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Fonte: Portal da Band - Coluna de
Mariana Mazza
[15/05/12] Oi
coloca à venda 89 imóveis. Um negócio de R$ 58 milhões - por Mariana Mazza
Hoje tive uma grande surpresa ao me deparar com um leilão bastante estranho. Um
grande site na Internet está negociando 89 imóveis em nome da Oi. Essas
propriedades estão espalhadas por todo o Brasil e algumas chegam a custar
milhões de reais no lance inicial. Ao todo, o negócio renderá à Oi, no mínimo,
R$ 58.324.958,00, caso os imóveis sejam vendidos sem disputa, apenas pelos
lances iniciais propostos.
Em princípio, não haveria nada de errado na negociação não fosse um lote muito
suspeito no meio da lista. No lote 34, de acordo com a própria descrição do
site, está sendo negociado o "Centro de Treinamento da Telebrás", localizado em
Pernambuco. Bom, o nome deixa claro que o imóvel pertence (ou pertenceu) à
estatal Telebrás. E, se foi construído ou comprado pela estatal, faria parte da
chamada relação de bens reversíveis à União.
Já dediquei várias colunas à controvérsia envolvendo os bens reversíveis. Este é
o termo usado para o conjunto de imóveis e equipamentos que são necessários à
prestação da telefonia fixa. E, portanto, deverão ser devolvidos ao Estado
brasileiro quando terminar a vigência das concessões das teles, em 2025. Para
negociar um imóvel pertencente a esta lista é preciso obter uma autorização
formal da Anatel antes de fechar a venda. E, até o momento, não é possível dizer
se a Anatel deu essa autorização à Oi.
O caso do Centro de Treinamento é muito interessante. Primeiro porque não
estamos falando de um imóvel "baratinho". Quem quiser arrematá-lo terá que
desembolsar pelo menos R$ 7,235 milhões. Além de valorizado, o imóvel também já
foi bastante disputado no passado. A briga, obviamente, foi entre a Oi e a
Telebrás. A estatal chegou a ir à Justiça para recuperar o prédio e
revitalizá-lo, retomando suas funções originais de centro de treinamento de
profissionais. Coincidência ou não, o processo movido pela Telebrás teria sido
concluído recentemente por meio de um acordo. O que diz o acordo? Segundo
fontes, que o prédio poderia ser leiloado pela Oi. Com quem ficará o dinheiro
arrecadado na oferta pública ainda é um mistério para esta que vos escreve.
O que é certo até o momento é que o leilão de imóveis feito pela Oi, legítimo ou
não, coloca mais lenha no debate sobre os bens reversíveis. Muitas perguntas
precisam ser respondidas. Estes imóveis são essenciais à prestação da telefonia
fixa nos estados? A Anatel autorizou essas vendas? Telebrás e Oi têm selado
acordos judiciais para contornar a controvérsia sobre o que é e o que não é
reversível?
O leilão em si não é prova de que a negociação dessas propriedades é ilegal. Mas
sua realização frisa a necessidade urgente desse assunto ser esclarecido de uma
vez por todas. Afinal, o que é público e o que é privado? E quem pensa que este
debate é apenas burocrático, se engana profundamente. Se as concessionárias
estão mesmo vendendo imóveis comprados com dinheiro público, toda a sociedade
está sendo lesada. No passado, as concessionárias não se intimidaram em
negociar, mesmo sem aval da Anatel, centenas de imóveis em todo o país. Essas
vendas ilegais estão registradas em relatórios de fiscalização da própria
agência reguladora, produzidos em 2010 e mantidos em sigilo pela Anatel até
hoje.
Este material, levantado graças a um mutirão de fiscalização conduzido sob o
comando do ex-superintendente de Fiscalização Edilson Ribeiro dos Santos -
demitido em novembro do ano passado - revela não só as negociações ilícitas de
centenas de bens como a própria inabilidade da agência reguladora de controlar
essas negociações. Um levantamento feito por advogados e procuradores na relação
de propriedades do antigo Sistema Telebrás, disponível no Arquivo Nacional,
mostrou que a controvérsia sobre os bens reversíveis gira em torno de um
patrimônio estimado em R$ 80 bilhões. E este valor não leva em conta os
investimentos feitos na rede de telecomunicações com dinheiro público, mas
apenas os imóveis.
Há anos, a entidade de defesa do consumidor ProTeste tenta desatar este nó na
Justiça. Muitos avanços foram feitos, mas o centro da polêmica continua. A
última ação movida pela ProTeste está pronta para a decisão da Justiça. No ano
passado, o juiz do caso negou o pedido de liminar feito pelo órgão de defesa do
consumidor argumentando que não haveria urgência na ação uma vez que não estava
constatada que a venda de imóveis estava sendo realmente realizada e, caso se
comprovasse, a empresa teria que responder civil e criminalmente pela alienação.
O leilão promovido pela Oi precisa ser investigado e sugere que as coisas não
andam tão calmas assim no mundo dos bens reversíveis. A negociação dos prédios e
terrenos está hospedada no site Zukerman Leilões e receberá lances até o dia 4
de junho, quando está previsto um pregão presencial dos imóveis na Mansão
França, em São Paulo.