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Leia na Fonte: Teletime
[03/10/19]
Conselheiro diz que TCU colocou papel da Anatel em xeque - por Samuel
Possebon
O conselheiro da Anatel, Aníbal Diniz, cujo mandato termina no próximo dia 4 de
novembro, fez duras críticas ao Acórdão 2.124/2019 do Tribunal de Contas da
União, que trata da questão dos bens reversíveis. "Não posso me calar diante de
uma decisão que coloca em xeque essa casa e nossas atribuições", disse o
conselheiro. Diniz disse que a decisão do TCU é "inaplicável". "Temos um legado
a defender, que começou a ser construído por Renato Guerreiro (primeiro
presidente da Anatel). Estamos aqui para representar esse legado construído. Uma
atitude omissa será muito ruim. Me contraponho terminantemente aos termos desse
acórdão e sugiro que a área técnica não jogue no lixo a sua expertise e se dê
por satisfeita (com o acórdão)". Para o conselheiro, "o TCU cuida de contas, e a
regulamentação do setor de telecomunicações cuida a Anatel. Essa é a minha
posição e espero da procuradoria uma posição altiva, senão teremos que contratar
advogados pessoais para marcar a nossa posição. O acórdão do TCU não pode ser a
última palavra sobre a questão de bens reversíveis", disse o conselheiro. Ele
citou ainda manifestação do ministro Bruno Dantas, do TCU, em artigo publicado
na imprensa, em que chamava atenção justamente para o risco de infantilização
dos reguladores. "Deve haver equilíbrio entre a gestão e seu controle, sobre
pena de criarmos no país um apagão decisório, despertando nos gestores o
comportamento de crianças com medo do pai", disse Diniz. Para ele, se a Anatel
não tomar uma posição agora, "terá muita dificuldade de fazê-lo no futuro".
Aníbal reconheceu que a agência errou ao não ter se posicionado antes sobre um
entendimento mais claro e definitivo em relação aos bens reversíveis.
"Deveríamos ter definido. Diante de tal espaço, e assumo essa culpa como
integrante da agência, o TCU considerou por bem ocupá-lo, mas deveria ter
observado as atribuições da agência".
No momento mais delicado de sua fala, e que abriu espaço para uma intensa
discussão entre os conselheiros, Aníbal fez também uma crítica indireta ao
presidente da Anatel, que não fez a defesa do tema junto ao TCU na sustentação
oral que estava prevista, e também aos técnicos da agência reguladora que
trataram o assunto apenas com a presidência da casa. "Esse é um órgão colegiado,
coletivo, e os superintendências têm inegável competência técnica. Mas o
currículo dos superintendentes pode ficar manchado ao só se reportarem ao
presidente e não ao conjunto de conselheiros. Um assunto dessa magnitude deveria
ser assunto de reunião permanente. Não há nada mais importante do que deixar
claro de quem e a responsabilidade".
Divergências
Leonardo Euler, presidente da Anatel, manifestou-se de maneira diferente e
mostrou descontentamento com o posicionamento público do conselheiro Aníbal
Diniz. "Não existe relação de subordinação da Anatel em relação ao TCU. Existe
diálogo. A meu ver, a exposição desnecessária não favorece o diálogo. O diálogo
não se constrói dessa forma, com agressividade". O presidente da agência
ressaltou que teria outras discrepâncias em relação a entendimentos do Tribunal
de Contas da União. "Vossa excelência apregoa o acórdão como um desastre.
Entendo que o TCU olhou para um controle do passado histórico da agência, a
forma de acompanhamento dos bens reversíveis. No meu entendimento, a
interpretação feita vai contra o que foi preconizado na LGT. É uma divergência
de motivação, eu tenho essa visão, mas outros membros desse colegiado tiveram
uma posição antagônica. Presidentes não julgaram ou julgaram contra a alienação
(de bens reversíveis). Podemos ter os próprios argumentos, mas não podemos ter
os próprios fatos", disse Euler. Para ele, o objeto da privatização foi a
transferência do controle acionário, e não a transferência de bens. "Havia um
contrato de exploração de um serviço, e esse é o objeto do contrato de
concessão", disse, lembrando que a agência sempre teve entendimentos divergentes
sobre esta questão.
Em relação a acatar ou não decisões do TCU, Euler lembrou ainda que em alguns
casos ele foi inclusive contrário à posição majoritária do conselho em questões
que envolviam o TCU: "Fomos voto vencido num TAC de R$ 3,2 bilhões, em que o
conselho em sua maioria entendeu que a questão estava muito tumultuada em
relação a uma decisão", disse, relembrando o voto do TAC da Telefônica, em que a
ele e o conselheiro Emmanoel Campelo votaram pela celebração do acordo.
Leonardo Euler disse acreditar que a questão dos bens reversíveis terá novos
desdobramentos. "Sou otimista porque mesmo que haja uma discrepância da minha
visão e a do acórdão, temos agora o PLC 79, que pode ser sancionado, e que traz
uma visão muito mais clara. Defendo que a gente mantenha o diálogo com os órgãos
de controle. Mas esse debate tem que ser com técnica, não apenas em
manifestações que possa gerar constrangimento".
O procurador da agência, Paulo Firmeza, também se manifestou, dizendo que a
Procuradoria Federal Especializada tem "feito reuniões na agência e na AGU para
analisar todos os possíveis cenários à luz do regramento. Estamos acompanhando o
caso e avaliando todos os cenários. Mas do ponto de vista interno", disse,
indicando que não pretende tratar de forma pública a questão.
Para o conselheiro Vicente Aquino, há críticas do Tribunal de Contas que
procedem. "Acho que a agência tem que fazer uma autocrítica, é falha, erra
mesmo. Vejo isso em muitos aspectos. Em muitos pontos eu estou de pleno acordo,
embora não seja a posição do meu gabinete. Mas não concordo com o TCU quando ele
tenta ser regulador. O conselheiro Aníbal está coberto de razão quando o TCU
invade a nossa competência discricionária. Apesar de não conhecer esse acórdão
no TCU em profundidade, conheço o tribunal de outros carnavais. Tem razão (o
conselheiro Aníbal) quando sugeriu que isso deve ser estudado na questão de
invasão de competência. Nas demais questões, ao contrário, temos que exaltar as
manifestações do TCU, fazer coro e autocrítica", disse.
Para o conselheiro Emmanoel Campelo, é curioso que o acórdão do TCU tenha sido
aprovado no mesmo dia em que foi aprovado no PLC 79. "Não acho que tenha sido
não por acaso. Mas o próprio relator (do TCU) declarou que acha difícil ser
aplicado (o acórdão). Com o PL muda bastante o cenário. Sobre bens reversíveis,
tivemos uma imensa dificuldade de tratar de casos concretos". Campelo lembrou
que recentemente as superintendências tomaram várias decisões sobre bens
reversíveis "mas agora com o TCU querem rever". Ele lembrou também que a Anatel
está discutindo a revisão do regulamento de bens reversíveis, sobre a relatoria
de Vicente Aquino. "Se a gente tivesse deliberado há um ou dois anos, a decisão
do TCU não teria sido tão desastrosa. Mas o mundo não vai acabar na Anatel".
Durante as discussões, ficou evidenciada uma reunião entre os conselheiros e
técnicos da agência em que o superintendente de controle de obrigações, Carlos
Baigorri, teria se manifestado pelo entendimento de que a Anatel, agora, seguirá
o entendimento do Tribunal de Contas da União.