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Leia na Fonte: Convergência Digital
[17/12/18]
Anatel: o mau sinal das mudanças imprevistas - por Samuel Possebon
A manobra brusca de última hora do governo em conjunto com o presidente do
senado Eunício Oliveira para a indicação de um nome para o conselho diretor da
Anatel às vésperas do recesso Legislativo e a duas semanas do fim do governo
repercutiu da pior maneira possível no setor de telecomunicações. Eunício já foi
ministro das Comunicações no governo Lula, mas durante seu mandato como chefe do
Senado, não mostrou nenhuma vontade de avançar em qualquer um dos temas do
setor. A condução que adotou da reforma do mercado regulatório das
telecomunicações foi a pior possível: manteve o processo parado por dois anos,
sem que ele tivesse chance de ser aprovado ou aprimorado com mais debates. Deu
sinais trocados de que avançaria quando, na verdade, parecia estar decidido a
não fazer nada. Mostrou pressa apenas na hora de articular um substituto para
Otávio Rodrigues, que assumirá cadeira no Conselho Nacional do Ministério
Público em 2019. Sobre Vicente Aquino, que assumirá a vaga caso seja aprovado
pelo Senado, sabe-se apenas que tem algum trânsito político (atuou na campanha
de Jair Bolsonaro no Ceará e advoga na área eleitoral) e tem alguma experiência
em questões de radiodifusão, mas carece de experiência no setor de
telecomunicações.
O Palácio do Planalto sob a gestão de Michel Temer também não fecha o mandato
com saldo melhor. Há quase dois anos segura o decreto de regulamentação do Plano
de Internet das Coisas, deve soltar o decreto de Políticas de Telecomunicações
aos 48 do segundo tempo e, talvez, solte o Plano Geral de Metas de
Universalização, mas sem responsabilidade de implementar as políticas daí
emanadas e que podem muito bem ser totalmente alteradas pelo novo governo. Que
tampouco disse ainda o que pretende fazer na pauta setorial.
Todo o discurso de Temer de tornar o mercado de telecomunicações menos
burocrático e mais propício a investimentos soa agora apenas como conversa de
início de governo, sem nenhum resultado prático. O governo mostrou-se igualmente
inefetivo em atuar junto ao Congresso por uma reforma na legislação das agências
reguladoras que desse um pouco mais de previsibilidade sobre a troca de
dirigentes (como se vê agora), e ainda não conseguiu apresentar uma solução para
a delicada questão da autoridade responsável por fazer cumprir o que prevê a Lei
de Proteção de Dados Pessoais.
A Anatel tem desafios críticos para o ano de 2019. Precisará iniciar a discussão
sobre o encerramento do modelo atual, com o cálculo do valor dos bens
reversíveis, e a transição para um novo modelo. Sem falar no acompanhamento da
situação de duas concessionárias que estão passando por períodos críticos (Oi e
Sercomtel) e um cenário de iminente consolidações. Além disso, a Anatel
precisará elaborar os projetos para suprir as lacunas do Plano Estrutural de
Redes e ajudar a destravar as imensas dificuldades municipais de implantação de
redes.
Terá ainda que se planejar para a regulamentação do mercado de 5G (que traz
desafios completamente novos, como slicing de redes), planejar a licitação de
espectro para a nova geração. Começará o ano com um conselho diretor ainda pouco
familiarizado com a pauta setorial, mas com grandes responsabilidades e uma
complicada agenda de curto e médio prazo. A julgar pelos sinais do fim do
governo, as coisas começam complicadas em 2019.