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Leia na Fonte: Convergência Digital
[21/08/13]
Anatel e MCTI divergem, em público, sobre governança da Internet - por Luiz
Queiroz
Com a presença de um único senador, a Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado
debateu nesta terça-feira, 20/08, o processo de governança da Internet
brasileira. Foram convidados representantes do Nic.br e do Comitê Gestor da
Internet no Brasil, da Anatel, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
além do INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. O que se viu -
foram mais de duas horas de sessão - foi uma disputa travada pelo controle da
Internet entre a Anatel - órgão vinculado ao Ministério das Comunicações - e o
MCTI. Mas essa disputa não necessariamente passa pelo atual modelo de governança
dela.
O portal Convergência Digital já havia antecipado certa estranheza com relação à
forma de convocação da CCT do Senado para debater a "governança da internet
brasileira", uma vez que o atual modelo tem dado certo e, inclusive, sendo
elogiado em todo o mundo pela forma democrática como o sistema é gerido entre
governo, academia, setor industrial e a Sociedade Civil, com ninguém
efetivamente tendo maioria no processo decisório.
A audiência pública mostrou que há uma nítida confusão entre os senadores, com
relação ao que seja a governança da Internet executada pelo CGI.br, com a defesa
nacional contra espionagem e proteção e soberania de dados, além dos temas que
estão sendo debatidos na Câmara dos Deputados como neutralidade de rede e
atribuição de nomes de nomes de domínio e suas implicações com a propriedade
industrial e intelectual.
A disputa intragovernamental - exposta na sessão - tem muito mais a ver com o
item "neutralidade de rede" e os atuais princípios que hoje regem a governança
da Internet no Brasil. A depender do que for aprovado pelo Congresso Nacional em
relação ao Marco Civil da Internet, o Brasil estará sinalizando ao mundo que
estará mudando o pólo de controle das comunicações pela rede mundial de
computadores.
Controle da Internet
Na audiência, o conselheiro da Anatel, Marcelo Bechara, seguiu a cartilha que
vem sendo adotada pelo ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, de qualificar
a Internet como "um grande negócio". Mas, como tal, são necessárias ações
governamentais que disfarçam essa meta, sob o argumento de garantir a "proteção
da rede" contra invasores e assegurar a privacidade dos usuários. "A internet é
um lugar onde as pessoas fazem negócios, são ofendidas e ofendem, cometem
crimes. A aprovação do Marco Civil da internet é fundamental para que isso possa
ser feito sem danos - alertou.
Porém o cerne desta defesa é o discurso do "equilíbrio financeiro da rede", no
qual as empresas de telefonia fazem pressão contra a proposta de neutralidade
estabelecida no Marco Civil da Internet, ainda em análise na Câmara dos
Deputados. As empresas querem a gestão do tráfego mundial de Internet, como
forma de venderem pacotes de serviços de acesso diferenciados, privilegiando a
quem puder pagar mais. No contraponto, o relator do projeto, deputado Alessandro
Molon (PT/RJ), assegura no texto do Marco Civil da Internet que a rede é neutra
e que ninguém será discriminado nela por questões financeiras.
Diante do impasse que vem ocorrendo na definição deste critério no Marco Civil
da Internet, a Anatel vem agindo em duas frentes. Ao mesmo tempo que tenta
convencer a presidente Dilma Rousseff que o controle da rede deve ser exercido
pela agência, através da regulamentação de eventual neutralidade da rede que
sair do Congresso Nacional. No plano internacional já atuou sugerindo que a
União Internacional de Telecomunicações assuma para si esse papel de gestão do
tráfego na rede.
A segunda frente seria justamente "avançar" no atual modelo de governança que
vem sendo executado pelo Comitê Gestor da Internet, abrindo espaços para uma
maior participação governamental, empresarial e da sociedade civil, porém, com o
Ministério das Comunicações no comando do organismo, que hoje é controlado pelo
Ministério da Ciência, Tecnolologia e Inovação (MCTI). "O que eu defendo é uma
evolução do processo de governança. "Eu acho que o governo tem de ser minoria",
disse Bechara, para em seguida defender a presença do Ministério da Justiça.
Na mesma audiência, defendeu a separação entre provedores de conteúdo (ISPs) e
os provedores de infraestrutura (empresas de telefonia) entre os representantes
do Comitê Gestor da Internet. E como ingrediente político, o conselheiro Marcelo
Bechara, disse que defende, inclusive, a participação de representantes do
Congresso Nacional, uma forma de tentar cooptar os senadores para a discussão
sobre mudanças no atual modelo de governança da Internet Brasileira.
"Oposição"
O representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Rafael Moreira,
fez questão de abrir a sua apresentação se dizendo frontalmente contra a
proposta do conselheiro da Anatel e discordando da forma como Bechara tentou
misturar os assuntos governança da rede com necessiade de defesa cibernética.
"Governança da Internet é uma coisa, segurança da rede com equipamentos seguros
e análise de dados, através de uma lei de proteção desses dados é outra", disse.
Moreira fez uma ampla defesa do atual modelo de governança da Internet, através
do atual Comitê Gestor. Explicou que, quanto ao registro dos domínios, o sistema
funciona com excelência, mas ainda é preciso avançar na parte de segurança e
privacidade. O Brasil, destacou, é o único país do Mercosul que não tem uma lei
específica para proteção de dados pessoais na internet.
Moreira explicou que na Internet o governo, pelo menos da parte do MCTI, tem
procurado atuar em três eixos distintos, por meio de três marcos legais:
1 - o Marco Civil da Internet "na concepção original daforma como ele foi
concebido" (apoiado pelo atual CGI.br);
2 -Uma lei de proteção de dados que envolva a soberania dos mesmos,
transferência internacional desses dados, privacidade e a presença de uma
autoridade reguladora nos mesmos moldes da União Européia e;
3 - Direitos de Propriedade Intelectual na rede.
O representante do MCTI também deixou claro que o órgão está se posicionando
pela neutralidade de rede defendida pelo relator do Marco Civil da Internet,
deputado Alessandro Molon, quando destacou que a discussão está travada na
Câmara por conta de uma disputa comercial entre as empresas de telefonia e os
provedores, com apoio da sociedade civil. Segundo ele, esse embate também
acontece globalmente, uma vez que a própria União Internacional de
Telecomunicações (UIT) tenta reivindicar o controle da rede.
A CDTV, do Portal Convergência Digital, gravou os principais trechos do debate
travado entre as duas autoridades governamentais sobre o modelo de governança da
Internet. Assistam as apresentações do conselheiro Marcelo Bechara e do
representante do MCTI, Rafael Moreira. O CGI tem sido uma pedra no sapato do
Minicom ao defender uma rede neutra e livre do controle governamental, posição
que encontra amparo entre os membros do MCTI e tem sido o ponto de impasse na
aprovação do Marco Civil da Internet pelo Congresso, devido à pressão das
empresas de telefonia nas diversas bancadas dos partidos na Câmara.
Do debate ainda participaram o diretor-presidente do Núcleo de Informação e
Coordenação do Ponto BR, Demi Getschko, e o presidente do Instituto Nacional de
Propriedade Industrial (INPI), Jorge de Paula Costa Ávila, que se limitaram a
explicar o funcionamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil e a atribuição
de nomes de domínio e as eventuais salvaguardas dos mesmos com relação à
propriedade industrial.