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Leia na Fonte: Teletime
[17/04/13]
Princípio de neutralidade busca evitar abusos concorrenciais, diz ex-conselheiro
do Cade - por Helton Posseti
A garantia da neutralidade de rede é a condição necessária para que práticas
discriminatórias de acesso não sejam adotadas pelas teles no campo da Internet,
assim como aconteceu em outras áreas. A constatação é do ex-conselheiro do Cade,
Olavo Chinaglia, que participou de seminário promovido pela Associação
Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) e pela FGV sobre o Marco
Civil da Internet em Brasília.
Conforme entendimento do Cade à época, ficou provado que as concessionárias de
telecomunicações praticavam preços maiores para as concorrentes do que os preços
cobrados das empresas do grupo no acesso à rede local – mercado conhecido como
Exploração Industrial de Linha Dedicada (EILD). As provas foram colhidas das
informações que as concessionárias forneciam para participar de licitações, em
que era exigido que elas informassem os seus custos.
Chinaglia menciona também um caso, mais antigo, de suspeita de práticas de
condições não-isonômicas, mas que dessa vez o Cade não se convenceu de que havia
provas suficientes para a condenação. Trata-se da interconexão da Embratel com
as concessionárias locais para que a empresa pudesse originar e entregar
chamadas de longa distância. A suspeita era de que as concessionárias locais
dificultassem a vida da Embratel, já que também ofereciam serviços de longa
distância.
Outro caso, esse ainda não julgado, em que pode ser constatada a existência de
preços discriminatórios, é na interconexão móvel, a VU-M. Segundo Chinaglia, sem
citar os envolvidos, já há um parecer da Secretaria de Direito Econômico (SDE)
pela condenação. Para o ex-conselheiro do Cade, "a discussão da questão de
neutralidade pode ser comparada de forma plena com esses casos", já que há a
possibilidade da empresa se beneficiar indevidamente da sua posição dominante em
mercados verticalmente integrados.
Olavo Chinaglia pondera, entretanto, que a neutralidade não garante que as donas
das redes se abstenham de adotar esse tipo de prática. "A consagração da
neutralidade é condição necessária, mas não suficiente. Será necessário um 'enforcement'
das autoridades, mas sem esse princípio não há o que se exigir", diz ele.
Além da questão concorrencial e econômica, a neutralidade da rede é importante
para que a inovação tenha condições de prosperar. Para o advogado Carlos Afonso,
professor da FGV-Rio, sem a neutralidade a Internet será mais ou menos como a TV
por assinatura, em que são oferecidos pacotes de conteúdos, cada um com um
preço. "Será que a gente quer a Internet fracionada em pacotes de conteúdo tal
qual a TV por assinatura?", pergunta ele. "Esse tipo de modelo de negócio parece
restringir, você perde a diversidade da Internet", completa.
Afonso também mencionou casos de países não-democráticos como a China, os
Emirados Árabes e a Arábia Saudita, que filtram resultados de buscas. Na China,
quando se busca pelas imagens da Praça da Paz Celestial, por exemplo, não
aparece a foto clássica do estudante que se postou na frente dos tanques do
Exército chinês.
Outros países avançam na garantia da neutralidade, como a Holanda, que proibiu a
prática do Deep Packet Inspection, usado pelas provedoras de conteúdo para
identificar preferências do usuário e, assim, direcionar publicidade. No Chile,
a lei proíbe o "bloqueio arbitrário" de pacotes, mas o uso da palavra
"arbitrário", segundo ele, abre uma brecha para que bloqueios sejam realizados
com uma justificativa qualquer.