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Leia na Fonte: Blog da Flávia
Lefèvre
[01/08/13]
A OI, os
Bens Reversíveis e o PNBL 2.0 - por Flávia Lefèvre
Os planos de desinvestimento da OI e sua situação financeira tenebrosa
Depois do histórico sobre a intenção do Governo Dilma, pelas mãos do Ministro
Paulo Bernardo, entregar os bens reversíveis relativos aos contratos de
concessão da telefonia fixa em troca de investimento em redes privadas, é muito
prudente que continuemos na vigilância.
Isto porque, apesar de o Ministro das Comunicações e dirigentes da ANATEL terem
afirmado que não há planos para a entrega de bens reversíveis, o certo é que
todas as concessionárias, mas especialmente a OI, vêm alienando de forma
acelerada bilhões em bens vinculados às concessões:
Histórico recente de alienações da OI
Em maio de 2012, a jornalista Mariana Mazza denunciou a intenção da Oi de
leiloar 89 imóveis, a PROTESTE denunciou o ilícito ao juiz da ação civil pública
movida para garantir a inclusão dos inventários de bens reversíveis nos
contratos de concessão e solicitou explicações da ANATEL. Essa movimentação toda
levou à suspensão das vendas.
Em dezembro de 2012, em nova investida, a OI vendeu 3 imóveis com valor superior
a R$ 340 milhões. Respondendo a ofício enviado pela PROTESTE solicitando
esclarecimentos sobre os bens reversíveis da Oi, a ANATEL afirmou que editou o
ato 7.721, de 21/12/2012 determinando:
“I – Abstenham-se de alienar e/ou onerar qualquer bem imóvel que integre seu
patrimônio, bem como de suas controladoras e coligadas, sem a comprovação
prévia, ratificada pela agência, da dispensabilidade de tais bens para a
continuidade do serviço de telecomunicações prestado em regime público”.
Também em dezembro de 2012, a OI vendeu 1,2 mil torres:
Fonte: Exame
[19/02/13]
Oi está aberta à venda de mais torres
"O diretor financeiro da Oi, Alex Zornig, deixou em aberto a possibilidade de
novas vendas de torres: "vendemos 1,2 mil torres, mas nosso parque é muito
maior". (...)
Em julho deste ano a Oi vendeu mais 2113 torres:
Fonte: Convergência Digital
[15/07/13]
Oi repassa gestão de 2113 torres por R$ 686.7 milhões à SBA Torres
“Em comunicado oficial à Comissão de Valores Mobiliários nesta segunda-feira,
15/07, a Oi informa que celebrou acordo com a SBA Torres Brasil LTDA para
exploração comercial e uso de 2113 torres de telecomunicações e respectivas
áreas por R$ 686.725.000”. (...)
Também em julho deste ano, a Oi vendeu a GlobeNet – empresa de cabos submarinos:
Leia na Fonte: Estadão
[15/07/13]
BTG compra empresa de cabos submarinos da Oi por R$ 1,7 bilhão
"Acordo faz parte da estratégia da empresa de telecomunicações de vender
ativos para reduzir seu endividamento, que em março chegava a R$ 27,5 bilhões”
(...)
Esses são alguns exemplos que vieram a público; mas, certamente, existem muitas
mais alienações e onerações ocorridas à margem das regras estabelecidas por lei
e regulamento para os bens reversíveis.
Esta prática não tem sido adotada só pela OI. Todas as concessionárias vêm
atuando há anos precarizando e esvaziando os contratos de concessão. A ANATEL,
no ofício que encaminhou a PROTESTE respondendo sobre bens reversíveis
relacionou os Processos Administrativos por Descumprimento de Obrigações (PADOS);
em janeiro eram 46 PADOS contra todas as concessionárias.
Há PADOS instaurados em 2005; o que nos autoriza a conclusão de que a
Superintendência de Fiscalização atua, mas o Conselho Diretor da agência faz
corpo mole.
O descontrole da ANATEL quanto aos bens reversíveis tem sido alvo de atuação do
Tribunal de Contas da União (TCU) e do Poder Judiciário. Foi provocada pelo TCU
que a ANATEL realizou auditoria em 2007, cujo relatório traz as seguintes
constatações (texto recuperado via OCR):
3. RESULTADO DOS EXAMES
9. Ao dar inicio aos trabalhos, a auditoria obteve da SPB o processo contendo a
documentação referente ao histórico sobre a Regulamentação para o Acompanhamento
e Controle de Bens Reversíveis, Processo n° 53500 020207/2005. Pode-se
constatar, por meio dia referido processo, que o primeiro informe que trata do
assunto foi expedido em 14/11/2001, mais de 03 anos após o assinatura dos
contratos de concessão. O Informe nº 950/PBOAC/PBOA/SPB, trata do proposta de
realização de Consulta Pública acerca da norma "Procedimento para Desvinculação,
Alienação, ou Oneração de Bens Vinculados à Concessão do Serviço Telefônico Fixo
Comutado destinado ao uso do público em geral --STFC".
10. A norma foi enviada para análise e apreciação da
Procuradoria da Anatel, que produziu o Parecer N°750/2001, de 11 de dezembro de
2001, o qual tratou da análise da minuta de norma de desvinculação, alienação ou
oneração de bens vinculados à concessão do STFC, minuta a passar por Consulta
Publica por determinação do Conselho Diretor. O parecer conclui, feitas as
sugestões relatadas no próprio parecer e no corpo do texto, quer Procuradoria é
pelo envio da Norma à Consulta Pública.
Constatação 01
11. Ausência da relação dos bens à época da privatização, que constituem os
chamados Bens Vinculados à Concessão, em especial os classificados como bens
reversíveis, na forma disposta na Cláusula 21.1, §§ 1°, 2° e 3° do
correspondente contrato de concessão celebrado com a Anatel, cm 1998.
Evidências
12. Na Solicitação dc Auditoria - SA nº 001/NP/MCB/2007, o item 1 consiste em:
"informar, com base no que determina a LGT, artigos 93, 101 e 102 e o Contrato
de Concessão, Capitulo XXI e Anexo N° 01, relação dos bens reversíveis à época
da privatização dos serviços públicos de telecomunicações". Em resposta, a SPB
informa por meio do Mem. 216/2007- PBOAC/PBOA:
"Os contratas de concessão celebrados entre a Anatel e as prestadoras em regime
público em 2 de junho de 1998, publicados no Diário Oficial da União em 4 de
Junho de 1998, devidamente arquivados na Biblioteca da Agência, trazem em seus
Anexos Nº 01 a qualificação dos bens reversíveis da prestação do serviço
telefônico fixo comutado, sem, contudo, discriminar e relação daqueles bens.
Informamos ainda que não consta dos registros da Anatel acervo documental
apresentado pelos agentes participantes do processo de reestruturação e da
desestatização das empresas federais de telecomunicações - Telebrás, Minicom,
BNDES e Bolsa de Valores do Rio de Janeiro - que contivesse relação dos bons
reversíveis indispensáveis à prestação do STFC".
Constatação 02
13. Existência de um lapso regulatório no que se
refere à ausência de regulamentação acerca dos bens vinculados à concessão, em
especial, os classificados como bens reversíveis, no período de junho de 1998 a
25 de janeiro de 2007, quando entrou em vigência o Regulamento de Controle dos
Bens Reversíveis, na forma de Anexo à Resolução n° 447, de 19 de outubro de
2006.
Evidências
14. No tocante a esta constatação, a SPB informa:
'Item 2 — Com objetivo de exercer controle sobre os bens reversíveis e conforme
consta do Processo 53500020207/2005, em 14 de novembro de 2001, foi elaborado
Informe de nº 950/2001/PBOAC/PBOA/SPB, com a proposta de realização de Consulta
Publica acerca da norma "Procedimento para Desvinculação, Alienação ou oneração
de Bens Vinculados à Concessão do STFC destinado ao usa do público em geral"
para apreciação da Procuradoria da Anatel e posterior decisão do Conselho
Diretor da Agência, fls 2 a 5.
Por orientação do Conselho Diretor, conforme consta
no Informe 343/2002/PBOAC/PBOA/SPB de 16 de agosto 2002, fls 9 a 11, foi
elaborada novo minuta de norma "Procedimento para Desvinculação, Alienação ou
Oneração de Bens Reversíveis utilizados na prestado de serviços de
telecomunicações sobre os regimes de concessão ou permissão", encaminhada para
apreciação da Procuradoria e posterior decisão do Conselho Diretor da Agencia.
Vejam que a própria ANATEL reconhece “lapso regulatório no que se refere a
ausência de regulamentação acerca dos bens vinculados à concessão, em especial,
os classificados como bens reversíveis, no período de junho de 1998 a 25 de
janeiro de 2007”.
A postura do Governo com relação às alienações promovidas pela OI
Portanto e fazendo referência ao post anterior, que tratou do suposto plano do
governo de entregar os bens reversíveis em troca de investimentos em redes
privadas, anunciado amplamente mas não implementados, tenho a seguinte suspeita
quanto à estratégia do Governo para tocar adiante suas intenções confessadas
publicamente de entregar o “esqueleto” da telefonia fixa para as teles: O MELHOR
PLANO É NÃO TER PLANO, POIS SEM DECRETO E SEM ATOS ADMINISTRATIVOS CONCRETOS A
IMPUGNAÇÃO DOS MESMOS PELAS VIAS ADMINISTRATIVAS E JUDICIAIS FICA MUITO MAIS
DIFÍCIL.
Se for mesmo assim, é fácil entender o motivo pelo qual o Governo e a ANATEL têm
feito vista grossa com relação às alienações da OI.
E no caso da OI o Governo tem ainda mais motivos, pois alterou o Plano Geral de
Outorgas em 2008 para permitir que a Telemar incorporasse a Brasil Telecom, sob
a justificativa de que a empresa, que hoje atua como concessionária em 97% do
território nacional se tornasse uma “supertele multinacional”.
Fonte: G1
[25/04/08]
Entenda o processo de fusão entre Oi e Brasil Telecom
União das duas operadoras criará 'supertele' que será 'líder isolada' do
mercado nacional.
Para que negócio se concretize, Anatel terá que promover mudança na legislação
do setor.
O acordo anunciado pela Oi e pela Brasil Telecom poderá criar uma "supertele
verde e amarela" - operadora de atuação quase nacional, com sócios majoritários
brasileiros que se tornará a maior do setor no Brasil. A mudança afetará mais de
20 milhões de brasileiros, clientes das duas companhias.
Segundo o fato relevante divulgado nesta sexta-feira (25) pela Oi, o valor do
negócio é de R$ 5,86 bilhões - valor acima das expectativas de mercado. (...)
A situação de grave endividamento da OI
Entretanto, o tiro saiu pela culatra. A OI vem numa situação de endividamento
profunda, além de tratar muuuuito mal seus consumidores:
Fonte: Convergência Digital
[24/07/13]
Como no 1º trimestre, Oi supera limite de endividamento
Assim como no primeiro trimestre, a Oi voltou a superar o limite de
endividamento conforme demonstraram os resultados do segundo trimestre e nesta
quarta-feira, 24/7, anunciou ao mercado financeiro que não fará distribuição de
dividendos.
“Os dados levantados até o momento relativos ao trimestre encerrado em
30/06/2013 apontam que a alavancagem da Companhia ultrapassou o limite de três
vezes o índice Dívida Líquida (incluindo a remuneração a ser paga no exercício)
/ EBITDA”, diz o comunicado ao mercado.
“Em vista disso, não foi observada essa condição, considerada essencial para a
companhia, para se efetuar o pagamento dos dividendos aos acionistas no mês de
agosto”, completa a operadora. Os resultados do segundo trimestre serão
apresentados em 13/8”.
A Associação dos Engenheiros de Telecomunicações tem publicado vídeos no Youtube
comentando a grave situação da OI, cuja dívida líquida está na casa dos R$ 27,4
bilhões.
Aqui está um deles:
Fonte: YouTube.
[05/06/13] AET
Vídeos - Dívida líquida da Oi - R$ 27,4 bilhões
AET manifesta preocupação sobre o nível de endividamento da Oi, cuja dívida
líquida atingiu R$ 27,4 bilhões no 1º trimestre/2013 de acordo com artigo
publicado no Jornal Valor Econômico de 12/Maio/2013 sob o título
'Crise de confiança' leva Oi a perder 40% de valor no ano. A preocupação da
AET se estende aos usuários, fornecedores, acionistas e empregados da Oi, uma
vez que a empresa está perdendo sua capacidade de honrar seus compromissos sem
que haja uma ação da CVM, Anatel e Ministério das Comunicações. O BNDES continua
fazendo empréstimos à Oi sem levar em conta o elevado grau de endividamento.
Apesar de o BNDES já ter injetado bilhões na OI, ela continua em situação de
endividamento grave que tem afetado dezenas de fornecedores. Veja a notícia da
moratória imposta aos credores da concessionária em 2012:
Leia na Fonte: Estadão
[05/09/12]
Oi deixa de pagar fornecedores por um mês
Decisão preocupa credores da operadora, que argumentou, em carta, que medida
é resultado da atualização do sistema SAP
SÃO PAULO - A Oi decidiu que não pagará nenhuma conta neste mês. Ela distribuiu
uma carta na semana passada informando que, por conta da instalação de uma nova
versão do sistema de gestão empresarial SAP, "não realizará pagamentos aos seus
fornecedores durante o mês de setembro"
“Todos os pagamentos deste mês foram adiados para 10 de outubro. A partir do
próximo mês, a empresa pagará fornecedores somente no dia 10, ou no dia útil
posterior.
A situação preocupa os fornecedores, pois muitos deles dependem do pagamento da
Oi para honrar seus próprios compromissos. Mesmo grandes empresas podem receber
um impacto negativo substancial por causa da decisão da Oi. Somente uma delas
tem uma conta de cerca de R$ 160 milhões a receber da operadora em setembro.
Nesta quarta, a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee)
enviou uma carta ao presidente da Oi, Francisco Valim, pedindo que a suspensão
dos pagamentos seja revista. "A decisão coloca em risco a saúde financeira dos
fornecedores", argumentou a Abinee, na sua carta à Oi. A associação também
defende que a concentração dos pagamentos no dia 10 de cada mês seja feita de
forma escalonada, para não prejudicar os compromissos já agendados”. (...)
Conclusão
Então, considerando que a OI tem agido a vontade, sem que haja uma atuação
efetiva, seja da ANATEL seja do Ministério das Comunicações, podemos cogitar
sobre a possibilidade de que o Governo está fazendo vista grossa, para salvar a
OI – empresa cujos principais acionistas são colaboradores históricos do Partido
dos Trabalhadores, pondo em risco o setor de telecomunicações como um todo, já
que a OI é a detentora da posse de backbone e backhaul em 97% do território
nacional, fornecendo capacidade de rede para muitas outras operadoras de
telecomunicações, fornecendo para os Poderes Públicos, e empregando milhares de
trabalhadores.
Esse sentimento ficou mais forte quando, no último dia 30 de julho, em reunião
na Secretaria Geral da Presidência da República, onde esteve presente o
Ministério das Comunicações, ao perguntar para os seus representantes se estavam
acompanhando a alienação pela OI dos cabos submarinos, ouvi a seguinte resposta:
Não estamos acompanhando, mas suponho que se a Oi está vendendo é porque ela
pode vender. Esta resposta está gravada e este assunto está tratado a 1:17 min
da reunião:
Fonte: YouTube.
[30/07/13]
Reunião Diálogos Comunicações
Portanto, parece que o PNBL 2.0 passou a ser uma ausência de plano, pois,
pelo menos a princípio, resta uma margem muito maior para agir ou deixar de agir
sem um questionamento direto.
Assim, repito a questão do post anterior: O PNBL 2.0 fez água?
Abraço a todos.
Flávia Lefèvre Guimarães
Ler transcrições das matérias referenciadas no texto aqui: A OI, os Bens Reversíveis e o PNBL 2.0 - por Flávia Lefèvre