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Fonte: Convergência Digital
[28/08/13]
Neutralidade de rede - por João Moura, Presidente Executivo da TelComp
João Moura é Presidente Executivo da TelComp -Ass. Bras. Operadoras de
Telecomunicações Competitivas
Notícias recentes sobre possível espionagem eletrônica realizada pelos Estados
Unidos nas comunicações de brasileiros fez sair da gaveta o projeto do Marco
Civil da Internet, em tramitação no Congresso há mais de dois anos. Embora o
Marco Civil não venha resolver as vulnerabilidades das redes de comunicações a
ações de espionagem, a discussão foi retomada na tentativa de melhor definir os
direitos dos usuários da internet com relação ao acesso e uso de informações
extraídas de suas comunicações, por provedores de conteúdo e por operadoras de
telecomunicações.
Na versão atual do Marco, as provedoras de aplicações (como serviços de busca e
redes sociais) têm o direito de capturar informações, a partir da análise das
comunicações dos usuários (seus emails, sites visitados, etc.), e utilizá-las
para direcionar publicidade e com isso auferir receitas. Por outro lado, as
operadoras de telecomunicações não poderiam fazer o mesmo nem criar novos
modelos de prestação de serviços ou formas alternativas de cobrança.
As teles pleiteiam o reconhecimento do “direito” de oferecerem serviços de
acesso à internet com qualidade assegurada ponto-a-ponto (em adição aos serviços
tradicionais com base no melhor esforço) e também o direito de realizar acordos
comerciais específicos com provedores de conteúdo. A preocupação das teles é que
o conceito atual de “neutralidade de redes” impeça a criação de novos modelos de
negócios, através dos quais poderiam gerar novas receitas para fazer face às
crescentes demandas de investimentos em rede. Entenda-se por neutralidade o
gerenciamento do tráfego sem interferência do operador de telecomunicações,
exceto por situações técnicas específicas.
Naturalmente os provedores de aplicação preferem manter as teles à distância
quando se fala em competição. As receitas de serviços tradicionais de
telecomunicações são declinantes em todo o mundo e as necessidades de
investimentos em novas redes cada vez mais altas. Portanto, novos fluxos de
receitas terão que ser criados e nenhuma possibilidade razoável pode ser
descartada, uma vez que o simples aumento de preços dos serviços não é solução.
Não há razão para que no mundo dinâmico da internet existam restrições à criação
de novos modelos de prestação de serviços de acesso. Não interessa a ninguém -
muito menos às teles – inibir o surgimento de novos criadores de conteúdo. Pelo
contrário, mais e melhores atores são bem vindos, para que a internet continue
sua trajetória de transformações espetaculares. É aí que está a beleza do modelo
da internet que precisar ser preservado. Entretanto, a sustentabilidade
econômica das redes não pode prescindir de recursos que poderiam ser gerados por
modelos alternativos de remuneração de uso.
A flexibilidade deve ser um princípio, quando se fala em internet. Abusos,
condutas anti-competitivas e outras ações que prejudiquem os direitos dos
usuários e o desenvolvimento da rede devem ser combatidas rigorosamente pelo
regulador de telecomunicações e órgãos de defesa econômica. O antídoto natural
para a possibilidade de práticas abusivas por parte das operadoras de
telecomunicações é a existência de ambiente competitivo saudável. Assim,
condutas inapropriadas podem ser percebidas rapidamente e os usuários terão
sempre opção de migrar para operadoras alternativas, criando desestímulo natural
aos possíveis infratores.
No Brasil ainda temos que avançar muito no desenvolvimento da competição em
telecomunicações. São vários competidores, é verdade, mas ainda não temos
competição ampla no sentido de garantir ao usuário a possibilidade de trocar de
fornecedor quando quiser, sem custos altos ou outros inconvenientes.Se os
operadores de telecomunicações no Brasil querem ter legitimidade para pleitear
flexibilidade para os seus modelos de negócios, devem cooperar para que a
competição no setor evolua rapidamente.