WirelessBRASIL |
|
WirelessBrasil --> Bloco Tecnologia --> Bens Reversíveis --> Índice de artigos e notícias --> 2013
Obs: Os links originais das fontes, indicados nas transcrições, podem ter sido descontinuados ao longo do tempo
Leia na Fonte: Proteste
[07/03/13]
PROTESTE contra troca dos bens reversíveis por investimentos das Teles
Plano do governo não garante que acesso à internet chegará às regiões mais
carentes, avalia associação.
Preocupada com a proposta do governo para que os bens reversíveis (que devem
retornar à União após o fim do contrato de concessão das Teles) sejam entregues
às operadoras como forma de incentivo para investimentos em infraestruturas de
telecomunicações, a PROTESTE enviou ofício ao Ministério das Telecomunicações,
com cópia à Procuradoria Geral da República e ao Tribunal de Contas da União
(TCU).
A Associação pede para que não seja levado adiante o plano do atual governo para
o financiamento de investimentos em redes de acesso à banda larga para levar
fibras ópticas até as proximidades dos mais de 50 milhões de domicílios do país
ao longo da próxima década. O governo estuda repassar de forma definitiva todos
os bens que as Teles receberam na época da privatização da Telebrás, além de
acesso a linhas de crédito do BNDES para estimular os investimentos na expansão
da banda larga.
O espólio da Telebrás é estimado em R$ 17,3 bilhões pelo governo, mas está
subestimado. São mais de 6,6 mil imóveis, todo o backbone (grandes linhas
nacionais), além da rede de dados da Embratel que foi, indevidamente, apropriada
pelas empresas. Ao longo dos anos, não apenas ficou evidenciada a falta de
controle da agência sobre esses bens, como as operadoras alienaram parte deles
sem sequer comunicar ao regulador.
São prédios, obras de arte, orelhões e fios que teriam que ser devolvidos ao
governo em 2025, quando acaba o prazo da concessão. O governo entende que até lá
esse passivo já estará sucateado, por isso considera vantajoso trocá-lo agora
por investimento, segundo matérias publicadas em 6 de março último, pelo jornal
Folha de São Paulo.
Para atrair as teles, o governo ainda acabaria com a concessão na telefonia fixa
(na móvel já não existe). Para explorá-la, bastaria uma autorização do
Executivo. Tudo para garantir aportes de aproximadamente R$ 100 bilhões nos
próximos dez anos, e sem instrumentos para garantir a soberania nacional sobre
as redes de telecomunicações brasileiras.
Na avaliação da PROTESTE, a banda larga se constitui como serviço essencial e,
de acordo com o artigo 65 da Lei Geral das Telecomunicações, deveria ser
prestada no regime público, ainda que concomitante com o regime privado. O
acesso à internet é um direito fundamental, e é papel dos Estados, mesmo que em
parceria com a iniciativa privada – seja em regime de concessão ou de
autorização – o financiamento da implantação de infraestruturas com o
estabelecimento de contrapartidas administrativas.
A Associação se mostra preocupada com a perda de bilhões em infraestrutura de
telecomunicações de natureza pública e que é essencial para o provimento não só
da telefonia fixa, mas também de banda larga e telefonia móvel, que, de acordo
com a lei, devem permanecer no regime público, a fim de se garantir que a União
possa exercer o papel que lhe foi imposto pelo inc. XI, art. 21 da Constituição
Federal, de garantir o acesso e a democratização dos serviços.
Caso as redes fiquem todas em regime privado, o Poder Público perderá o poder
que tem sobre a orientação de políticas públicas de telecomunicações e o setor
passará a estar orientado pela lógica dos lucros das operadoras, que já têm
feito investimentos de maneira discriminatória, privilegiando os consumidores de
maior renda, contrariando os princípios da universalização e modicidade
tarifária.
Neste momento em que há demanda de mais de bilhões de investimentos para os
próximos 5 anos, a PROTESTE avalia que o Estado deve estar comprometido com o
financiamento das redes, impondo os condicionamentos e contrapartidas ao setor
privado. E é importante manter o controle do processo de implantação de
infraestrutura, para evitar mecanismos discriminatórios, em que as regiões mais
pobres sofrem com a falta de redes de acesso à internet.
No ofício enviado, a Associação avalia não crer que a realização dos
investimentos necessários por parte exclusivamente da iniciativa privada,
orientada pela lógica do mercado e do lucro, trará os resultados da
universalidade e modicidade tarifária, fundamentais para que se alcance o
respeito ao direito humano fundamental de acesso às redes.
No documento enviado, a PROTESTE destaca que qualquer discussão a respeito da
fixação de novas orientações voltadas para a definição de políticas públicas de
ampliação do acesso aos serviços de comunicação de dados (banda larga), devem
partir do pressuposto consignado em documento assinado na ONU por todas as
nações, reconhecendo o “caráter global e aberto da Internet como motor para
acelerar o progresso rumo ao desenvolvimento”.
E entende que os planos a serem definidos pelo Poder Público devem ter como
principal objetivo a democratização dos serviços de telecomunicações,
especialmente do acesso à comunicação de dados para garantir a liberdade de
expressão e o direito à comunicação na internet.