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Leia na Fonte: Época
[08/10/15]
Governo deve aceitar reduzir obrigações das teles em telefonia fixa, diz fonte
- por Luciana Bruno
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) deverá aprovar nas próximas
semanas revisão dos contratos de concessão de telefonia fixa, reduzindo as
obrigações das operadoras com os orelhões e flexibilizando o prazo para
instalação de telefone fixo nas residências, segundo uma fonte da agência.
"Algumas das sugestões das teles foram acatadas. E isso deve subir para o
Conselho Diretor nas próximas semanas", disse a fonte da Anatel, que falou sob
condição de anonimato. Os contratos de concessão, assinados em 2005 e com prazo
até 2025, são revisados a cada cinco anos.
A Anatel deve decidir pela redução de até a metade da quantidade de orelhões no
país, atualmente em torno de 850 mil, e permitir que telefones fixos possam ser
instalados em mais de sete dias, prazo-limite atualmente em vigor e considerado
muito curto pelas empresas. Por enquanto, ainda não há definição sobre qual será
o novo prazo para instalação.
A agência encaminhará as propostas de mudanças ao Ministério das Comunicações (Minicom)
para a publicação de decreto sobre o tema, disse a fonte. "O objetivo é que os
recursos (hoje utilizados na instalação e manutenção de orelhões) sejam
redirecionados para outras metas, prioritariamente no transporte de banda
larga", disse a fonte.
As mudanças também abrem a possibilidade de o chamado "ônus bienal" ser revisto
para ser aplicado em metas de universalização como também em redução de tarifas
de telefonia cobradas dos consumidores. O ônus bienal é uma taxa de 2% da
receita líquida que as concessionárias devem pagar ao governo federal pela
concessão a cada dois anos.
As operadoras alegam que as decrescentes receitas com telefonia fixa não mais
compensam as despesas que estariam tendo para cumprir as obrigações dos
contratos de concessão. A discussão sobre os contratos também é importante para
a definição do processo de consolidação do setor no país, com operadoras
aguardando a definição do próximo arcabouço regulatório antes de fazer
movimentos de fusão e aquisição.
Ao mesmo tempo, a presidente Dilma Rousseff fez da expansão do acesso à banda
larga no país uma das bandeiras da campanha à reeleição.
Mudança de modelo
A Anatel busca unir o momento da revisão quinquenal dos contratos em vigor com
um debate para mudanças estruturais no modelo de concessão de telefonia fixa,
disse a fonte. Na semana passada, o Ministério das Comunicações anunciou a
criação de um grupo de trabalho para tratar do tema, alegando menor demanda pelo
serviço de telefonia fixa.
A discussão ocorre em um momento de crise política em Brasília e em meio à
reforma ministerial que mudou o comando do Ministério das Comunicações, com a
saída de Ricardo Berzoini (PT) e a entrada de André Figueiredo, que era líder do
PDT na Câmara.
A Anatel faz parte desse grupo de trabalho, que também incluirá as empresas e
representantes da sociedade civil, e a expectativa é que até o fim do ano se
chegue a "diretrizes" básicas que poderão ser aplicadas a partir do ano que vem,
de acordo com a fonte da agência.
A operadoras propuseram à Anatel e ao Minicom transformar as concessões de
telefonia fixa em regime de autorização, como acontece no serviço celular. A
mudança faria com que as empresas não tenham mais obrigações de cobertura e
universalização da oferta do serviço.
Quer pagar quanto?
Uma mudança de regime de concessão para autorização também significará alterar a
regra dos chamados bens reversíveis, imóveis e infraestrutura de rede essenciais
à prestação do serviço de telefonia fixa que foram concedidos às operadoras e
têm que ser devolvidos à União no fim dos contratos, em 2025.
Porém, a Anatel não sabe quanto valem estes bens atualmente, disse a fonte da
agência. A entidade de defesa do consumidor Proteste calcula que o valor pode
chegar a 70 bilhões de reais em redes e 20 bilhões em imóveis, números
contestados pela fonte da agência.
A autarquia não comentou o assunto até a publicação desta reportagem.
"Existe situação de descontrole e de confusão de bens materiais gravíssima",
disse a advogada Flávia Lefévre, da Proteste.
Segundo a fonte da Anatel, o grupo de trabalho vai discutir justamente o que
pode ser considerado bem reversível, uma vez que a definição na Lei Geral de
Telecomunicações (LGT) é considerada "vaga" pelas empresas. O grupo também vai
debater quais os métodos mais adequados para calcular o valor destes bens que
passaram à administração da iniciativa privada com a privatização do setor no
final da década de 1990.
De acordo com fontes de duas operadoras, a intenção do setor é trocar esses bens
e o fim das obrigações da concessão de telefonia fixa por investimentos em banda
larga fixa. O montante dos investimentos, no entanto, dependeria da avaliação
dos bens reversíveis.
Segundo uma dessas fontes, uma das propostas é que sejam feitos investimentos
para encurtar a distância que separa a residência dos usuários da fibra ótica
com a ajuda de cabos tradicionais. Isso seria uma alternativa à proposta do
governo no Plano Banda Larga para Todos, que prevê a instalação de fibra ótica
ao longo de todo o caminho, da central telefônica até as moradias, e que teria
um custo maior que esta solução híbrida, mas com velocidade também maior.
De acordo com a fonte, ao encurtar essa distância para menos de 1 quilômetro, a
velocidade média da banda larga no país poderia subir dos atuais 2 a 4 Megabit
por segundo (Mbps) --velocidade considerada baixa na média mundial-- para 10 a
15 Mbps.
Questionada sobre a proposta das teles sobre os bens reversíveis e os
investimentos em banda larga fixa, a fonte da Anatel afirmou que o plano ainda
não foi apresentado formalmente e que ainda não há um consenso na agência sobre
o assunto.
Atualmente, as concessionárias que prestam serviço de telefonia fixa no país são
Oi, Telefônica Brasil, Algar/CTBC Telecom e Sercomtel.