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Leia na Fonte: Convergência Digital
[12/04/13]
PGR investigará transferência de bens reversíveis às teles - por Luís
Osvaldo Grossmann
Enquanto buscaram respostas junto ao Ministério das Comunicações sobre o suposto
plano de usar os bens reversíveis no desenho de financiamento a novas
infraestruturas de telecomunicações, entidades ligadas à campanha ‘Banda Larga é
um Direito Seu’ pediram ajuda ao Ministério Público Federal para também cuidar
do tema, através da abertura de um inquérito civil público.
Uma representação nesse sentido foi levada na quarta-feira, 10/4, ao
subprocurador geral da República Antônio Fonseca, que prometeu investigar. No
documento, entidades como a Proteste, Idec, Intervozes e Instituto Nupef
argumentam que as notícias veiculadas sobre a transferência dos bens reversíveis
às teles ensejam apuração pelo “risco ao interesse público”.
O pedido sustenta a importância dessas redes como ativo público – a própria
Anatel reconhece que, embora as vezes tratadas como “velhas” ou “esqueletos”, as
redes de cobre são ainda fundamentais para a oferta não apenas de voz, mas de
conexões em banda larga. Nessa lógica, deveriam ser mantidas públicas para
garantir a disponibilidade imparcial no atacado.
A representação também indica que o valor das redes foi subdimensionado.
“Queremos destacar a pouca confiabilidade da avaliação correspondente à massa de
bens reversíveis apresentada pela Anatel na casa dos R$ 17 bilhões”, diz o
documento. Outras estimativas, corroboradas por documentação da agência, indica
que elas valem mais de R$ 80 bilhões – cerca de R$ 64 bilhões em rede de acesso
e outros R$ 7 bilhões em redes de transporte – sem contar os imóveis.
Contexto
Pelo menos desde meados do ano passado, o ministro Paulo Bernardo defende a
adoção de medidas para impulsionar o que chamou de PNBL 2.0 – um projeto com o
objetivo de universalizar o acesso à Internet no país. O diagnóstico é de que
falta infraestrutura de redes e que mesmo as desonerações recentes não serão
suficientes para espalhar as desejadas fibras ópticas.
Para superar essa dificuldade, Bernardo vem sustentando a necessidade de
investimentos da ordem de R$ 127 bilhões em redes nos próximos 10 anos – a maior
parte, ou cerca de R$ 100 bilhões, em redes de acesso, e o restante em grandes
redes de transporte (backbone). Para viabilizar parte de tanto dinheiro,
aventou-se no governo uma negociação que envolva os bens reversíveis.
Essa ideia, nascida na Anatel, parte de um pressuposto amplo, de que o modelo do
setor de telecomunicações brasileiro, ainda baseado principalmente na telefonia
fixa, precisa mudar. Entre essas mudanças estaria o fim de qualquer serviço
prestado em regime público e, consequentemente, um ‘destino’ a ser dado às redes
do sistema Telebras que deveriam voltar à União em 2025.
Com os sinais de que os bens reversíveis podem ser negociados para ‘financiar’
as redes modernas de fibras, as entidades civis retomaram a campanha em prol do
regime público – ou, agora, misto – para a prestação do serviço de acesso à
Internet. Daí a representação à PGR e, concomitantemente, a apresentação de uma
proposta de modelo ao Ministério das Comunicações.
Essa proposta prevê trazer a banda larga para o centro das políticas de
telecomunicações mas com uma visão distinta do que vem sendo discutido entre
Executivo e Anatel: as redes, sejam os fios de cobre ou as fibras ópticas,
ficariam sob o controle do Estado, em regime público; a oferta dos serviços no
varejo continuaria no regime privado.
Com o pretexto de levar a proposta ao governo, as entidades se reuniram na
quinta-feira, 11/4, com Paulo Bernardo. Na reunião de duas horas, um dos pontos
foi questionar o ministro sobre os bens reversíveis. De sua parte, o ministro
negou que essa ideia esteja sendo levada adiante – bem como propostas de alterar
o modelo. “Não estamos discutindo mudança de regime”, afirmou.
Nem todas as entidades saíram tranquilizadas do encontro com o ministro das
Comunicações, no entanto. Em especial, porque chegaram ao conhecimento do grupo
planilhas levadas pela Anatel ao governo federal – tudo indica, em uma reunião
na Casa Civil, no fim de março – que mostrariam a inclusão dos bens reversíveis
nas tratativas. Daí, especialmente, o pedido de investigação da PGR.