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Leia na Fonte: EM
[31/01/16]
Em entrevista, ministro das Comunicações diz que meta é universalizar a banda
larga - por Simone Kafruni
Brasília – Considerado um vetor de desenvolvimento da economia, o setor de
telecomunicações tem desafios bastante ambiciosos para 2016, um ano marcado pela
recessão. O Brasil verá o seu primeiro satélite ser lançado. Brasília será a
capital- piloto do desligamento do sinal de TV analógica e muitas rádios AM,
país afora, devem migrar para a frequência FM. Além disso, o governo conta com a
modernização do marco regulatório das telecomunicações, com a flexibilização de
regras, para melhorar o ambiente de negócios e atrair investimentos.
À frente de tudo isso, está o ministro das Comunicações, André Figueiredo, que
não se intimida com a missão. Garante que dará conta do recado e promete mais:
“Vou apresentar, em março, tanto o novo marco regulatório quanto o programa
nacional de banda larga, que pretende levar internet a 70% dos municípios, onde
está 95% da população”, diz. Hoje, 48% das cidades têm fibra ótica e 55% dos
brasileiros estão on-line. “Quero deixar o Brasil preparado para o futuro, com a
internet como direito e instrumento de igualdade de oportunidades”, sentencia em
entrevista.
Quais os principais desafios do Ministério das Comunicações em 2016?
No início da nossa gestão, conseguimos avançar em algo que estava represado há
dois anos. Em 40 dias, apresentamos uma proposta para a mudança da outorga de AM
para FM, que vinha sendo discutida desde 2013. No início deste ano, vamos
materializar a migração em locais onde o dial comportar. Atualmente, a faixa vai
de 87,9 a 107,9, mas nas regiões metropolitanas a frequência FM está
congestionada. Nesses casos, será preciso esperar o desligamento da tevê
analógica. Aí conseguiremos aumentar a faixa da FM, que vai iniciar em 76 no
dial.
Como está o cronograma do desligamento da tevê analógica?
Brasília vai ser nosso grande piloto. Vamos fazer o swicht off (desligamento) em
outubro. Estava previsto para abril, mas será depois das Olimpíadas e
Paraolimpíadas, aproveitando que não tem eleições municipais. Em Rio Verde, que
foi a primeira cidade, não atingimos 93% (das residências com conversores ou
aparelhos capazes de receber o sinal digital) na data prevista, 29 de novembro.
Estava em 78%. Ficou para fevereiro. Brasília não terá problema porque 60% já
estão aptos.
Qual a previsão para as alterações no marco regulatório das telecomunicações?
Queremos apresentar, ainda no primeiro trimestre, tanto o novo marco regulatório
quanto o novo programa nacional de banda larga, provavelmente em março. Vamos
consolidar a universalização da fibra ótica. Queremos chegar em 95% da população
brasileira. Hoje está presente em 70% dos municípios.
O novo marco vai reduzir o intervencionismo do governo?
Precisamos discutir a questão de regime público ou privado. Onde há modelo
concorrencial forte, talvez haja menos necessidade de intervenção do Estado. Nas
regiões Sul e Sudeste, não é preciso fazer com que a operadora faça
investimento, porque há retorno. Já no Norte e Nordeste, é necessário o Estado
ter determinações em relação ao regime.
O lançamento do satélite brasileiro está previsto para este ano. Está dentro do
cronograma?
O satélite geoestacionário está bem avançado, na fase final de montagem. É um
satélite francês que será lançado da Guiana Francesa. Ele é compartilhado com o
Ministério da Defesa e vai servir para utilizar a banda Ka (parte do espectro
eletromagnético entre as frequências de 27 e 40 GHz), que é a melhor para
internet. Isso significa chegar nos locais onde não há como levar a fibra ótica,
porque o Brasil tem dimensões continentais. Vamos lançar em dezembro e ele
entrará em operações até março de 2017. Em paralelo, consolidaremos o cabo
submarino Fortaleza-Lisboa, que deve estar operacional no fim de 2017.
A crise econômica pela qual passa o país impedirá a execução desses planos?
Não. Inclusive, todas as operadoras previam elevar investimentos ao nos
apresentarem, no ano passado, o planejamento para 2016. Nós também não temos
contingenciamento muito elevado, até por que não temos muita destinação
orçamentária do Tesouro. O Ministério das Comunicações gera mais recursos,
principalmente com os leilões de frequência, do que propriamente recebe. O
orçamento é de R$ 830 milhões. Só com a frequência de 700 megahertz (MHz), com
as operadoras que arremataram, foram R$ 9 bilhões no ano passado. E sobrou uma
faixa. Esperamos colocá-la em leilão este ano.
A taxa de risco do país piorou bastante. Como resgatar a confiança?
A taxa de risco é uma percepção do mercado financeiro. Eu não posso concordar,
em nenhuma hipótese, que a manutenção da taxa Selic em 14,25% vai levar a
inflação a um patamar mais elevado. Apesar das previsões serem as mais
pessimistas possíveis, o Brasil tem uma estrutura sólida. Tem componentes
macroeconômicos que comportam crises.
Na sua opinião, qual o horizonte de recuperação da economia?
Eu não tenho dúvidas de que ainda em 2016, no segundo semestre, a gente retome o
crescimento. Pela própria determinação da presidenta Dilma, explicitada na
transmissão do cargo de ministro da Fazenda para Nelson Barbosa. Na reunião do
PDT, ela também foi muito enfática, afirmando que vamos voltar a gerar empregos
ainda este ano. A palavra-chave é crescimento. Agora, não se pode imaginar que,
com constante elevação da taxa de juros, seja possível voltar a crescer.
Mas segura a inflação...
Claro, se a inflação fosse de demanda. Mas ninguém está comprando. A indústria
está parada. Então não tem porquê aumentar a taxa Selic. Em algum momento, ela
tem que começar a retroceder. Em 2012, tivemos 7,5% de Selic, só que a pressão
foi muito grande do mercado financeiro. As grandes instituições privadas
continuaram com spread elevado e a presidenta colocou o Banco do Brasil e a
Caixa para brigar (reduzindo juros). O sistema entrou fortemente contra essa
ação. O que levou, em dois anos, a dobrar o patamar de juros. Isso só faz
aumentar a dívida pública.
Taxa de juros alta afasta investimentos em infraestrutura. Como atraí-los?
Taxas de juros altas só privilegiam a especulação. Mas o capital especulativo é
muito volátil. Claro que sempre vai ter a parcela que vai querer especular, é o
dinheiro mais fácil de ter retorno. Mas o capital verdadeiramente produtivo,
sabe que se tem um segmento que dá um retorno certo é o de telecomunicações.
Hoje, toda a tecnologia, inicialmente, passa por telecomunicações.
Qual a contribuição do Ministério das Comunicações para promover a retomada do
crescimento?
A visão que os investidores têm das telecomunicações no Brasil pode ajudar
muito. Todas as grandes empresas querem investir porque sabem que aqui têm um
mercado que pode dar um bom retorno para elas. O ministério tem que dar
segurança de que o Brasil tem condições de tomar decisões rapidamente. Fizemos a
consulta pública (para revisão do modelo de prestação de serviços) em prazo
exíguo. O novo marco regulamentário será um balizador de investimentos. Para se
ter ideia, o atual, de 1997, previa universalização da telefonia fixa e a grande
meta era levar orelhões às cidades pequenas. Hoje em dia, nem há uso de orelhão.
O objetivo é levar banda larga.
Como levar internet aonde as grandes operadoras não têm interesse de investir?
Vamos fortalecer os pequenos provedores de internet. Hoje, são mais de 5,5 mil
no país. Eles levam fibra ótica e fazem cabeamento em regiões remotas. São
pequenas estruturas, mas rentáveis. A grande dificuldade era acesso a crédito,
mas acertamos com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG) um
fundo garantidor de até R$ 400 milhões.
Vários estados aumentaram as alíquotas de ICMS sobre telefonia, internet e tevê
por assinatura. Isso não contraria o objetivo de universalização?
Não deixa de ser um elemento que dificulta. Temos tentado buscar ao máximo uma
desoneração do setor. Não uma desoneração absoluta, mas não ampliar a oneração.
A gente sabe que alguns estados estão aumentando as alíquotas e isso traz
maiores dificuldades.