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Leia na Fonte: O Globo
[22/12/16]
Idec pede que STF impeça sanção presidencial de reforma da Lei de
Telecomunicações
RIO — O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) protocolou, na
noite de quarta-feira, petição no Supremo Tribunal Federal (STF), com o objetivo
de impedir a sanção presidencial do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 76/2016 que
reforma a Lei Geral de Telecomunicações.
"Com o mandado, esperamos que o STF restabeleça o devido processo legislativo e
que a população brasileira tenha a possibilidade de acompanhar, por seus
representantes, a discussão de um projeto de lei que altera a estrutura das
telecomunicações no Brasil e a inclusão digital", diz o pesquisador e advogado
do Idec, Rafael Zanatta.
Na segunda-feira, a Secretaria Geral da Mesa do Senado negou recursos de dez
senadores que pretendiam levar o PLC 79 para votação em plenário. Na visão do
Idec, os argumentos formais usados pelo Senado são descabidos e violam a
Constituição. O projeto pode ir à sanção presidencial a qualquer momento.
Nota de repúdio
Também nessa quarta-feira, o Idec, a Proteste e outras organizações sociais
também divulgaram nota de repúdio contra a decisão da Mesa Diretora do Senado de
rejeitar recursos parlamentares para votação em plenário. O Idec destaca que é
crucial ressaltar o direito de discussão do projeto – assegurado na Constituição
Federal – para não atender somente a interesses políticos de um grupo
específico.
"Objetivamente, o risco mais grave para o consumidor é de ficar sem acesso à
internet fixa. Se as teles forem autorizadas a vender livremente o bem que hoje
é do cidadão, milhões de lares ficarão desconectados e à mercê de preço e
qualidade ditados e manipulados pela iniciativa privada", alerta Elici Bueno,
coordenadora executiva do Idec.
Entre outros problemas jurídicos e políticos apontados pelas entidades, que
formam a Coalizão Direitos na Rede, o projeto transforma as concessões de
telecomunicações em autorizações e pretende transferir infraestrutura
estratégica da União avaliada em R$ 100 bilhões para o patrimônio privado de
poucas operadoras.
A coalizão entende que a medida resultará no fim da universalização dos serviços
de telecomunicações, pode elevar preços e deixar regiões interioranas
desconectadas. Além disso, a mudança do modelo de concessão para autorização não
foi desenhada de forma a prever certas proteções ao cidadão, como a
possibilidade de garantir a continuidade da prestação do serviço caso a
operadora venha a falir.
Em uma manobra regimental política e contestável, a Mesa Diretora do Senado
Federal alegou que o recurso havia sido protocolado fora do prazo. O recurso foi
assinado por dez senadores e protocolado às 19h58, conforme instruções da
própria Secretaria Geral da Mesa, na sexta-feira, dia 16. No dia 19, o
secretário geral da Mesa, Luiz Fernando Bandeira de Mello Filho, orientou os
secretários adjuntos, por telefone, a rejeitar os recursos. No site do Senado,
no entanto, consta que o recurso não foi aceito por “falta de assinaturas
necessárias”.
As entidades já haviam denunciado manobra regimental similar quando o projeto de
lei tramitou na Câmara dos Deputados. No final de novembro, Deputados contrários
ao conteúdo do texto recolheram 76 assinaturas parlamentares para levar o PL ao
plenário. Porém, o recurso foi rejeitado sob o argumento de ter sido apresentado
fora do prazo regimental.
Uma vez enviado ao Senado Federal, o PLC 79/2016 foi aprovado em sete dias, sem
discussões democráticas. Após a designação do relator na Comissão de
Desenvolvimento Nacional, Senador Otto Alencar (PSD/BA), no dia 30/11, o
relatório do texto foi apresentado em um dia útil, na sexta-feira (01/12). Na
terça-feira seguinte (06/12), com a presença de Romero Jucá (PMDB/RR), o projeto
foi aprovado na 10ª reunião da Comissão Especial do Desenvolvimento Nacional, em
caráter terminativo.
Diversas organizações que integram a Coalizão Direitos na Rede alertaram para os
efeitos perversos do projeto de lei. Entre eles, a alienação de bens reversíveis
e da infraestrutura essencial à manutenção dos serviços de telecomunicações no
Brasil. Cientes de tais preocupações, dez Senadores da República assinaram o
recurso que pedia a discussão do projeto em plenário, nos termos do Regimento
Interno do Senado Federal. Por uma manobra da Secretaria Geral da Mesa, o pedido
foi negado.
Diante de tal fato, as entidades denunciam as manobras do Senado Federal para
aprovação do PLC 79/2016 sem o necessário debate público e sem a consideração de
quem defende os direitos dos consumidores e a ampliação do acesso às
telecomunicações no Brasil. Reforçamos que os argumentos formalistas utilizados
pela Secretaria Geral da Mesa Diretora para a rejeição do recurso são
descabidos. Não podemos aceitar a manipulação de regras do Estado de Democrático
de Direito em favor de interesses econômicos e políticos.
A negação do direito de recurso dos Senadores afeta, assim, não só os membros do
Legislativo, mas todos os usuários dos serviços de telecomunicações. É direito
da população brasileira aprofundar as discussões sobre Projeto 79/2016 e suas
consequências para o uso da infraestrutura de telecom do país e para as
políticas de universalização de serviços essenciais como o acesso à internet no
Brasil.
As entidades exigem que o Supremo Tribunal Federal acate os argumentos
apresentados por Senadores da República no mandado de segurança que determina
que o Senado não envie o PLC 79/2016 à sanção presidencial sem que antes seja
apreciado pelo Plenário do Senado. A violação de direitos democráticos cometida
pela Mesa do Senado não pode ser tolerada.
Assinam a nota de repúdio, além da Proteste e o Idec, Actantes; Artigo 19; A Voz
do Cidadão – Instituto de Cultura de Cidadania; Associação Brasileira dos
Procons – ProconsBrasil; Barão de Itararé; Casa da Cultura Digital Porto Alegre;
Clube de Engenharia; Coding Rights; Coletivo Digital; CONTEE - Confederação
Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino; Federação dos
Radialistas – Fitert; Federação Interestadual dos Trabalhadores e Pesquisadores
em Serviços de Telecomunicações – Fitratelp; Fórum Nacional pela Democratização
da Comunicação; Hackerspaces Brasil; Instituto Bem Estar Brasil; Instituto Beta:
Internet & Democracia; Instituto NUPEF; Intervozes - Coletivo Brasil de
Comunicação Social; Lavits - Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância,
Tecnologia e Sociedade; Movimento Mega; Transparência Hacker.