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Leia na Fonte: Agência Câmara
[07/08/13]
Relator não aceita negociar neutralidade de rede no marco civil da internet
Operadoras de telecomunicações são contrárias ao dispositivo do projeto, que as
impede de oferecer ao consumidor pacotes com serviços diferenciados. A matéria
ainda causa divergências entre deputados.
O relator da proposta do marco civil da internet (PL 2126/11), deputado
Alessandro Molon (PT-RJ), afirmou nesta quarta-feira (7) que o princípio da
neutralidade da rede contido no projeto é “inegociável”. Em audiência pública na
Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática sobre o projeto,
Molon ressaltou que o princípio impedirá as operadoras de telecomunicações de
ofertarem aos usuários pacotes com serviços diferenciados – por exemplo, só com
e-mail, só com acesso a redes sociais ou incluindo acesso a vídeos. A redação
atual do dispositivo é um dos pontos polêmicos da proposta, que vêm impedindo o
acordo para a votação em Plenário.
“Povão tem direito a e-mail, mas não ao YouTube, não a usar serviços de voz
sobre IP (como Skype)?”, questionou Molon. “A internet tem que continuar sendo
livre e aberta”, completou. Ele esclareceu que o princípio não impedirá a venda
de pacotes com velocidades diferenciadas.
Restrição
O diretor do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel
Celular e Pessoal (SindiTelebrasil), Alexander Castro, defendeu mudança na
redação do artigo que trata da neutralidade.
O texto atual prevê que as operadoras tratem de forma isonômica quaisquer
pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e destino, serviços,
terminal ou aplicativo. Castro defendeu que a palavra “serviços” seja excluída
do dispositivo, para não restringir os modelos de negócios das empresas. “Devem
poder ser oferecidos serviços diferentes para o usuário sim, de acordo com o
pacote ofertado”, opinou. “O usuário deve ser livre e soberano para contratar o
que melhor lhe convier.”
Já a diretora de Comunicação do Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC), Renata Mielli; e a advogada do Instituto Brasileiro de
Defesa do Consumidor (Idec), Veridiana Alimonti, defenderam a manutenção do
texto atual sobre neutralidade e criticaram a possibilidade de o artigo ser
alterado por pressão das empresas de telecomunicações. Conforme Renato, o
princípio é importante para garantir que a internet continue um espaço
multilateral, colaborativo, com livre circulação de ideias.
Segundo Molon, os provedores de conexão não querem a neutralidade da rede, mas
os 80 milhões de internautas a querem. “A Câmara vai ter que decidir se vai
atender às preocupações de um setor ou se vai atender aos internautas”, afirmou.
“Acho muito difícil que se encontre um ponto de equilíbrio, que os usuários
aceitem e que as empresas achem bom para os seus negócios”, complementou. Para
ele, adiar a votação, não vai resolver o problema.
Privacidade e liberdade de expressão
O relator disse que também são “inegociáveis” os outros pilares do projeto, além
da neutralidade da rede: liberdade de expressão e privacidade. Conforme o
relator, a privacidade do internauta está ameaçada hoje. “A tecnologia permite
hoje um nível de controle do indivíduo que é muito arriscado para a democracia”,
salientou. “O marco civil não impede práticas de espionagem, mas avança na
proteção da privacidade, tornando certas práticas ilícitas”, completou.
Molon ressaltou que hoje também não existem regras que definem a
responsabilidade do provedor de aplicação sobre comentários publicados pelos
usuários. “Hoje quem decide é o Judiciário, e as decisões judiciais são
divergentes”, disse. “O marco civil deixa claro que, a partir do momento em que
houver ordem judicial para remover o conteúdo, a responsabilidade sobre ele
passa a ser também do provedor”, destacou.
O PL 2126/11 tramita apensado ao PL 5403/01, do Senado.