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Leia na Fonte: Porta da Band -
Colunas
[29/05/12]
Venda de imóveis em leilões online é velha prática das teles - por Mariana
Mazza
Dez dias depois de a Oi suspender o leilão online de 90 imóveis após as
suspeitas levantadas pela Bandeirantes de que estes prédios e terrenos podem
fazer parte da lista de bens reversíveis à União - e, portanto, devem ser
devolvidos ao Estado brasileiro no fim da concessão, em 2025 - a poeira parece
ter baixado dentro da Anatel. A agência deu o episódio como encerrado após o
cancelamento da disputa, comunicado pela empresa por telefone e, depois, por
meio de um breve comunicado por escrito. A ideia inicial da autarquia de
bloquear a venda por meio de uma medida cautelar foi abandonada depois de os
técnicos entenderam que não havia mais motivo para intervir no processo uma vez
que o leilão foi retirado do ar. E a Oi, oficialmente, se silenciou.
Para os que esperavam uma ação mais enérgica da agência, o desfecho pode ter
decepcionado. Mas o fato é que a venda de imóveis no valor total de R$ 58
milhões foi evitada. Pelo menos por enquanto. A ponderação vem do fato de a
comercialização de prédios e lojas por meio de leilões eletrônicos ser um velho
hábito do setor de telecomunicações. O leilão da Oi denunciado aqui na coluna
não é a primeira tentativa de alienação de bens por este sistema. E temo que não
seja a última. Trago alguns exemplos deste histórico das companhias telefônicas.
Em 2009, a Oi colocou à venda 24 imóveis, todos localizados no Rio Grande do
Sul, no site de leilões Sold, no valor total de R$ 11,295 milhões. Apenas os
dois escritórios mais caros não foram arrematados. Ao fim da disputa, a empresa
lucrou R$ 4.333.500,00 com a venda dos imóveis anunciados.
Ao mesmo tempo, a empresa administrava um outro leilão online de prédios no site
SuperBid. Nesse portal, apenas cinco imóveis foram colocados à venda, mas todos
de alto valor, totalizando R$ 9,810 milhões. A negociação online não gerou
ofertas para todos os prédios. Apenas o mais barato da lista, localizado na Vila
Laura, em Salvador, foi arrematado por R$ 275 mil. A lista de imóveis que
acabaram não sendo vendidos nesse leilão é, no mínimo, intrigante. Dois prédios
que tentaram ser negociados são "clubes recreativos", localizados em Paranaguá e
Maringá, no Paraná. Os outros dois restantes estavam alugados para terceiros na
época da realização do leilão: um para uma empresa de gerenciamento de
supermercados e outro para uma grande loja de departamentos.
Mas o uso de leilões online para negociar imóveis que podem ser reversíveis não
é exclusividade da Oi. Em 2010, a Telefônica vendeu um dos principais prédios do
patrimônio da antiga Telesp, situado na cidade paulista de Guarujá. A transação
foi feita por um site de leilões em 2010 e denunciada pelos jornalistas Fábio
Pannunzio e Francisco Campera no Jornal da Band, em 5 de abril de 2011. Com o
negócio, a Telefônica embolsou R$ 2,150 milhões.
Todas essas negociações - e muitas outras que passaram abaixo do radar -
levantam uma pergunta: o que a Anatel fez para reverter esses negócios? Ao que
tudo indica, nada. A agência tem tratado o debate dos bens reversíveis como um
assunto a ser enfrentado "daqui para frente", sem olhar o passado. O ponto de
partida são os atos publicados pela Anatel no início do ano passado exigindo que
a Oi e a Embratel apresentem um inventário detalhado de seus patrimônios e, até
que isso seja feito, não venda nenhum imóvel. Vale sempre lembrar que a
Telefônica não recebeu esse "dever de casa" da Anatel supostamente por ter um
sistema de gerenciamento de patrimônio melhor do que o de suas concorrentes.
Sendo assim, é possível presumir que os leilões citados aqui não foram
investigados pela agência reguladora. Mas ainda há tempo de reparar o passado.
Como já citado nesta coluna, a briga em torno dos bens reversíveis é objeto de
uma ação na Justiça Federal movida pela entidade de defesa do consumidor
ProTeste. E o processo está pronto para decisão do juiz, que tem poder para
exigir uma reparação pelas negociações feitas no passado se assim quiser.
Enquanto isso, a ProTeste tenta fazer o levantamento que a Anatel e as empresas
não fizeram. Com base na Lei de Acesso à Informação, a entidade encaminhou nesta
terça-feira um pedido à Telebrás para consultar o acervo da estatal sobre o
patrimônio do antigo sistema público de telefonia. Esse material pode
esclarecer, enfim, quantos imóveis negociados recentemente foram adquiridos pelo
Estado brasileiro e transferidos para as empresas privadas. A Telebrás, que
prontamente se dispôs a esclarecer o imbróglio sobre o último leilão da Oi -
onde a empresa pretendia negociar o antigo centro de treinamento da Telebrás em
Pernambuco - pode, mais uma vez, contribuir para desatar esse nó.
Já a Anatel, que se silenciou por tantos anos sobre o controle desses bens, tem
agora a oportunidade de resolver definitivamente essa situação. Mas, para isso,
é inevitável olhar o passado. Afinal, o setor pode ter se modernizado em muitos
níveis, mas, quando o assunto é a venda do patrimônio da concessão, os velhos
hábitos ainda não foram abandonados.