicas porque
deverão ser devolvidos à União quando as concessões do setor terminarem, em
2025. Até hoje, essa fiscalização não vinha sendo feita como manda o figurino.
Documentos da própria Anatel - que a agência mantém em sigilo absoluto - revelam
que não há controle sobre esse patrimônio e que, ao longo da última década, as
companhias telefônicas negociaram a seu bel prazer os bens comprados com
dinheiro público na época do Sistema Telebrás. A boa notícia é que parece que um
grupo dentro da Anatel enfim tomou consciência de que essa farra não pode
continuar.
O noticiário informa que a proposta de rever o regulamento dos bens reversíveis
- que até o ano passado pretendia flexibilizar ainda mais a negociação desse
patrimônio - sofreu uma reviravolta drástica. A área técnica da Anatel
responsável pelo assunto refez praticamente todo o texto da proposta, desta vez
para elevar o controle dos bens. Ao invés de avaliar o patrimônio pelo seu valor
de mercado, os técnicos da agência agora propõem um acompanhamento detalhado dos
bens, que passariam a ser declarados pelas empresas por função, localização e
uso. É um avanço tremendo para uma agência que até pouquíssimo tempo defendia
que as teles podiam fazer o que quisessem com os bens reversíveis.
Em resposta a uma série de matérias feitas pela TV Bandeirantes no ano passado
denunciando as negociações ilegais das teles, a Anatel chegou a dizer que esse
patrimônio não é da União, "mas sim das empresas prestadoras do serviço de
telefonia fixa". Sendo assim, as teles teriam o direito de negociar os bens como
quisessem. A única ferramenta de proteção da sociedade seria o fato de a Anatel
ter que analisar previamente essas transações, ação que não ocorreu na grande
maioria dos negócios.
Mas voltando à nova proposta de regulamento, vale destacar que o desenho dado ao
texto pela área técnica não é nenhuma inovação no modelo do setor de
telecomunicações brasileiro. Na verdade, o texto agora se adéqua ao que sempre
existiu como diretriz para o controle dos bens reversíveis, seja na legislação,
sejam nos contratos de concessão. Nesses documentos existe a previsão clara de
fiscalização do uso dos bens reversíveis por categoria e não pelo seu valor de
mercado. Afinal, a questão é preservar a continuidade da prestação do serviço e
não o juízo pessoal de que tal bem custa "baratinho" e, por isso, pode ser
vendido sem maiores problemas pelas companhias privadas.
Na nova proposta, a área técnica sugere um controle menor de bens que não afetam
diretamente a prestação do serviço, como automóveis e mobiliário, que não
precisariam de anuência prévia para serem vendidos. O raciocínio está
corretíssimo. Ninguém se importa se uma companhia resolver trocar as cadeiras do
escritório. O que não pode é estender esse raciocínio a itens de rede ou, pior,
a imóveis inteiros avaliados em milhões de reais.
A questão do patrimônio imobiliário transferido às teles, infelizmente, ainda
está nebulosa. Muitos entendem que esses imóveis não são essenciais à prestação
do serviço e, portanto, não seriam reversíveis. Não é por ai. Primeiro porque há
muitos imóveis e terrenos usados para alojar centrais telefônicas, o que
automaticamente os torna necessários, sim, para a prestação do serviço. Segundo
porque os prédios e escritórios usados pelas concessionárias foram adquiridos
com dinheiro público na época em que a Telebrás controlava o setor. Se foi a
sociedade quem pagou, nada mais normal que esses bens sejam reversíveis. Afinal,
não me lembro de ter existido nenhuma carta de doação de prédios na época da
privatização.
A nova proposta está agora na Procuradoria da Anatel para análise jurídica.
Vamos ver se essa nova filosofia não está confinada apenas à área técnica da
agência. Para o bem da Nação, tomara que a mudança de opinião sobre o patrimônio
reversível tenha atingido da base ao topo da Anatel.
O provável início da capitulação da agência sobre os bens reversíveis mostra que
a pressão legítima da sociedade muitas vezes surte efeito. Desde 2008, entidades
de defesa do consumidor, como a ProTeste, batalham para que a Anatel cumpra seu
papel de fiscalizadora desse patrimônio bilionário. A Justiça e o Ministério
Público Federal encamparam a briga e vêm pressionando a autarquia para
esclarecer o assunto em nome do direito da sociedade de reaver esses bens que
são comprados e mantidos com o dinheiro que sai das tarifas telefônicas. A luta
ainda não terminou. Mas ao que tudo indica, a Anatel já começa a rever sua
posição no campo de batalha