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Leia na Fonte: Teletime
[11/07/16]
Representantes da sociedade civil criticam revisão do modelo e franquia na banda
larga - por Bruno do Amaral
A sexta edição do Fórum do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) em Porto
Alegre nesta segunda-feira, 11, abriu o debate com críticas contundentes ao
andamento das políticas públicas de inclusão digital na gestão do governo
interino de Michel Temer, bem como com duros ataques ao posicionamento do
Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e da Anatel
a respeito das propostas do novo modelo de telecomunicações. Sobretudo, a
avaliação dos bens reversíveis e as propostas de implantação de franquias na
banda larga fixa foram duramente rechaçadas pelos representantes da sociedade
civil no debate.
A conselheira do CGI.br Flávia Lefévre questionou a avaliação atual dos bens
reversíveis feita pelo governo. "O ministro (da Ciência, Tecnologia, Inovações e
Comunicações, Gilberto Kassab) fala de trocar bens reversíveis por banda larga,
atribuindo R$ 17 bilhões em vez dos R$ 120 bilhões que se falou até 2013 no
relatório da Anatel", afirmou. "Isso cria condições competitivas que privilegiam
as operadoras e pode inibir inovação e novos entrantes no mercado", afirma.
Entre as contribuições de entidades do terceiro setor, houve o pedido de
retomada de políticas públicas de universalização e inclusão digital,
discordância entre a proposta de um modelo de separação em camadas – de
prestação de serviço e de infraestrutura -, e críticas duras ao modelo de
franquia na banda larga fixa. A representante do coletivo Intervozes, Veridiana
Alimonte, afirmou que a prática teria relação com uma própria deficiência das
teles em implantar a infraestrutura adequada. "Em vez de entregar (o acesso
pleno), as operadoras limitam cada vez mais o que vendem, tornando a escassez da
falta de investimentos delas em um modelo de negócios", declara.
Alimonte destacou também que os bens reversíveis teriam sido subavaliados pela
Anatel, afirmando que a agência foi omissa na fiscalização. "Essa medida em
pacto com o governo interino é coroar o histórico de omissões. Na realidade, é a
doação de bens de interesse público avaliados muito abaixo do que valem para
empresas privadas investirem em si mesmas", criticou. Flávia Lefévre, do CGI.br,
adicionou, desta vez como representante da associação de consumidores Proteste,
que "é necessária a lista inicial dos bens para podermos avaliar, por temos de
ver o que foi vendido, quais novos investimentos foram feitos, o quanto desses
novos investimentos foram amortizados com a venda desses bens que antes eram
reversíveis, e depois deixaram de ser". Afirmou ainda que há realmente pouca
relevância da telefonia fixa, mas que isso não pode ser confundido com falta de
importância da infraestrutura da rede de acesso.
Telebras
A proposta da representante do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de
Itararé, Renata Mielli, é de se endereçar a exclusão social com políticas de
universalização da banda larga com um regime "pelo menos público-privado". Ela
afirma que as obrigações deveriam ser dadas a partir de metas principalmente
para regiões menos atendidas, garantindo modicidade tarifária por região, e
mantendo a fiscalização e regras para a prestação de serviço. Sugere ainda
fortalecer o papel da Telebras para reduzir assimetrias. "Não consideramos que
um País das dimensões do Brasil pode dispensar um agente público operando também
no atacado e no varejo."
Cláudio Marcelo Ciena, da Rede Sul e Internet Sul, destacou que os provedores
regionais já são responsáveis por mais de 30% do acesso fixo no Brasil, e que,
para esse grupo, iniciativas em regime público no atacado, como da Telebras, não
estão funcionando. "Apesar de estar bem intencionada, ter papel estratégico em
atacado, (a empresa) não tem sido efetiva, são poucos os provedores regionais
que conseguem fazer negócio com ela", alega. "Como mercado, pessoas e nação,
ainda precisamos amadurecer muito para ter um serviço público prestado como
privado."
Redação
O debate usou como subsídio um documento elaborado pela Câmara de
Universalização e Inclusão Digital do CGI.br, referente à proposta anunciada em
2015, pelo Executivo, para modificar o modelo de telecom, propondo a extinção do
modelo de regimes, com definição de critérios para que sejam regulados com mais
ou menos obrigações. Depende do grau de essencialidade para a sociedade; da
oferta de infraestrutura, competição e interesses econômicos; e da natureza dos
recursos utilizados (se privados ou públicos). Propõe também a antecipação dos
vencimentos dos contratos.
O documento da câmara cita também os serviços over-the-top (OTTs), chamando-os
de "serviços paralelos". Critica ainda especificamente ofertas como de VoIP,
dizendo que são "similar, senão idêntica, às já existentes ofertas de
telecomunicações" e que, por isso, "não podem ser enquadrados como Serviços de
Valor Adicionado (SVA)". Veridiana Alimonte, do coletivo Intervozes, criticou a
redação, afirmando que usa "termos pejorativos como 'serviço hospedeiro', quase
como pirata". Ela sugeriu a retirada do item no documento.