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Leia na Fonte: Folha
[06/03/13]
Governo quer fazer 'acordo de paz' com teles
Programas para internet rápida no país esbarram em conflitos de interesse entre
União e operadoras desde 2003
A proposta do governo de trocar os fios de cobre, que hoje compõem a maior parte
das redes das operadoras, por fibras ópticas pode trazer resultados positivos e
enterrará um "esqueleto" que há décadas existe no setor.
O plano de massificar os acessos à internet e melhorar a velocidade das conexões
atende a legítima intenção de promover o desenvolvimento econômico e social.
Não faltam estudos comprovando como o aumento das conexões de internet geram
empregos e turbinam o PIB de um país.
Mas, por outro lado, as ideias apresentadas pelo governo para a internet até o
momento sempre trouxeram custos adicionais decorrentes de conflitos de
interesse.
A internet virou programa de governo a partir de 2003, com o presidente Lula. Na
sua gestão, a Telebras foi reativada e, antes mesmo que isso ocorresse, as ações
da estatal (que ainda continuavam sendo negociadas na Bolsa) foram as que mais
subiram no mercado, mesmo sem que ela pudesse fazer uma única chamada
telefônica.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) investiga o vazamento de informação
privilegiada para apurar quem ganhou com a reativação da estatal.
Para que a Telebras entrasse em funcionamento, o governo fez uma manobra para
retomar as fibras ópticas da Eletronet, uma empresa falida de um empresário que
contratou o ex-ministro José Dirceu como consultor. Essas fibras foram o ativo
inicial da Telebras, que ficou sem nada após a privatização.
ESQUELETO
A posse da presidente Dilma Rousseff trouxe tensão ao clima entre operadoras e
governo, que exigia mais investimentos para manter a expansão dos acessos e a
qualidade das conexões.
Agora, a União sinaliza que poderá compartilhar investimentos com as operadoras
para fazer decolar o plano de uma internet rápida. No mundo, a parceria
público-privada é o modelo adotado por países que desfrutam de internet veloz e
de qualidade.
Mas na parceria agora proposta pelo governo existe outro conflito. Desde a
privatização, a União cedeu os bens da concessão (torres, centrais, cabos,
prédios, entre outros) às teles. Esses ativos seriam devolvidos ao término dos
contratos, em 2025.
Até hoje não se sabe exatamente quais são esses bens, quanto valem ou se ainda
estão com as operadoras. Algumas delas já venderam ou deram bens da concessão em
garantia por empréstimos bancários, sem a chancela exigida da Anatel (Agência
Nacional de Telecomunicações), uma imposição legal. Até satélites, equipamentos
essenciais à prestação do serviço, foram empenhados.
As operadoras também falharam. Afinal, a legislação obriga as teles a manter
atualizada a lista dos bens.
Não será possível por fim a esse "esqueleto" sem um cálculo desses bens. Senão,
ficará difícil cobrar das teles o investimento necessário para a troca dos fios
pelas fibras.
JULIO WIZIACK DE SÃO PAULO